Escrito por: Andre Accarini

MNU celebra 44 anos com ato no Theatro Municipal de SP, onde nasceu o movimento

Em 7 de julho, o Movimento Negro Unificado completa 44 anos de luta. Ato denunciou violência contra a população negra e o racismo estrutural

Roberto Parizotti (Sapão)

O Movimento Negro Unificado (MNU) completa nesta quinta-feira, 7 de julho, 44 anos de luta contra o racismo no Brasil. Foi nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo que, em 1978, em plena ditadura militar, um ato histórico com mais de duas mil pessoas marcou o surgimento deste levante que, até os dias de hoje, se mantém na luta por direitos, por respeito e contra a violência praticada contra a população negra no país.

Para celebrar a data, o ato “MNU 44 anos”, reuniu militantes do movimento exatamente no mesmo local – o Theatro Municipal de São Paulo, para simbolizar a trajetória de lutas ao longo dos anos.

Roberto Parizotti (Sapão)E o momento pelo qual passa o Brasil não é diferente do que a população negra vivia nos tempos sombrios da ditadura. Se naquela época, mulheres e homens se manifestaram em um ato político contra a violência racial, em 2022, o grito é a denúncia de que o Estado brasileiro, sob o comando do presidente Jair Bolsonaro (PL), cujas características principais incluem justamente o racismo, é um governo que discrimina e exclui negras e negros.

“É um governo perigoso que demonstra ódio à população brasileira. Nosso país está sendo conduzido por um racista que eliminou todas as políticas construídos em favor da população negra ao longo dos tempos”, disse a coordenadora nacional do MNU, Ieda Leal, que também é secretária de Comunicação da CUT Goiás.

“Nós do MNU, nesse ato, queremos reafirmar que exigimos o país de volta rumo a construção de uma sociedade justa onde a diversidade racial seja respeitada e o ser humano seja valorizado”.

A expressão “Reaja ao racismo”, diz Ieda, é o lema principal do movimento neste dia. Ela explicou que se trata de um chamado à toda a população para que não se cale diante das inúmeras e cotidianas situações em que a população negra é vítima de racismo. Seja na diferenciação do atendimento nos mais diversos locais como na violência gratuita praticada pelas polícias.

Roberto Parizotti (Sapão)O levante

A secretária de Combate ao Racismo da CUT Anatalina Lourenço, secretária de Combate ao Racismo da CUT, presente na mobilização do MNU, falou sobre o racismo estrutural, que também se mostra presente nas relações de trabalho. Segundo ela, a começar pelos salários de trabalhadores e trabalhadoras, negros e negras que, em geral recebem menores salários e exercem trabalhos mais precarizados.

“A nossa Central não poderia deixar de parabenizar o MNU neste dia de luta. Uma luta que também é da classe trabalhadora, composta em grande parte por trabalhadoras e trabalhadores negros”, afirmou Anatalina Lourenço.

Numa retrospectiva da história, a dirigente reforça que o racismo no Brasil nunca deixou de existir. Ela ponderou, no entanto, que houve durante os governos democrático-populares dos ex-presidentes Lula e Dilma uma incursão na promoção de políticas que buscaram minimizar os impactos do que ela explica ser um “sistema ideológico que produz desigualdades raciais”, se referindo ao modelo de sociedade estimulado por governos opressores, de extrema direita, como o atual no Brasil.

“Era preciso continuar com as políticas de combate ao racismo, mas com o golpe, o Estado brasileiro passou a ser declaradamente um ‘necro estado’, ou seja, um governo que organiza suas políticas determinando quem vai viver e quem vai morrer”, ressaltou a secretária.  

Anatalina Lourenço citou também a perpetuação do racismo incentivado por Bolsonaro, cujas falas de conteúdo discriminatório acabam legitimando as atitudes racistas praticadas no dia a dia contra a população negra.

Por isso, este dia, disse Anatalina, “é um dia que reafirma a sociedade como racista e que ter consciência deste fato faz toda a diferença na luta contra o racismo”

“É um momento crucial para a reafirmação de que o MNU busca fazer a diferença e de que denuncia tanto a realidade [a existência do racismo] como essa política praticada pelo atual governo”, ela pontuou a secretária.

Atuação do MNU

O Movimento Negro Unificado atua não somente por meio de manifestações públicas, mas também no âmbito jurídico denunciando casos de racismo e cobrando ação da Justiça.

Outras frente de luta do MNU se dão por meio de articulações políticas, nos partidos, incentivando e lutando por mais candidaturas de negros e negras para que ocupem os espaços de poder, assim resultando na elaboração de políticas que promovam a igualdade racial.

“Temos feito um trabalho também no que se refere à moradia, cobrando do poder público assistência e políticas que beneficiem a população e situação de rua, cuja maioria é de pessoas negras”, reforçou Ieda Leal.

Além disso, por meio de campanhas que visa alertar para a invisibilidade de negros e negras na mídia. Uma delas foi a campanha “Se não me vejo, não compro” que teve o propósito de boicotar marcas cujas propagandas não incluíam a diversidade.

Na educação, o MNU atua cobrando o cumprimento correto de cotas para negros e negras nas universidades impedindo com que pessoas não negras se utilizem dessa importante ferramenta de inclusão.