Escrito por: Walber Pinto
Vítimas da violência que cresceu no último ano, travestis e transexuais lutam por inclusão no mercado de trabalho
Este 17 de maio, Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia, joga luz aos desafios da população LGBTQIA+ no mercado de trabalho no Brasil. Além da falta de oportunidades para travestis e transexuais, que são as que mais morrem e sofrem violência em decorrência da sua identidade de gênero, há uma parcela dessa população muito pequena nos postos de trabalho.
Segundo dados levantados pelo Fórum de Empresas e Direitos LGBTQIA+, em 51 empresas, 61% delas disseram empregar pessoas transexuais - outras 16% responderam que têm líderes trans. No entanto, na maioria dessas empresas, trabalhadores e trabalhadoras transexuais não chega a 1% do quadro de funcionários.
“Sabemos que a comunidade trans, tanto masculina como feminina, pessoas lésbicas, gays mais afeminadas, pessoas negras LGBT, são as que mais sofrem na hora de procurar um emprego”, conta o secretário nacional de LGBTQIA+ da CUT Nacional, Walmir Siqueira, o Wal, que lembra ainda que a Central aprovou, no seu último Congresso, em outubro do ano passado, uma política de atrair para dentro das discussões sindicais pessoas que não estão sindicalizadas, não estão no mercado formal de trabalho.
Para o dirigente, essa foi uma medida acertada da Central que pode ajudar a enfrentar esse problema. “Não foi direcionada à comunidade LGBTQIA+, foi para o trabalhador e a trabalhadora como um todo, na pauta do trabalho decente, mas que atingiu em cheio a nossa preocupação, que é o mercado de trabalho para pessoas da comunidade LGBTQIA+”.
De acordo com levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população transexual e travesti têm a prostituição como fonte de renda e alternativa de sobrevivência.
Recentemente, a CUT firmou uma parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para articular recursos para a continuidade do projeto Pride, que tem como objetivo trabalhar na formação da comunidade LGBTQIA+ com foco no mercado de trabalho, principalmente na população trans.
Estima-se que 15,5 milhões de brasileiros e brasileiras pertençam a essa comunidade, o equivalente a 7% da população, de acordo com pesquisa Datafolha. Só que essa parcela ainda ocupa um número muito pequeno dos postos de trabalho.
O número de registros por homofobia e transfobia cresceu mais de 15 vezes entre 2015 e 2022 na cidade de São Paulo, segundo levantamento feito pelo Instituto Polis.
Em 2022, foram 960 registros, um aumento de 1.424%. Ainda de acordo com o instituto, a aparente queda em 2023 (435 casos registrados), não pode ser confirmada como uma redução das ocorrências, visto que os dados mais recentes demoram para ser consolidados;
Nos últimos nove anos, foram 3.868 vítimas. A pesquisa também analisou as notificações de violência LGBTfóbica nas unidades de saúde da capital paulista, entre 2015 e 2023, houve aumento de 10,8 vezes (981%).
A estimativa média de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos, segundo a Antra.
“Os direitos das pessoas LGBTQIA+ foram conquistados com muita luta e por isso, nós da CUT, seguimos sem perder o nosso foco na luta por uma sociedade mais justa, livre e mais inclusiva”, pontua Walmir.
A data 17 de maio foi escolhida em alusão a uma decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em 1990, excluiu a homossexualidade da classificação internacional de doenças.
No Brasil, através da luta, o movimento LGBTQIA+, em 1985 – cinco anos antes da decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), já havia decidido que a homossexualidade não seria mais considerada uma doença pelo então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).
Na contramão de vários países do mundo, o Peru, nesta semana, classificou a transexualidade como doença e grupos LGBTs prometem fazer protestos pelo país. Mas a decisão do país vizinho não se sustenta e vai contra a declaração da OMS.