Metroviários podem parar nesta quinta contra privatização
A privatização prejudica os metroviários com precarização do trabalho e a população com serviço de má qualidade, acusam os dirigentes do Sindicato dos Metroviários de São Paulo
Publicado: 16 Janeiro, 2018 - 13h10 | Última modificação: 17 Janeiro, 2018 - 10h41
Escrito por: Marize Muniz
Metroviários de São Paulo podem entrar em greve nesta quinta-feira (18) contra a privatização de duas linhas do Metrô que estão sendo construídas – a Linha 5 Lilás e a Linha 17 Ouro, o monotrilho. A assembleia que deve confirmar a paralisação será realizada nesta quarta-feira (17), a partir das 18h, na sede do sindicato da categoria, Rua Serra do Japi, 31, no Tatuapé.
O pregão está marcado para o dia 19, às 10h, na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, na Rua 15 de Novembro. No mesmo dia, a partir das 9h, os metroviários estarão em frente a Bovespa protestando contra a privatização que, segundo eles, prejudica os metroviários e os usuários. Além disso, a categoria denuncia um suposto jogo de “cartas marcadas” entre o Metrô e o Grupo CCR.
“A terceirização das bilheterias é sinônimo de precarização do trabalho dos metroviários e de queda na qualidade dos serviços prestados à população”, afirma marcos Freire, diretor Financeiro do Sindicato dos Metroviários.
“O Sindicato já avaliou o resultado da terceirização em bilheterias como a da linha 2 Verde – Vila Madalena/Vila Prudente e confirmou o prejuízo aos trabalhadores e aos usuários”.
Segundo o dirigente, um bilheteiro terceirizado ganha, no máximo, R$ 850 reais por mês – isso mesmo, menos do que um salário mínimo. A justificativa das terceirizadas é a de que a jornada de trabalho é de 6 horas -, e têm menos benefícios do que um trabalhador na mesma função contratado diretamente pelo Metrô. O trabalhador com contrato direto ganha entre R$ 1.500/1.600 no inicio da carreira – o teto é de R$ 3.500 -, recebe treinamento adequado e oferece um serviço melhor ao usuário do Metrô.
“Além disso, a privatização prejudica o usuário com aumento de tarifas e os trabalhadores, pois as terceirizadas costumam diminuir o número de metroviários, como é o caso da Linha 4 Amarela – Luz/Butantã, e não oferece treinamento adequado aos terceirizados”, denuncia Marcos.
“Cartas marcadas”
Em entrevista coletiva no último dia 11, a direção do Sindicato dos Metroviários denunciou a “entrega” das linhas 5-Lilás e 17-Ouro, em construção: a licitação das linhas de ser de “cartas marcadas”.
A empresa CCR será a vencedora das licitações das duas linhas marcadas para o próximo dia 19, afirmaram os dirigentes.
Segundo os metroviários, o edital foi realizado para favorecer a companhia. “A CCR, que opera a Linha 4-Amarela, é a única empresa capaz de cumprir os pré-requisitos do edital, como já ter operado um sistema metroferroviário com movimento de 400 mil passageiros por dia”, diz o texto no site do sindicato.
Os metroviários também afirmam que a CCR é a única empresa que realizou uma análise técnica para concorrer na licitação, e que foi, inclusive, remunerada pelo Metrô, assim como a Odebrecht, para realizar o estudo que serviu como base do pré-edital que ela mesma concorreu.
“Além de ser a única a apresentar os estudos técnicos, os critérios estabelecidos foram feitos sob medida para ela (a CCR)”, acusa a categoria, citando “exigências com experiência com o modal Monotrilho”, sendo que “a CCR tem o único e minúsculo trecho existente em São Paulo e também é a responsável pelo monotrilho na Bahia”.
Além de beneficiar uma única empresa, o edital prevê que as linhas sejam entregues à iniciativa privada prontas, com novos trens e sistema implementado, ou seja, com o ônus da construção unicamente para o Estado, acusa a Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro). O lance inicial previsto no leilão é de R$ 189,6 milhões, um valor que não chegaria a cobrir sequer os investimentos iniciais do Estado, além de ser financiado com dinheiro público, pelo BNDES. Segundo o sindicado, apenas o sistema dos trens, o chamado CBTC, custou aos cofres públicos R$ 175 milhões.
O sindicato apontou, por fim, que a CCR tem como principais acionistas as empreiteiras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, acusadas de cartel e corrupção em diversas ações da Lava Jato, inclusive em obras antigas do metrô paulista.
Em dezembro do ano passado, a bancada do PT na Assembleia Legislativa barrou no Tribunal de Contas do Estado o pregão que já havia sido marcado na Bolsa, mas o plenário do TCE analisou e liberou o pregão.
TRT limita greve
O desembargador Carlos Roberto Husek, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), concedeu liminar à Companhia do Metropolitano limitando, parcialmente, a greve dos metroviário. 80% da frota deverá circular nos chamados horários de pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h). Nos demais, 60%. Ele ficou multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.