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MG: Tensão e temor de novo rompimento. Moradores falam de medo e desamparo

Moradores retirados de casas na noite deste sábado (16) denunciam desamparo, falta de informação e despreparo da Vale durante evacuação das famílias ameaçadas por rompimento de outra barragem da mineradora

Publicado: 18 Fevereiro, 2019 - 14h28 | Última modificação: 18 Fevereiro, 2019 - 15h03

Escrito por: Redação CUT

Douglas Magno | AFP
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O risco de desmoronamento de mais uma barragem da mineradora Vale, no distrito São Sebastião das Águas Claras, município de Nova Lima (MG), provocou muita tensão nos moradores neste sábado (16). Eles relatam que vivem sob tensão, que há falta de informação por parte da empresa e o medo ronda as cidades da região desde o rompimento da Barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, no dia 25 de janeiro.

Tanto as sirenes como as mensagens por autofalantes foram acionadas na região conhecida como Macacos por volta das 20h20, deste sábado, e moradores foram orientados orientavam deixar rapidamente suas casas.

"Foi desesperador", disse Valdemir Alves dos Santos, de 39 anos, segundo o jornal Valor Econômico.

A Vale informou que, por segurança, era preciso retirar cerca de 200 pessoas de uma área que abrange 49 edificações em Macacos. Até a manhã de domingo (17), a mineradora tinha registrado 110 pessoas da região.

Após o anúncio feito pela Vale sobre a evacuação, os moradores não sabiam o que deveriam fazer, criticou Tatiana Silva Mota, moradora de Macacos e integrante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).

"A Vale nunca apresentou um plano de emergência pra gente, um dos lugares que um dos moradores informou pra gente ir é na associação de moradores, e aqui tem um plano de emergência impresso que nunca foi apresentado pra gente”, afirmou.

Tragédia da Vale em Brumadinho

De acordo com o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais neste domingo (17), já foram resgatados da lama 169 corpos de pessoas mortas, 141 continuam desaparecidos, entre eles, funcionários da Vale, terceirizados que prestavam serviço à mineradora e membros da comunidade de Brumadinho. No total, 394 foram resgatados com vida. As equipes de buscas continuam procurando os desaparecidos.

Trabalhadores presos

Na última sexta-feira (15), oito funcionários da Vale foram presos durante uma investigação sobre o rompimento da barragem de Brumadinho. A operação ocorreu em Minas Gerais, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os presos são Alexandre de Paula Campanha (Gerente-executivo da geotecnia corporativa da Vale), Artur Bastos Ribeiro (Integra a gerência de geotecnia), Cristina Heloíza da Silva Malheiros (Integra a gerência de geotecnia), Felipe Figueiredo Rocha (Integrante do setor de gestão de riscos geotécnicos), Hélio Márcio Lopes da Cerqueira (Integrante do setor de gestão de riscos geotécnicos), Joaquim Pedro de Toledo (Gerente-executivo da geotecnia operacional da Vale), Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo (Integra o setor de gestão de riscos geométricos) e Renzo Albieri Guimarães Carvalho (Integra a gerência de geotecnia).

Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), a ação busca "apurar responsabilidade criminal pelo rompimento de barragens existentes na Mina Córrego do Feijão, mantida pela empresa Vale, na cidade de Brumadinho."
Denúncias de chantagem

O MP-MG apura se a mineradora chantageou funcionários da empresa alemã Tüv Süd para que atestassem a estabilidade da barragem que ruiu em janeiro.

Segundo e-mails colhidos pelos promotores, a Vale teria acenado com a possibilidade de assinar novos contratos com a empresa alemã, desde que os especialistas da companhia produzissem um laudo favorável quanto à segurança em Brumadinho.

Não é só a Vale

E não só o descaso da Vale que coloca em risco a vida dos mineiros. Também no bairro Gualter Monteiro, em Congonhas, região Central de Minas Gerais, os moradores reclamam da sensação de desamparo diante da falta de respostas da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), onde há riscos de rompimento da barragem da mina Casa de Pedra.

Na última sexta-feira, 15, uma reunião com várias entidades locais ligadas à assistência social, psicologia, meio ambiente e outras, os moradores pediram para serem removidos da área de risco pela CSN, além de receberem apoio psicológico.

“Estamos nas mãos de Deus”, afirmou Warley Ferreira, presidenta da associação de moradores do bairro.

Alguns estão procurando ajuda psicológica, crianças já precisaram ser encaminhadas a profissionais e pessoas idosas que usam remédios controlados para controlar a pressão precisaram aumentar a dose.

Também na região do município de Itatiaiuçu, moradores que vivem perto da barragem de rejeitos de Serra Azul, foram retirados pela mineradora ArcelorMittal dias depois da tragédia da Vale, em Brumadinho.