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Metalúrgicos do Brasil e Estados Unidos debatem os impactos da Indústria 4.0 no ramo

Categoria debateu sobre pandemia, desemprego, falta de Estado, desindustrialização, novas formas de trabalho, papel do movimento sindical, eleições 2022 e Lula Livre

Publicado: 08 Abril, 2021 - 13h01

Escrito por: Érica Aragão e Maricélia Pinheiro

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O enfrentamento das dificuldades que surgiram com o novo mundo do trabalho, criado a partir do que está sendo chamada de 4ª Revolução Industrial, foi tema de debate nesta quarta-feira (7), durante a abertura do “1º Encontro da Indústria 4.0 Metalúrgic@s – Brasil/Estados Unidos”, que reuniu cerca de 100 sindicalistas e especialistas em evento virtual, que contou com a participação do presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre.

O encontro, que segue nesta quinta-feira (8), foi organizado pelo Sindicato United Auto Workers (UAW) em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), e tem como objetivo debater os impactos da Indústria 4.0 no setor metalúrgico, compartilhar experiências de luta, organização sindical e colaboração internacional.

A falta de políticas públicas no Brasil, que valorize e fomente a indústria nacional, o descaso do governo federal sob o comando de Jair Bolsonaro (ex-PSL), em relação à pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos como o desemprego e a fome também fizeram parte do debate entre os metalúrgicos do Brasil e dos Estados Unidos.

O presidente do SMBC, Wagner Firmino de Santana lembrou que não existe indústria competitiva sem a presença do Estado e ressaltou que o atual governo colocou o País em um “processo de desindustrialização” e que está indo em desencontro com a chamada Indústria 4.0.

Sobre a situação tecnológica no Brasil e nos Estados Unidos, o diretor da UAW, Jason Wade, disse que há um crescimento significativo do número de robôs em substituição ao trabalhador humano, a criação de veículos autônomos, o uso de impressoras 3D e de câmeras para monitorar o trabalho e que é preciso estar atento a estas transformações.

Convidada a falar no evento sobre a deficiência tecnológica do Brasil, a  professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), Ana Patrícia Vilha, disse que há necessidade de ampliar a agenda de políticas públicas para amenizar os impactos da Indústria 4.0 no emprego.

Segundo ela, é necessário combinar políticas industrial e de educação, especialmente tecnológica, buscar parcerias comerciais e investir na indústria nacional e que  é preciso urgentemente “encarar essa realidade”.

O diretor do SMABC, Wellington Damasceno, falou sobre a importância de se traçar o novo perfil do trabalhador, diante de tantas mudanças tecnológicas, para que seja possível atuar de maneira eficaz. Segundo ele, é preciso pensar em como capacitar esse trabalhador para enfrentar um novo mercado de trabalho, fazendo com que a transição seja mais tranquila e questionou: “onde estarão os novos empregos com a Indústria 4.0?”.

Papel do movimento sindical

O presidente da CUT Brasil, Sérgio Nobre, disse que a transição para a Indústria 4.0 tem sido um dos maiores desafios do movimento sindical, uma vez que a organização por área de trabalho está ficando obsoleta na medida em que atualmente é possível contratar diversos profissionais através de aplicativos.

O dirigente apontou a necessidade urgente de uma remodelação dos sindicatos. “Com o crescimento do teletrabalho, acelerado pela pandemia, os sindicatos terão que estar presentes não apenas nas empresas, mas também nos bairros, onde vivem esses trabalhadores que fazem home office”, frisou.

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Loricardo Oliveira

 

Teletrabalho

O secretário-geral da CNM/CUT, Loricardo de Oliveira, se mostrou extremamente preocupado com a situação do teletrabalho. Ele colocou como desafio descobrir formas de regular a jornada de trabalho e a questões relacionadas a doenças ocupacionais e acidentes de trabalho na modalidade em questão.

“Precisamos descobrir como aproximar esse trabalhador que está individualizado da coletividade”, afirmou.

Falta regulação

A questão da regulamentação do trabalho remoto ou teletrabalho também foi abordada por Adriana Marcolino, técnica do Dieese. Ela atentou para a falta de legislação específica que regule esse tipo de trabalho e apresentou números que mostram o aumento considerável da modalidade home-office durante a pandemia.

Pandemia e sindicatos

Darius Sivin, da UAW, abriu o Painel 2 “Tele-trabalho/Home Office – Pandemia Covid-19 e Ações Sindicais” e falou sobre os protocolos sanitários implementados nas empresas dos EUA e fiscalizados pelos sindicatos. O país só perde para o Brasil em questão de mortes pela doença.

Entre as medidas apresentadas, podemos destacar a garantia do salário, seja pelo empregador ou pelo governo, para que o trabalhador que esteja com sintomas de Covid ou de outras doenças possa ficar em casa e não contaminar os colegas.

Sivin descreveu em detalhes todas as medidas, mas admitiu que em alguns locais nos EUA ainda não foi possível alcançar os padrões ideais.

Sérgio Nobre, depois de expressar solidariedade a todos os trabalhadores norte-americanos, lembrou que o número de mortos nos EUA por Covid-19 são resultado da postura negacionista do ex-presidente norte-americano,  Donald Trump ,diante da pandemia (semelhante à de Bolsonaro), mas que agora Biden vem mudando para melhor essa realidade.

Ele disse que o movimento sindical brasileiro está trabalhando juntamente com governadores e prefeitos comprometidos com o enfrentamento da crise sanitária e que já enviaram carta ao presidente norte-americano pedindo ajuda.

Sindicalistas na luta

O protagonismo do movimento sindical no atual cenário de pandemia no Brasil foi ressaltado pelo presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Ele lembrou que o auxílio-emergencial de R$ 600, por exemplo, foi fruto da pressão dos sindicatos junto ao Congresso Nacional, assim como o programa de manutenção de empregos e o fomento às pequenas empresas. Agora, a luta que une as centrais sindicais é pela vacina para todos e todas. “Faço um apelo aos colegas dos Estados Unidos: nos ajudem a conseguir mais vacina para o Brasil”, finalizou Torres.

A vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Mônica Veloso, fez uma cronologia da crise desde o início da pandemia e apontou que o quadro de sucateamento industrial no Brasil é anterior à Covid-19, fruto da falta de ações governamentais para fomentar o setor.

Mitch Smith, da UAW, disse que os sindicatos nos Estados Unidos estão trabalhando junto à presidência da república para conseguir doação de lotes de vacina para o Brasil e ressaltou que um bom planejamento e políticas públicas adequadas logo no início da pandemia teriam evitado muitas mortes nos Estados Unidos.

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Paulo Cayres, o Paulão

 

Eleição 2022

Referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro como “Trump dos Trópicos”, Smith disse que, assim como os trabalhadores norte-americanos conseguiram tirar Trump, os brasileiros também vão tirar Bolsonaro nas próximas eleições.

Everaldo dos Santos, da CNTM, informou que hoje 40% da força de trabalho no Brasil é informal e que é preciso descobrir formas de proteger esse conjunto de trabalhadores. “Nas eleições de 2022 é preciso avançar com a agenda trabalhista, elegendo o maior número possível de representantes da classe trabalhadora”.

O presidente da CNM/CUT, Paulo Ayres, disse que para isso é preciso que o movimento sindical se engaje para eleger um governo e um parlamento que valorize e implemente uma política de apropriação das tecnologias em prol do desenvolvimento da indústria. “Precisamos de um ‘Luiz’ no fim do túnel”, numa alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boas relações e Lula Livre

Mitch Smith, da UAW, ressaltou a estreita ligação entre os sindicalistas norte-americanos e brasileiros ao longo da história recente e parabenizou o movimento sindical por libertar Lula e limpar o seu nome.

“Moro e os procuradores devem enfrentar a Justiça pelos ataques à democracia”, concluiu.

*Edição: Rosely Rocha