Margaridas de diversos sotaques chegam à Brasília em busca de transformações
Cem mil mulheres ocupam a capital federal e vão marchar nesta quarta (14) em defesa de direitos da população do campo
Publicado: 13 Agosto, 2019 - 17h45
Escrito por: Érica Aragão
Não para de chegar mulheres de todas as regiões do país no Pavilhão do Parque da Cidade em Brasília. Na bagagem elas trazem colchões, cobertores, poucas peças de roupas e muita esperança de mudanças na vida e no trabalho. São milhares de camponesas e mulheres da cidade, das águas e das florestas que vieram, com muito sacrifício, participar da 6º Marcha das Margaridas, em Brasília, nesta quarta-feira (14).
A pescadora Lilane Rosa Coelho saiu segunda-feira (12), às 6h40 da manhã do sul da Bahia, em Canavieiras, e chegou na capital federal na tarde desta terça-feira (13). Mais de 30 horas de viagem não mexeu um milímetro na determinação desta baiana com muita disposição de luta. Ela nem pestanejou ao dizer por que veio à Brasília.
“Vim reivindicar nossos direitos”, afirmou Lilane, lembrando que a vida de pescador no Brasil está cada dia mais difícil e que é preciso garantir minimamente as políticas públicas conquistadas para manter viva a categoria.
“A gente não está mais recebendo Seguro-Defeso e isso está fazendo com que as necessidades do nosso povo só aumentem”, disse se referindo ao benefício destinado aos profissionais que ficam impossibilitadas de trabalhar no período de defeso, meses em que a pesca para fins comerciais é proibida devido a reprodução dos peixes.
A agricultora familiar, Francisca da Silva, que veio de Alto da Parnaíba, no Maranhão, contou que há quatro anos está construindo a Marcha das Margaridas no seu município com esperança de um mundo melhor para as trabalhadoras.
Segundo ela, a violência contra a mulher e o feminicídio são realidades que só aumentam no país, principalmente contra as mulheres do campo e “não é só isso” diz ela, alertando a repórter que tinha outras coisas muito importantes para dizer.
“A reforma agrária e as políticas para as camponesas estão paradas com este governo e estamos aqui para denunciar estes ataques contra quem produz alimentos saudáveis para a população”, afirmou Francisca se referindo aos dados da extinta Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), que mostram que mais de 70% dos alimentos que chegam às mesas do povo brasileiro são da agricultura familiar.
“Viemos em busca de melhorias para nosso povo, que só quer saúde, educação, trabalho e casas dignas. As margaridas vão florir Brasília e semear a esperança de milhares de mulheres que não puderam estar aqui”, finalizou Francisca.
Tanto dentro quanto fora do Pavilhão do Parque da Cidade têm centenas de barracas e de colchões. As margaridas estão dormindo no mesmo espaço das atividades da Marcha. Num canto as mulheres ensaiam batucadas e músicas, fazem faixas, distribuem bonés e camisetas de várias entidades.
A jovem camponesa de 21 anos que veio de Alagoa da Roça, em Pernambuco, Gabriela Fernandes, disse que veio se juntar a estas mulheres guerreiras para construir um mundo melhor. Gabriela disse que a principal preocupação dela é com o êxodo rural e que é preciso políticas públicas para que a juventude permaneça no campo.
“Muitos filhos e filhas dos agricultores familiares sem expectativas de melhoras no campo acham que nas cidades farão um futuro melhor e não é isso. O futuro melhor será no campo, continuando a vida de seus familiares e produzindo alimentos para a classe trabalhadora”, disse Gabriela. Segundo ela, as mulheres rurais que estão em Brasília também lutam por políticas públicas que deem estrutura política e econômica para que a juventude camponesa permaneça no campo.
A agricultora urbana de Pernambuco, Marinalva da Costa, estava assistindo aos debates direto de seu colchão no centro do pavilhão. Ela contou que trabalha e produz numa horta urbana para as 430 famílias da região onde mora.
“Foram dois dias de viagem para lutar por uma vida melhor e aqui a gente encontra outras companheiras de luta que vieram com o mesmo objetivo. Cada encontro nos dá mais força para continuar lutando contra a opressão, a discriminação e o preconceito”, disse Marinalva que completou: “agora vai melhorar, é muita mulher junta para lutar por direitos e dignidade”.
Nesta quarta-feira (14) as mulheres do campo, da cidade, das águas e das florestas irão participar da 6º Marcha das Margaridas em Brasília a partir das 06h da manhã. Depois o ato de encerramento da marcha, em frente ao Congresso Nacional, as mulheres vão se preparar para deixar a cidade e seguir rumo às suas cidades com muita história e esperança.