Escrito por: William Pedreira

Massacre de Volta Redonda completa 26 anos

Três operários foram brutalmente assassinados em intervenção do Exército na greve da CSN

Arquivo do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense

Dia 7 de novembro de 1988. Metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) iniciam uma greve e ocupam a Usina Presidente Vargas (UPV), em Volta Redonda (RJ).

Assim como outras categorias, os operários empunhavam bandeiras de luta como a imediata aplicação dos direitos constitucionais e a reposição salarial.

O Brasil vivia um período de aprofundamento da crise, estagnação, inflação galopante e arrocho salarial. Ganhos conquistados pelas lutas salariais eram sistematicamente corroídos pela inflação, que apresentava índices de 100% ao mês.

A política industrial e econômica do governo José Sarney amparava-se em três pilares: déficit público, submissão ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e privatizações.

Aos trabalhadores, não restava outro caminho: aumentar o tom das mobilizações. Em Volta Redonda, a greve na CSN contou com a participação de mais de 30 mil metalúrgicos e o apoio da comunidade local.

O atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Silvio Campos, à época um dos grevistas da CSN, lembra que aquela era uma greve de ocupação, ou seja, os operários permaneceram de braços cruzados nas dependências da empresa.

Apesar de toda a pujança do movimento e a disposição do Sindicato em dialogar, a direção da Companhia optou pelo caminho do acirramento do conflito. Primeiro, veio à intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Depois, a partir da conivência do governo Sarney, o Exército.

Tragédia anunciada – no dia 9 de novembro, tropas do Exército invadiram a empresa. Três trabalhadores foram mortos a tiros (Carlos Augusto Barroso, 19 anos; Valmir Freitas Monteiro, 22 anos; e William Fernandes Leite, 23 anos. Outras 31 pessoas acabaram feridas.

A tragédia ficou conhecida como ‘massacre de Volta Redonda’. Um dos informativos da CUT publicado na época mostra a virulência da repressão contra os trabalhadores. “Soldados do exército, com tanques e armados de metralhadoras, sob ordem de um general comandado diretamente de Brasília, investiram contra a assembleia de metalúrgicos da CSN espancando e atirando. Invadiram as instalações da usina em manobra de guerra e espalhando o terror inclusive nos bairros da cidade. Mataram trabalhadores, vários estão feridos a golpes de cassetete e baioneta [...] Nem nos 21 anos de ditadura militar os generais assentados na presidência da República, as forças de repressão, ousaram matar trabalhadores dentro da fábrica.”

A ditadura havia acabado, mas a repressão seguia os mesmos moldes do período anterior.

Chama para o fortalecimento da greve - mesmo com toda truculência do Exército, Silvio Campos recorda que a morte dos companheiros foi a chama para o fortalecimento da greve. “O sentimento de raiva por ter perdido companheiros como se fossem assassinos era unânime. A disposição dos trabalhadores de não por fim ao movimento era evidente”, disse. “Assembleias aconteciam todos os dias e ao final sempre eram lembrados os nomes dos companheiros mortos”, acrescentou.

Segundo Campos, a CUT teve um papel importante no desfecho da greve. Os trabalhadores decidiram pelo fim do movimento em assembleia realizada no dia 24 de novembro após a conquista de parte das reivindicações.

Homenagem - no dia 1º de maio do ano seguinte, com a presença do então presidente nacional da CUT, Jair Meneguelli, foi construído na Praça Juarez Antunes - ex-presidente do Sindicato e um dos líderes da greve de 88 - um monumento, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, em homenagem aos três operários.

Porém, passada algumas horas, uma bomba destruiu, em partes, a escultura. A pedido do próprio Niemeyer, a obra foi reerguida mantendo algumas características de destruição. “Esses companheiros são símbolos da luta pela democracia real, pelo direito dos trabalhadores, pela democratização da informação. Não podemos jamais nos esquecer das milhares de pessoas que morreram lutando para que hoje pudéssemos viver o período mais longo de democracia“, enfatizou Campos, que também comentou sobre um projeto do Sindicato em produzir uma história em quadrinhos com uma linguagem infantil sobre o massacre de Volta Redonda para ser distribuída aos alunos do ensino fundamental. “A nova geração precisa conhecer a verdadeira história do nosso País.”

Todos os anos, a entidade realiza ações em homenagem aos operários assassinados, sendo que nesta sexta-feira (7), foi realizada uma manifestação cultural e religiosa na própria Praça Juarez Antunes.

* Com informações