Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
Ato denunciará, ainda, o retorno da pobreza no país e retrocessos sociais e trabalhistas. A vida dos militantes dependerá dos ministros do STF que votaram contra o povo brasileiro, disse Stédile, líder do MST
Seis militantes de movimentos sociais de todas as regiões do Brasil iniciam, nesta terça-feira (31), a partir das 16h, uma greve de fome por tempo indeterminado pela liberdade do ex-presidente Lula, mantido preso político desde o dia 7 de abril, na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.
Os grevistas são Jaime Amorim, do MST de Pernambuco; Vilmar Pacífico, do MST do Paraná; Frei Sérgio, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Rio Grande do Sul; Zonália Santos, do MST de Rondônia; Luiz Gonzaga Silva, da Central de Movimentos Populares (CMP) de São Paulo; e Rafaela Alves, do MPA de Sergipe.
Em coletiva à imprensa realizada na tarde desta segunda-feira (30), em Brasília/DF, eles disseram que, além da prisão injusta de Lula, o golpe de estado, o ataque à democracia, as políticas implementadas pelo golpista e ilegítimo de Michel Temer (MDB), responsáveis pelo retorno da miséria e da fome no país são fatores determinantes para a tomada desta decisão drástica.
E mais, garantiram que só encerrarão a greve de fome quando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) desengavetarem e levarem à votação em plenário os recursos que podem libertar Lula.
Segundo o líder do MST, João Pedro Stédile, a greve de fome é uma medida extrema cujo objetivo é sensibilizar as autoridades e evitar maiores prejuízos à sociedade e aos mais pobres.
“O grupo iniciará a greve de fome amanhã em frente à Suprema Corte, em Brasília e, enquanto tiverem condições de se locomover, deverão comparecer uma vez por dia à sede do STF para lembrarem aos ministros que a vida dos nossos corajosos militantes está nas mãos deles”, criticou.
Stédile mandou um recado duro à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, que não colocou na pauta de votação de agosto as ações que podem libertar o ex-presidente Lula.
“O caminho legal para saída da greve de fome se dará quando a Dona Cármen Lúcia tomar vergonha na cara e colocar em plenário os dois recursos para libertar Lula: uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), encaminhada pelo PCdoB, e uma presunção de inocência, enviada pela OAB”.
Stédile também denunciou que, por conta do habeas corpus negado contra Lula, a partir do voto confuso da ministra Rosa Weber, em abril deste ano, só no estado de São Paulo foram encarceradas 13 mil pessoas que estavam aguardando decisão judicial em liberdade porque havia presunção de inocência.
“Nós do MST temos dois companheiros em Ijuí/RS nessa situação, onde não podem esperar mais em liberdade. Alguém no Brasil tem que botar ordem porque hoje em dia a lei é só para os ricos porque para os pobres só resta a cadeia!”
Calendário por Lula Livre
Para a retomada da democracia, do estado de direito e das garantias constitucionais, é fundamental a liberdade do ex-presidente Lula, submetido a uma série de injustiças e fraudes processuais, preso político há mais de 100 dias.
Neste sentido, o líder do MST também apresentou uma agenda de protestos, manifestações e mobilizações que acontecerão concomitantemente à greve de fome dos militantes.
Entre os dias 4 e 5 de agosto chegará a Brasília uma caravana no povo do semiárido brasileiro com 102 representantes dos movimentos populares do Nordeste, vindos de ônibus e carro, para chamar a atenção que na região a fome voltou, paralisaram a atividade das cisternas e querem privatizar o Rio São Francisco.
No dia 6/8 eles pedirão audiência com ministros do STF sobre a sanha privatista do governo neoliberal de Temer, que quer vender as hidrelétricas e vender as águas do Brasil.
“Ainda no 4 de agosto acontecerá o jejum das famílias cristãs e todos brasileiros que estão batalhando por Lula Livre podem aderir. Os alimentos que serão poupados, recomendamos que sejam doados em nome do ex-presidente Lula para as famílias de comunidades mais pobres que já estão passando fome”.
No dia 10 de agosto acontecerá o Dia do Basta, chamado pela CUT e centrais sindicais, com paralisações nacionais nos locais de trabalho e atos públicos por todo País.
BANNERJá em 15 de agosto, dia de registrar a candidatura de Lula, acontecerá uma marcha nacional, saída das cidades do entorno do Distrito Federal rumo a capital Brasília, para engrossar o ato público pelo direito de escolher Lula presidente.
“Lutar pela liberdade de Lula, pelos direitos dos trabalhadores, pressionar o STF que tem que respeitar a Constituição Federal e garantir que o povo brasileiro terá o direito de votar no Lula é nossa prioridade”, pontuou o líder do movimento.
Em nome de quem já está passando fome
Para Frei Sérgio, que aos 62 anos está enfrentando sua segunda grande greve de fome – ele acredita que pelos rumos que o Brasil vem seguindo, o sacrifício pela liberdade de Lula será longo – a opção de aderir ao protesto e colocar a própria saúde em risco é um ato livre e consciente.
“Se [os rumos da política] continuar dessa forma, a fome vai voltar a matar gente. No assentamento onde moro nos últimos 11 anos não enterramos nenhuma criança. Agora além da fome, o desemprego está voltando a assombrar as famílias. Por isso, esse gesto. Amamos a vida e queremos viver, agora, depois de alguns dias de jejum prolongado e se alguma coisa grave acontecer, já tem endereço certo: o Judiciário brasileiro.”
Jaime, do MST pernambucano, disse que a greve de fome é um instrumento de luta que, para ele, é justa e necessária.
“Nossa decisão pessoal a serviço e disposição desse processo é porque entendemos que esse país não pode mais continuar nesse rumo. Estamos vivendo no Nordeste uma situação desesperadora e não queremos voltar aos serviços de frente de emergência que servem somente aos coronéis. E o único capaz de conseguir salvar o país da situação como esta, contra a fome, o caos e a violência é Lula.”
Zonália, que é avó, disse que aderiu à greve porque é mulher e já sofreu na pele a dor de ver o Brasil passar por esta situação.
“Vim pra esse protesto por opção. Enquanto isso, sei que tem muita gente passando fome por falta de comida e sabemos que a greve começa amanhã, mas o dia de encerrar quem determinará serão os juízes.”
Vilmar, do Paraná, contou que vários assentamentos já estão passando por dificuldades enormes: “Lula provou que é possível terminar com a fome no país e não queremos que ela volte”.
Luiz Gonzaga da Silva, mais conhecido como Gegê, disse que 7 de abril o Brasil tem um preso político que é um homem que ao longo de sua história dedicou sua vida à classe trabalhadora e é por isso que estamos aqui”.
A jovem Rafaela, do MPA de Sergipe avaliou que todas as formas de luta são necessárias e exigem um nível de sacrifício “para que os rumos do país sejam os rumos do povo e o Brasil que o povo quer ter. É por lula mas é também por cada jovem, mulher e cada cidadão que sonha e tem um papel a desempenhar na história”.