Ministra diz que pode retomar agenda da Comissão da Verdade
Golpe Nunca Mais: CUT entrega relatório e pauta Fórum Social Temático
Publicado: 26 Janeiro, 2016 - 17h57 | Última modificação: 27 Janeiro, 2016 - 12h12
Escrito por: Érica Aragão
Na última sexta-feira (22) a CUT entregou o Relatório da Comissão Nacional da Memória, Verdade e Justiça da CUT para a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes durante o Fórum Social Temático (FST) 2016, em Porto Alegre.
O documento foi entregue pelo ex-secretário de Políticas Sociais e coordenador da Comissão Nacional da Memória, Verdade e Justiça da CUT Nacional, Expedito Solaney durante a oficina que a secretaria promoveu no FST para divulgar o relatório. Segundo ele, a ministra se comprometeu a dialogar com o secretário Especial de Direitos Humanos, Rogério Sottili, para retomar a agenda da Comissão da Verdade.
“Não podemos admitir que o relatório da Comissão Nacional da verdade fique no Arquivo Nacional e que o nosso relatório também fique apenas no centro de documentação sindical da CUT (CEDOC). Nós queremos a divulgação, vamos fazer isso no Brasil todo”, disse Solaney.
O relatório resgata, em quatro partes, a história de trabalhadores, militantes, sindicalistas, organizações e sindicatos que sofreram durante a ditadura com mortes, torturas, intervenções e delapidação de patrimônio.
A primeira aborda as violações dos direitos humanos durante o período da ditadura militar, além de trazer casos de trabalhadores(as) que foram mortos em manifestações e que não foram incluídos no relatório da Comissão Nacional da Verdade.
A segunda apresenta atividades que foram realizadas pelos sindicatos CUTistas, Estaduais da CUT e Comissão da Verdade desde 2012. A terceira, traz as recomendações feitas pela entidade e pelas demais centrais que participaram do Grupo de Trabalho (GT) dos trabalhadores da Comissão Nacional da Verdade. A última aborda artigos de especialistas sobre as consequências da ditadura para a sociedade e uma entrevista com o ex-secretário de Direitos Humanos da Presidência, Paulo Vannuchi.
Resultado de três anos de pesquisa, o estudo cobra a apuração pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) de ao menos 18 assassinatos de trabalhadores por conta de manifestações políticas e atividades sindicais. Com exceção dos garimpeiros massacrados por policiais em Serra Pelada (PA), em 1987, conflito que tem número impreciso de mortes (entre 2 e10), mas deixou 93 desaparecidos, os demais são todos de rurais.
O coordenador do Centro de Documentação e Memória Sindical da CUT, Antonio José Marques (Toninho), apresentou na atividade uma relação de dados sobre graves violações de direitos humanos do relatório da Comissão Nacional e comparou com dados do relatório da CUT. “Dos mortos e desaparecidos relatados no documento oficial indicou 5% de sindicalistas e o relatório da CUT indicou 13%”.
da esquerda para direita: Toninho, Marcio e SolaneyToninho também falou sobre o livro “O golpe Militar contra os Trabalhadores e as Trabalhadoras. Sindicalistas mortos e desaparecidos durante a ditadura militar e a transição civil no Brasil: 1964-1988”. Organizado pelo CEDOC/CUT, o livro mostra a perseguição que o movimento sindical sofreu durante a ditadura.
Segundo o membro da “Comissão Estadual da Verdade Tereza Urban” e secretário-Geral da CUT Paraná, Marcio Kieller, fazer a divulgação no FST teve como objetivo apresentar a documentação da Comissão Nacional e da Comissão Estadual para os movimentos sociais. “Eles precisam conhecer a história com a visão dos oprimidos, estabelecer o contraditório. Precisam saber também que existe um grande acervo a disposição da sociedade”, complementou.
Participantes da Oficina Memória, Verdade, Justiça e reparação: a visão dos trabalhadores/asPara Solaney a CUT cumpriu sua tarefa e destacou que o debate neste momento político é muito importante. “O relatório também dialoga com a pauta do processo democrático que nós queremos reforçar. Não vamos admitir mais nenhum tipo de golpe”, finalizou.
Para a atual secretária Nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos, Jandira Uehara, a participação da CUT no FST promoveu o resgate da história dos trabalhadores na luta pela democracia. “A realização da oficina neste FST promoveu o resgate da memória e da verdade e trouxe para a classe trabalhadora e suas instituições a possibilidade e mecanismos de luta por justiça e reparação, reafirmando que o Golpe Militar de 64 foi um golpe de classe, voltado para conter o avanço das conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras”.