Escrito por: Redação CUT
Na assembleia em São Bernardo, trabalhadores questionaram empresa sobre investimentos e novo produto. Em Taubaté, metalúrgicos fizeram greve contra demissões. Já a GM afirmou que não fechará unidades no Brasil
O ano passado foi de recuperação para a indústria automobilística brasileira, com crescimento na produção (6,7%), nas vendas (14,6%) e, em menor escala, do emprego (1,7%). Mas duas das principais empresas do setor, a Ford e General Motors, começam o ano causando preocupação e mobilizando os trabalhadores e trabalhadoras.
Na Ford, os metalúrgicos realizaram uma assembleia na manhã desta terça-feira (22) em São Bernardo do Campo, no ABC, e cruzaram os braços em Taubaté. Já na General Motors, os representantes dos metalúrgicos e de prefeituras se reuniram com os executivos da GM Mercosul para tratar da reestruturação da empresa, conforme nota divulgada pela direção. Na reunião, segundo relatos, a GM negou que sairá do Brasil, mas confirmou a reestruturação.
Ford
Em São Bernardo, a assembleia foi para cobrar a montadora sobre investimentos e o futuro da fábrica do bairro do Taboão. "Estamos deixando bem claro que as discussões não podem continuar neste marasmo. O acordo construído em março de 2017, que vale até novembro deste ano, previa todo este período para negociações e até agora não há nada efetivo, nenhuma sinalização por parte da direção", afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.
"Hoje a Ford São Bernardo produz apenas o New Fiesta e nenhuma planta se sustenta com um só modelo, ainda mais sendo um veículo que não possui vida longa, como a própria empresa já anunciou. Por isso é urgente retomar essa discussão", acrescentou o sindicalista, que anunciou uma "mobilização permanente" na fábrica, até 18 de fevereiro, quando está prevista uma reunião com o presidente da companhia no Brasil, Lyle Watters.
"Decidimos com os trabalhadores hoje que não vamos aguardar novembro (quando termina o período de estabilidade) chegar, nem mesmo o segundo semestre", declarou.
Segundo Wagnão, os trabalhadores já fizeram sua parte no sentido de "viabilizar" a unidade. Entre aposentadorias e programa de demissões voluntárias (PDV), desde 2017 mais de mil funcionários saíram – atualmente, a fábrica tem 2.800 empregados. "Vamos lutar para garantir uma nova expectativa de futuro para os trabalhadores, um cenário diferente dessa indefinição e desse risco que se desenha hoje."
Em Taubaté, no Vale do Paraíba, interior paulista, os trabalhadores da Ford entraram em greve na tarde de ontem (21), segundo informou o Sindicato dos Metalúrgicos da região, em protesto contra 12 demissões. A entidade vinha discutindo com a empresa alternativas para evitar a demissão de 350 trabalhadores, número que a empresa considera "excedente". A unidade tem aproximadamente 1.300 empregados.
Em novembro, foi aberto um PDV, com 128 inscritos. O sindicato de Taubaté e o CSE (comitê sindical de empresa) se disseram surpreendidos com a postura da montadora durante a negociação.
GM
Representantes da General Motors e de sindicatos de metalúrgicos de São Caetano, também no ABC, e de São José dos Campos (SP) – municípios onde a GM tem unidades no estado – se reuniram durante duas horas na fábrica do interior paulista, depois que circularam informações de que a montadora poderia encerrar suas operações no Brasil, onde tem quase 20 mil funcionários espalhados em quatro fábricas, alegando prejuízos que não poderiam se "repetir" neste ano.
No ano passado, o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga – que participou da reunião de hoje –, deu entrevista à newsletter AutoData e declarou que a empresa estava em um "ponto de equilíbrio" em relação às finanças.
"A GM é a número um na América do Sul, fizemos investimentos, a nossa marca tem um reconhecimento muito forte aqui, quase o melhor do mundo. A América do Sul é um ponto chave, estratégico e foco da GM. Não sou eu quem diz isso, é a Mary [Mary Barra, CEO global]. (...) Se estivéssemos hoje fora do ponto de equilíbrio, sem melhorar a rentabilidade, não sei se a resposta seria a mesma. (...) Mas da forma que estamos, com perspectiva de crescimento somada aos investimentos, entendo que dificilmente você vai achar um momento da GM no passado melhor do que o atual."
Ainda em 2018, a empresa anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão para a fábrica de São Caetano, além de R$ 1,9 bilhão para a unidade de Joinville (SC), que produz motores. A GM também tem fábrica em Gravataí (RS).
De acordo com o jornal Valor Econômico, a empresa quer discutir incentivos fiscais com prefeituras e o governo estadual paulista. O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), participa da reunião de hoje. Apenas a GM responde por 5% da arrecadação municipal e o entorno da montadora, outros 5%. Ao Valor, o secretário estadual de Fazenda e Planejamento, o ex-ministro Henrique Meirelles, disse que estuda benefícios de ICMS à empresa.
*Com informações RBA