Escrito por: Redação RBA
Para dirigente, movimento mostrou a intransigência do governo, que poderia ter evitado a paralisação. Proposta tem limitações, mas é aceitável, avaliou
Os metroviários de São Paulo suspenderam a greve deflagrada nesta quarta-feira (19). A decisão foi tomada em assembleia virtual encerrada às 22h30. De 3.274 participantes, 3.064 (93,5%) aceitaram proposta de conciliação e 2.488 (75,9%) foram a favor da suspensão do movimento. Como não houve acordo na audiência de conciliação realizada à tarde, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-2) deverá julgar o dissídio coletivo. Os trabalhadores aceitaram a proposta conciliatória, mas a empresa, não. Eles farão nova assembleia na próxima terça-feira (25)
Para Wagner Fajardo, coordenador do Sindicato dos Metroviários, a categoria deu uma “demonstração de força” e recebeu apoio da população. “Deixamos muito claro quem é o intransigente nessa história, quem é que não queria negociar”, afirmou. Segundo ele, a proposta conciliatória tem limitações, mas é aceitável. “É um limite que temos frente à intransigência do Metrô.”
Para o também coordenador Altino Prazeres, é preciso discutir com a sociedade a questão do transporte coletivo. “Tem menos metrô (porque) está faltando operador de trem, gente da manutenção, tá faltando peça. Agora, dinheiro para as linhas 4 e 5 tem”, reagiu, acrescentando que a proposta da companhia (2,61%) adota um índice inflacionário de dois anos atrás.
Durante o dia, representantes do governo divulgaram dados sobre remuneração da categoria, prontamente desmentidos pelo sindicato. “Quem tem altos salários são os funcionários privilegiados e indicados pelo governo”, reagiu a entidade, acrescentando que o piso de um agente de estação é R$ 2.295.
Para a coordenadora Camila Lisboa, quem demonstrou falta de empatia foi a empresa – e o governo do estado. “Somos trabalhadores de uma categoria que está todos os dias com a população. Durante toda essa pandemia, a gente não parou de trabalhar um minuto, a gente garantiu todos os dias o deslocamento de profissionais da saúde, de pessoas que precisam de atendimento médico.” Ela afirmou que o Metrô agiu de forma irresponsável ao colocar funcionários não treinados para dirigir trens, o que teria causado pelo menos um acidente.
Na audiência, à qual desta vez o Metrô designou representante (a empresa não compareceu à reunião da véspera), o TRT e o Ministério Público do Trabalho (MPT) fizeram nova proposta conciliatória. A empresa informou que não poderia atender, mas apenas “melhorar” sua proposta original. E o sindicato iria discutir as sugestões na assembleia.
A proposta TRT/MPT previa reajuste salarial de 7,79% na data-base (1º de maio) deste ano. O índice seria aplicado nos vales refeição e alimentação. Haveria pagamento de adicional noturno e do adicional de férias até janeiro de 2022 e de atrasados de fevereiro a abril do ano que vem.
A gratificação por tempo de serviço seria congelada por um ano, até maio de 2022. A segunda parcela da participação nos resultados (PR) seria paga em 31 de janeiro, “mediante a formalização de um acordo que contemple as condições e critérios do valor a ser pago”. Outro item refere-se a abono salarial a ser pago em 31 e março. Todas as demais cláusulas sociais seriam mantidas.
A relatora, Maria Cristina Christianini Trentini, e o vice-presidente judicial do TRT, Valdir Florindo, propuseram ainda uma “cláusula de paz”. Os metroviários suspenderiam a greve, enquanto a empresa não faria demissões ou punições, assim como não efetuaria desconto salarial.
O representante do Metrô disse que poderia adiantar a PR de 31 de janeiro de 2022 para 31 de agosto deste ano. E o abono passaria de 31 de março para 31 de janeiro do ano que vem.
No início do dia, a mesma Maria Cristina Trentini havia concedido liminar ao Metrô, determinando funcionamento de 80% do serviço nos horários de pico (de 6h às 10h e das 16h às 20h) e 60% nos demais. E fixou multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento. A greve afetou várias linhas.