Escrito por: Érica Aragão
Com unidade, especialistas garantem que enfrentar a Globo é enfrentar onda conservadora
A intolerância de parte da mídia com a blogosfera “progressista” e a liberdade de expressão foram os temas de um encontro promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, na noite da última segunda-feira (7).
Veículos como “O Cafezinho”, “Tijolaço”, “Diário do Centro do Mundo” e “Rede Brasil Atual”, que aprofundaram as investigações do caso do triplex em Paraty que, segundo uma fiscal do ICMBio, pertenceria à família Marinho, uma das mais ricas do Brasil, receberam notificações extrajudiciais por publicarem reportagens e artigos sobre o suntuoso imóvel, construído em área de proteção ambiental.
“A Globo, irritada com as matérias dos veículos alternativos, tenta impedir o direito de liberdade de expressão dos veículos de comunicação progressistas. Há uma tentativa de cerco à blogosfera, que está sendo criminalizada. O ato contra o golpismo midiático em defesa da legalidade democrática é um ato de solidariedade”, explicou o presidente do Barão de Itararé, Altamiro Borges.
O auditório Vladimir Herzog, completamente lotado, ouviu o deputado federal Paulo Pimenta (PT), que também é jornalista, criticar a criminalização da blogosfera. Para o parlamentar, essa perseguição se justifica: “Tentamos reagir ao monopólio midiático”.
Ainda falando sobre a emissora carioca, o deputado explicou a medida tomada por ele contra a empresa familiar dos Marinhos. “Protocolamos no Ministério Público uma denúncia contra a Globo e pedimos que ela seja investigada. A Rede Globo é um núcleo de inteligência para o golpe deste país. Temos que ter coragem de enfrentá-la, na verdade eu acho que permanecemos há muito tempo sem reagir”, provocou o deputado.
Um manifesto assinado pelo Barão de Itararé e por dezenas de entidades, jornalistas, blogueiros e ativistas digitais denunciou o autoritarismo da Globo e repudiou o veículo de comunicação pela perseguição aos que denunciam seus desmandos e suas falhas.
“Além de ferir o direito fundamental da liberdade de expressão, as Organizações Globo também evidenciam sua ojeriza e intolerância para com as mídias alternativas”, destaca o documento.
O blogueiro que está sendo perseguido e ameaçado, Eduardo Guimarães, lembrou que viveu na ditadura e está com medo de terminar os dias em outra ditadura. “A rede Globo está construindo uma narrativa absurda. Fui criminalizado por informar num post que toda a imprensa paulista tinha um vazamento da Lava jato e eu virei o vazador”.
Fernando Brito, autor do blog Tijolaço, um dos que receberam a notificação, fez uma fala emocionante para uma plateia com mais de 200 pessoas. O jornalista contou que em duas semanas foi feito este trabalho investigativo. “Essas coisas não são descobertas não é porque não tem jornalista é porque nós não temos veículos de comunicação”, criticando o monopólio da mídia e das informações.
O jornalista ainda afirmou que o olho do furacão da operação Lava Jato é o sistema de comunicação. “Este sistema faz a população se sentir como a síndrome de Estocolmo, apaixonado por quem sequestra. Não cabe mais vacilação, o enfrentamento não garante a vida, mas o não enfrentamento nos assegura a morte. A gente vai enfrentar!”
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Paulo Zocchi, o monopólio da comunicação prejudica o direito à informação e também prejudica o mercado de trabalho do jornalista, os profissionais estão na linha do fogo desta guerra midiática.
Zocchi contou que neste momento o sindicato está na luta pela campanha salarial e pontos importantes de proteção aos jornalistas não estão sendo aceitos pelas grandes empresas de comunicação, lideradas pela Globo.
“Para as empresas, o jornalista não pode recusar reportagem que ofereça risco de morte e nem que violem sua ética. Então eles que dizem defender a liberdade de imprensa ferem o direito dos trabalhadores”, explicou o sindicalista.
A deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB), se solidarizou com a blogosfera e com os profissionais de comunicação e se mostrou muito preocupada com a ofensiva conservadora. Ela destacou os enfrentamentos no Congresso Nacional, na Justiça brasileira e na mídia, que trabalha para ajudar a implementar o neoliberalismo no país.
“Não ter enfrentado a mídia foi um erro estratégico. Só tem um segmento que pode enfrentar estes setores e são vocês. Vocês fazem opinião e podem ajudar na disputa de narrativa”, disse Jandira se referindo a blogosfera.
“Nós estamos numa guerra política! Não tem como recuar! Nós precisamos ter coragem e disponibilidade para lutar. E nós parlamentares estaremos à frente desta luta, na tribuna e nas ruas”, completou a parlamentar.
Marcelo Lavenère, que era o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na época do impeachement do ex-presidente Fernando Collor começou sua fala pedindo desculpas e dizendo estar com vergonha com a violação da Constituição, da Democracia e da Ordem Política do país de alguns setores do judiciário.
O advogado também lembrou que o único capítulo da Constituição que não foi regulamentado foi o da Comunicação Social. “Desde 1988 não consegue se regulamentar uma linha. Não queremos censura, nós queremos uma comunicação social aberta, plural e não propriedade cruzada e não o monopólio”, destacou.
Para a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, é preciso continuar fazendo denúncias, pesquisas e investigações, mas para isso é preciso alianças. “Nós precisamos construir uma grande força tarefa para que a verdade seja dita e a liberdade de expressão ser um direito de todos e todas. Precisamos ajudar a blogosfera para eles continuarem tendo voz e vez”, destacou Rosane.
Rosane, que também é secretária Nacional de Formação da CUT, lembrou da importância de investir e de ampliar a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e a campanha de assinatura do Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) para democratizar os meios de comunicação. “Nós contamos com vocês na luta pela democratização da comunicação e para que não deixamos de ser estes brasileiros e brasileiras que lutamos”, finalizou.