Matéria prima da CoronaVac está retida na China e produção da vacina está parada
Matéria prima da vacina Coronavac está retida na China. Má relação do governo Bolsonaro com o país asiático atrapalha, diz o governador de São Paulo, João Doria (PSDB)
Publicado: 18 Janeiro, 2021 - 15h29 | Última modificação: 18 Janeiro, 2021 - 15h34
Escrito por: Rodrigo Gomes, da RBA
Passada a euforia com a aprovação da vacina CoronaVac e o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo, na tarde de domingo (17), a situação agora é de preocupação com a continuidade do programa de imunização por que o governo de João Doria (PSDB) não tem previsão de quando vai retomar a produção do imunizante, produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac.
O problema é que a matéria prima para fabricação está retida na China, aguardando liberação do governo local. “Vamos retomar assim que for possível”, disse, evasivo, o diretor-presidente do Instituto, Dimas Tadeu Covas.
A situação pode prejudicar o andamento do programa de vacinação contra a covid-19, tanto em São Paulo como nos demais estados do Brasil. Se a matéria prima da vacina CoronaVac não chegar até o final de janeiro, o cronograma da segunda fase da imunização vai ficar prejudicado. Essa fase deve começar em 8 de fevereiro, com o objetivo de vacinar a população com 75 anos ou mais.
São vários os descumprimentos de cronograma entre as promessas do governo Doria e a efetivação do programa de vacinação contra a covid-19 em São Paulo. Em agosto, o governador paulista prometeu que São Paulo teria 46 milhões de doses da vacina Coronavac prontas até o final de dezembro. Em 10 de dezembro, afirmou que todas essas doses estariam disponíveis no final de janeiro. No entanto, apenas 10,8 milhões de doses chegaram até o final de dezembro. E agora não há previsão de quando as próximas doses vão começar a ser produzidas.
A expectativa era de que o Instituto Butantan estivesse produzindo um milhão de doses da vacina CoronaVac por dia, funcionando sem parar durante 24 horas. No entanto, agora a produção está praticamente parada.
A situação prejudica não só a produção da vacina Coronavac, mas também a da vacina de Oxford, que igualmente tem matéria prima oriunda da China. No entanto, a segunda só deve começar a ser distribuída em março, já que fracassou a tentativa do governo de Jair Bolsonaro de importar a vacina de Oxford produzida na Índia. O governo federal chegou a adesivar um avião para buscar o imunizante, mas o governo indiano declarou que não havia nenhum acordo definido e que ainda é cedo para falar em exportar o medicamento
Bolsonaro atrapalha
Doria afirmou que, em parte, a dificuldade em conseguir a liberação da matéria prima pelo governo chinês se deve ao mal relacionamento do Brasil com a China, no governo Bolsonaro. O presidente e os filhos criticam e ofendem o país asiático com frequência. O próprio ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também é um propagador de ofensas e mentiras sobre o governo chinês. “Se Bolsonaro e os filhos parassem de falar mal da China, já ajudaria muito. Se não atrapalhar, já ajuda”, afirmou.
Segundo Dimas, o acordo com a Sinovac prevê que o São Paulo receba 46 milhões de doses, que virão em forma concentrada, para ser envasada. Também garante a transferência de tecnologia para produção de outras 56 milhões de doses pelo próprio instituto. Hoje, o Butantan solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização de uso emergencial de 4,8 milhões de doses da CoronaVac que já foram envasadas no Brasil.
O governo Doria também lançou o site Vacina Já, para a população de cadastrar e adiantar o processo de vacinação. Isso ocorre porque a vacina Coronavac, como qualquer outra contra a covid-19, segue sendo avaliada e as pessoas que forem vacinadas serão acompanhadas quanto a eventuais reações adversas. O cadastro não funciona como agendamento e também poderá ser feito na hora de receber a vacina.