Escrito por: CUT-PE
Pandemia, governos autoritários, ataques aos sindicatos e outros desafios não retiraram a resistência dos trabalhadores e trabalhadoras representados pela CUT-Pernambuco, que não parou nos últimos quatro anos
Ao iniciar a gestão 2019-2023 da CUT Pernambuco sob o comando do professor Paulo Rocha, em novembro de 2019, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava por completar seu primeiro ano de governo, já marcado pelo ataque ao movimento sindical, a exemplo da tentativa de retirar a consignação dos servidores federais e também desferia impropérios em direção aos movimentos sociais e às minorias, enquanto às escondidas colocava em risco o patrimônio nacional e o meio ambiente.
Por outro lado, o seu "Posto Ipiranga", o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentava uma pauta agradável ao capital. Em Pernambuco, foi iniciado mais um período do PSB no governo estadual, sem o estado crescer, estagnado e com um governo federal mais à direita do que o Governo de Michel Temer (MDB) e, que abertamente fazia oposição ao governo local. Portanto, vivenciamos basicamente um período de resistência, onde o desemprego e o atraso prevaleceram, aumentando assim a distância entre os mais pobres dos mais ricos.
Esse quadro, que era carregado de desafios, ficou mais difícil com a chegada da pandemia. Ainda em março de 2020 a CUT e as demais centrais, em Pernambuco, cancelaram as mobilizações do dia 18, Dia Nacional de Lutas, Protestos e Paralisações em Defesa dos Serviços Públicos, Empregos, Direitos e Democracia.
A pandemia acelerou a execução da reforma Trabalhista que aprofundou o desemprego, o trabalho precarizado e a informalidade e também nos obrigou a encontrar novas formas de mobilização e solidariedade. Assim, trabalhamos intensamente em home office, com jornadas extenuantes e, muitas vezes, sem as necessárias condições de trabalho. Foram incontáveis reuniões, debates, seminários, atos, Plenária Estadual, Plenária Nacional da CUT e até eleições.
Contudo, não deixamos de sair às ruas. Foi assim já no primeiro de maio de 2020, quando junto ao MST distribuímos alimentos à população carente. Atividade conjunta que foi o embrião das Mãos Solidárias e Cozinha Solidária, experiências que se firmaram em Pernambuco e se espalharam pelo Brasil. No 1º de Maio de 2021 aprofundamos a experiência do ano anterior.
Dessa forma, a CUT e suas entidades filiadas, distribuíram cestas básicas em diversas localidades da Região Metropolitana, indo a CUT-PE mais além: junto aos seus sindicatos, federações e movimento social, distribuímos alimentos prontos em Recife e Garanhuns, além de cestas básicas em diversos municípios do Estado, do litoral até Petrolina.
A CUT PE teve papel importante para articular a luta conjunta do movimento sindical e social. Em 2020 estivemos nas ruas pelo Fora Bolsonaro e a primeira atividade ocorreu em 10 de julho, com atos em Recife e atos simbólicos em diversas cidades de Pernambuco.
Retornamos às ruas em 07 de agosto, no Dia Nacional de Luto e de Luta em Defesa da Vida e do Emprego, com panfletagem pela manhã e ato a tarde em Recife e em todo o estado. Em outubro voltamos às ruas com atos no Dia do Servidor Público, atos em defesa do serviço público de qualidade para a população e das empresas públicas que estavam na mira da privatização, como Correios, Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica Federal e Eletrobrás.
Em 2021 as mobilizações pelo Fora Bolsonaro se ampliaram e continuamos a ser fundamentais na articulação das lutas e manifestações conjuntas do movimento sindical com o movimento social. Essas atividades sempre ocorreram em diversas regiões do estado e as da região metropolitana entre as maiores do país.
Com o lema “Comida no Prato, Vacina no Braço” realizamos bicicletadas, carreatas e caminhadas, sendo a mais marcante a 29M (29 de maio), quando, em Recife, enfrentamos a ferocidade da Polícia Militar, ocasião em que dois trabalhadores, que não estavam na manifestação, foram atingidos por bala de borracha com perda de visão e até hoje, infelizmente, sem as devidas punições.
Em 2022 continuamos nas redes e ruas por Comida no Prato, Vacina no Braço e, Fora Bolsonaro. Entre tantas atividades, voltamos a ter o 1º de Maio presencial. Também incentivamos nossa militância a participar ativamente do processo eleitoral, na perspectiva de retirar o obscurantismo do governo federal. Este ano novamente, junto com as demais Centrais, realizamos o 1º de Maio nas ruas.
Nesses anos da pandemia, em conjunto com o movimento social, construímos o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, o Grito dos Excluídos e Excluídas, tendo esses sido realizados nas ruas e, o 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, além de atividades com o povo quilombola. Também participamos de mobilizações junto a OAB na defesa da democracia, do emprego e contra a tortura.
Ao mesmo tempo em que estivemos nas ruas em atividades gerais, não deixamos de realizar atividades específicas com nossas entidades filiadas, acompanhamos negociações no setor público e privado, da cidade e do campo. Inclusive coordenando fóruns de servidores em diversas lutas. Articulamos ou participamos de várias lutas contra as reformas das previdências no Estado e Municípios. Ainda estivemos presentes em inúmeros conselhos sociais, tanto estaduais quanto municipais.
Essa relação com o movimento social faz com inúmeras vezes sejamos demandados para contribuir com o mesmo, seja contribuição política ou econômica, a qual não deixa de ser política.
Refletindo nossa aliança com os movimentos sociais, diversas secretarias tiveram a oportunidades de articular suas ações, e dos seus coletivos, com entidades e movimentos sociais, a exemplo da Plenária para debater o Estatuto da Igualdade Racial do Estado de Pernambuco; elaboração e lançamento da cartilha da juventude cutista contra a Reforma Administrativa e; incentivo à Economia Solidária, o que tem propiciado a um conjunto de mulheres vender seus produtos a sindicatos cutistas.
Ao mesmo tempo as secretarias e coletivos realizaram inúmeras atividades específicas da CUT- PE, sendo muitas vezes em conjunto com duas ou mais secretarias. Entre essas atividades destacamos: primeiro seminário de cultura; encontro da juventude cutista de Pernambuco; reuniões de pauta com assessorias de comunicação dos sindicatos; construção dos coletivos lgbtqia+, Direitos Humanos e, combate ao racismo. Assessoramento jurídico aos sindicatos de menor porte e às oposições cutistas. Realização de Encontros Estaduais de Mulheres da CUT Pernambuco e distribuição de material de higiene pessoal para mulheres em situação de risco. Mais, acompanhamos incontáveis eleições sindicais, fossem de sindicatos da rede pública ou privada, do campo ou da cidade.
Produzimos vários debates, tanto online quanto presenciais, com a participação de nomes respeitadíssimos no cenário nacional. Em meio a pandemia efetuamos, de forma online, a Plenária Estatutária da CUT PE e participamos da Plenária Estatutária Nacional. No início da pandemia produzimos debates com a participação de pernambucanos que são presidentes de confederações ou federação nacional, tendo isso contribuído para a formação do Fórum das Três Esferas da CUT, o qual, entre outros, articulou a luta contra a PEC 32, a Reforma Administrativa de Bolsonaro.
Mantivemos nossa articulação com a Escola Nordeste da CUT e com o Fórum das CUTs do Nordeste. Com isso, implementamos seminários regionais, cursos, plenárias e articulamos lutas e audiências. Destacamos a audiência que as CUTs dos nove estados solicitaram ao Ministro da Previdência, no início de julho deste ano, para reivindicar uma solução para a fila existente na Previdência, na qual, um milhão e oitocentos mil pessoas esperam pela liberação dos seus benefícios ou aposentadorias, sendo que cerca de setenta por cento dessas pessoas estão no Nordeste e em grande parte são trabalhadores e trabalhadoras do campo. Diante da nossa mobilização, o Ministro se comprometeu a acabar com a fila até o final do ano em curso.
A CUT-PE, junto com as frentes de lutas, sindicatos filiados, organizações da juventude e movimentos populares diversos (MST, UNE, etc.), repercutiu a luta do conjunto da população trabalhadora brasileira e intensificou as mobilizações, seguindo a orientação da luta nacional, para, de forma independente e autônoma, a partir da plataforma de reivindicações da classe trabalhadora, defender e chamar voto em Lula, o que contribuiu para pôr fim ao governo genocida de Bolsonaro.
CUT-PEO lugar da CUT-PE nessa tarefa de lutar de forma independente pelo voto em Lula , em 2022, foi fundamental para o diálogo com as bases sindicais e para a mobilização política nessa eleição estadual. Entretanto, no primeiro turno essa unidade para o voto em Lula não se configurou da mesma maneira para a discussão das candidaturas ao governo do estado.
Porém, no segundo turno da eleição para o governo do estadual, mesmo não tendo uma decisão formal adotada por instâncias da CUT-PE, ou mesmo do conjunto dos movimentos populares, houve uma mobilização espontânea da maioria da militância ligada à base sindical da CUT e das frentes de luta (Brasil Popular e Povo Sem Medo) pela alternativa de uma proposta de governo, abertamente aliada à candidatura Lula Presidente, contra a tucana, Raquel Lyra, representante da direita tradicional e que não se alinhou, formalmente, à nenhuma das candidaturas à presidência da República, mesmo que seja um fato, a presença de bolsonaristas de primeira linha em seu palanque político e, agora, em seu governo.
Por fim, como disse o poeta: Se muito vale o que foi feito, mais vale o que será.