Militares propõem acabar com o SUS e internautas reagem com a tag #CalaABocaMilico
Documento de militares, entregue ao vice-presidente, vaza, internautas se revoltam com proposta de acabar com a gratuidade do SUS e sobem a hashtag #Calaabocamilico
Publicado: 24 Maio, 2022 - 11h48 | Última modificação: 30 Maio, 2022 - 15h38
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
Um documento elaborado por militares com propostas até 2035, que prevê o fim da gratuidade no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e do ensino superior, entre outras perversidades, revoltou os brasileiros e a hashtag #CalaABocaMilico foi parar entre os assuntos mais comentados do Brasil no Twitter.
Em evento realizado na quinta-feira (19) da semana passada, os institutos Villas Bôas, Sagres e Federalista apresentaram o chamado ‘Projeto de Nação, O Brasil em 2035’, um documento de 93 páginas que trata de 37 temas considerados estratégicos pelos militares. O primeiro a receber o documento foi o vice-presidente, general Hamilton Mourão.
A ideia dos militares é que, em um eventual segundo mandato de Jair Bolsonaro (PL) na presidência da República - ou a eleição de outro político de extrema direita -, a partir de 2025, o governo passe a cobrar pelo atendimento no SUS e que a classe média passe a pagar mensalidades nas universidades públicas.
Quando falamos que as eleições deste ano definirão o futuro do país, que serão as eleições das nossas vidas, é a esse tipo de proposta perversa e contrária aos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras e da grande maioria da sociedade que estamos nos referindo, diz o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo Camargo.
“O que está em jogo não é só a questão de quem vai governar o Brasil e, sim, qual o Brasil que vem aí se não derrotarmos Bolsonaro nas eleições de 2 de outubro”, diz o dirigente.
“Esse governo representa o Brasil que vai cobrar por serviços de saúde e por universidade pública, como propõem os militares", acrescenta Ariovaldo, que destaca: “A proposta não é cobrar dos ricos, e sim, da classe média que vem tendo seus rendimentos achatados, devorados pela inflação, e empobrece cada vez mais desde o golpe de 2016”.
Como disse o Sérgio Nobre [presidente nacional da CUT] no ato de 1º de Maio, “derrobar Bolsonaro nas eleições de outubro deste ano é fundamental para ressuscitar o Brasil”, recorda Ariovaldo Camargo.
O documento dos militares por um país para eles
O argumento do documento elaborado pelos militares é, segundo eles, o de “entregar um Brasil melhor aos nossos filhos e netos”. O projeto foi coordenado pelo general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), a ONG do coronel e torturador condenado por crimes na ditadura militar Carlos Alberto Brilhante Ustra, que afirma que o texto é “apartidário, aberto e flexível”, segundo o repórter Marcelo Godoy, do Estadão, que divulgou o conteúdo.
Em resumo, a ideia dos militares, categoria mais privilegiada desde janeiro de 2019, inclusive com acréscimo de mais de R$ 350 mil nos rendimentos, é manter Bolsonaro no poder nos próximos 13 anos ou eleger outro presidente de extrema direita para tirar do papel as ideias perversas que elaboraram.
Além de cobrar pelo atendimento no SUS e pela unversidade pública, o texto dos militares sugere que, a partir de 2025, “o Poder Público passe a cobrar indenizações pelos serviços prestados, exclusivamente das pessoas cuja renda familiar for maior do que três salários mínimos”. O mínimo hoje é de R$ 1.212, se a medida estivesse em vigor, quem ganha um pouco a mais de R$ 3.636 já pagaria as tais indenizações propostas pelos militares
O texto também critica o dominio de esquerdidas nas salas de aula e promete resolver tudo até 2035, quando os debates políticos e ideológicos serão equilibrados, com abertura para diferentes correntes de pensamento.
Quem é Villas Bôas?
O hoje general da reserva Eduardo Villas Bôas, que está na cadeira de rodas na foto que ilustra este texto, comandou o Exército de 2014 a 2019 e trabalhou muito para eleger Bolsonaro, inclusive pressionando para manter o ex-presidente Lula, que liderava as pesquisas de intenções de voto em 2018, preso.
Na véspera de o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar um Habeas Corpus do ex-presidente Lula (PT), ele postou um tuite pressionando os ministros. Só três anos depois, o STF anulou todas as ações do ex-juiz Sérgio Moro contra Lula. Os ministros consideraram Moro suspeito.
E em entrevista a Folha de S. Paulo deu a entender que pretendia "intervir" caso o Supremo Tribunal Federal concedesse Habeas Corpus ao ex-presidente Lula, em abril deste ano.