Medo e terror: dirigente faz relato de atentado contra acampamento do MST
Após atentado em Prado (BA), famílias seguem com medo e voltam a ouvir tiros. Local segue sem proteção policial efetiva
Publicado: 03 Novembro, 2021 - 08h57
Escrito por: Redação RBA
A dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Eliane Oliveira fez na manhã de hoje (2) à Rádio Brasil Atual um relato emocionado do atentado sofrido por famílias camponesas do Assentamento Fabio Henrique, no município de Prado, na Bahia. O assentamento existe há 15 anos anos e ainda não foi reconhecido oficialmente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Foi um momento de muito terror e, inclusive, é muito difícil de lembrar. Muitos tiros, com armas pesadas. Coisa de milícia mesmo”, diz a integrante da direção estadual do movimento na Bahia. As famílias estão dentro de casa sem conseguir sair, com muito medo. “Porque eles ainda estão dentro do acampamento e querem colocar outras pessoas que eles julgam que têm de ficar nesse lote.”
Segundo Eliane, antes do ataque desencadeado por cerca de 20 homens encapuzados – que durou cerca de 20 minutos –, já haviam sido feitas denúncias de ameaças dirigidas às famílias. “São 15 anos nesse acampamento, e não dá pra entregá-los para bandidos. Por exemplo, nesta madrugada, novamente tiros foram dados.
Nos lotes ocupados vivem 173 famílias, sendo que no momento do ataque cerca de 120 pessoas estavam no local, logo depois de realizarem uma assembleia. Os sem-terra denunciam ainda ter tido dificuldade de fazer o registro da ocorrência na delegacia local. “A delegacia de Prado estava fechada ontem (1º), então fomos a outra delegacia, em Teixeira de Freitas. Das 12 pessoas (que foram alvos das agressões e ameaças mais graves) só conseguimos registrar duas ocorrências. Pediram para voltar amanhã, porque hoje é feriado”.
Muitas das ameaças desses grupos são feitas publicamente por meio de mensagens em redes sociais. “Tudo que temos recebido, áudios, fotos, vídeos, temos colocado na mão das autoridades. Mas infelizmente, até o momento, a gente não vê uma reação positiva por parte da Justiça”, afirma Eliane. A organização afirma ainda que tem solicitado a presença da polícia no local, até que o atentado a esse acampamento do MST seja investigado e esclarecido. “Mas isso não tem acontecido. Policiais passam por lá e logo vão embora.”
Participação de bolsonaristas
Em nota, a direção nacional do MST atribuiu o atentado “a uma ação coordenada, com apoio de grupos bolsonaristas a nível local e nacional”. Segundo a direção, esses grupos “financiam e recrutam milicianos, com objetivo específico de atacar o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”. O movimento afirma que trabalhadores rurais conseguiram identificar alguns dos criminosos como pessoas ligadas a grupos de apoio ao presidente da República. Durante a campanha eleitoral em 2018, Bolsonaro também pregava “receber os invasores de terra a bala”.
Ainda segundo os agricultores, esses indivíduos também frequentariam o Casarão Brasil, um espaço de articulação bolsonarista localizado no município de Teixeira de Freitas, cerca de 80 quilômetros de distância de Prado. No Facebook, o grupo se descreve como “instituição civil e popular, sem fins econômicos, que se compromete em lutar, de forma prática, pela liberdade e os valores tradicionais judaico-cristãos”. Recentemente, em 16 de outubro, a página compartilhou um vídeo em que Bolsonaro chama o título de propriedade rural de “carta de alforria”, em alusão do documento usado na época da escravidão para libertação de escravos.
Com a chamada “governo Bolsonaro libertando o povo das mãos do MST”, a publicação do Casarão Brasil agradece ao presidente que declara ter entregue 800 títulos da reforma agrária ao assentamento Rosinha do Prado. O local fica na divisa com o assentamento Fabio Henrique, alvo do atentado.