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Marcia Tiburi lança livro no acampamento Lula Livre e celebra luta pela verdade

Em feriado de sol, céu azul e muitos encontros, famílias e amigos aproveitam o dia conhecer ou retornar à vigília democrática. "É uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez e amor", diz Marcia

Publicado: 22 Abril, 2018 - 10h52

Escrito por: Cláudia Motta, para a RBA

Gibran Mendes/CUT-PR
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Há pouco mais de duas semanas, a artista plástica e professora de Filosofia, Marcia Tiburi, foi impedida de lançar seu livro Feminismo em Comum, em Curitiba. Ameaças virtuais à escritora levaram ao cancelamento do evento que seria realizado em 5 de abril.

Mas neste sábado (21), feriado de Tiradentes, Marcia fez o lançamento para um público ainda maior, no Acampamento Lula Livre. Em dia de sol forte e céu azul, mais de 300 volumes foram vendidos e uma imensa fila foi formada para os autógrafos.

Ela permaneceu por cerca de três horas na vigília e conduziu o “boa tarde” ao ex-presidente, diante da sede da Polícia Federal da capital paranaense, que o aprisiona onde desde 7 de abril. “A gente deve vir pra cá com nossos esforços, porque nossos esforços pessoais, hoje, representam nosso desejo de política e democracia no Brasil. Isso é uma manifestação de amor, solidariedade, lucidez, amor ao conhecimento.”

Gibran Mendes/CUT-PRGibran Mendes/CUT-PR

Como professora de Filosofia, Marcia Tiburi diz sentir-se muito próxima do presidente Lula. “Quando ele diz que precisamos restituir a verdade no Brasil, sinto-me tomada por essa ideia. É disso que se trata desde que a filosofia existe na história: a gente precisa lutar pela verdade, bancar a verdade, se comprometer com a verdade. Eu estou buscando a verdade.”

Gente que chega, que volta, que fica

No dia em que o lema "Liberdade ainda que tardia" (Libertas quae sera tamen, da bandeira mineira) é tão lembrado, milhares de pessoas circularam pela Praça Olga Benário – nome dado ao entroncamento de ruas do bairro Santa Candida onde se concentram atos pela liberdade de Lula e em defesa da democracia. Algumas vindas de longe, outras, ali de Curitiba mesmo, retornando ao acampamento.

A professora Lirani Maria Franco, foi umas das manifestantes atingidas pelas balas de borracha da polícia, na noite da chegada de Lula a Curitiba. “A primeira sensação de reencontrar todo esse movimento aqui, todas essas pessoas, é muito interessante. Há 15 dias estivemos aqui também nessa reunião, de muitas pessoas se encontrando, na defesa dos direitos, da democracia, num espaço aberto, de unidade, de amor”, diz, lembrando a violência desmedida contra quem estava “acolhendo o ex-presidente para dizer que ele não estava só”.

“Todos nós sem armas e, sem esperar, de repente sinto uma bala na minha perna, o sangue, a dor, e nem sequer sabia o que estava acontecendo. Então, voltar hoje e ver que o acampamento, a vigília se manteve, e o que eles tentaram fazer não teve sucesso. Pelo contrário, deu mais força, demonstrou que nós temos de ter coragem, resistência. Porque essa é a nossa luta.”

Também professor de Filosofia, Sebastião Rodrigues Gonçalves viajou por 12 horas, desde Foz do Iguaçu, para prestar sua homenagem a Lula.

“A história do povo que está do lado do Lula neste momento coincide com minha história. Um sujeito que saiu da roça, fui operário da construção civil, sofri pra estudar, chegar no ensino superior”, afirma o professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). “Sou um comunista científico, não um comunista filiado a esse ou aquele partido. Quem quer o bem comum é o comunista: é o sujeito solidário, que sofre.” 

Recarga num lugar bacana de se viver

O cozinheiro Paulo Pena, 62 anos, e a professora aposentada Joana Amélia Santana, 67, já foram casados. Hoje seguem grandes amigos e estavam juntos no acampamento no sábado (21).

“Todo dia que a gente vem aqui, seja feriado ou não, é uma recarga”, afirma Paulo. “É o lugar mais alegre, mais seguro, mais bacana de se viver, porque a realização de sonhos. As pessoas são todas iguais, disponíveis. Todo mundo fala com todo mundo, ninguém tem medo de ninguém. É a vivência da utopia.”

Joana concorda e acrescenta: é a prática do coletivo. “Saber que o coletivo pode ser real e vai contra toda essa ideia do individualismo, do neoliberalismo que afoga, sufoca as pessoas. No coletivo, como ela descreve, é a vida do amor, como a Marcia falou aqui hoje. A vida do afeto. As pessoas dependem, sim, umas das outras, são necessárias umas às outras.

E isso a gente aprende cada vez mais aqui no acampamento”, diz, destacando o “pessoal do MST”. “Eles lutam muito mais do que nós que moramos nas nossas casas, nossos apartamentos. Eles lutam ferozmente por essa verdade, por essa necessidade de acesso a que todos têm direito, a justiça.”

Reprodução RBAReprodução RBA