Escrito por: Walber Pinto
Após o crime da Samarco há três anos, em Mariana, movimentos populares voltam a denunciar negligência de mineradoras em Minas Gerais
As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo preparam um dia de mobilização, audiência pública, debates e atos culturais, nesta segunda-feira (25), em Minas gerais, para protestar contra o rompimento criminoso da barragem do Córrego do Feijão da Vale, em Brumadinho, que completa um mês.
Os movimentos social e sindical irão às ruas prestar solidariedade às vítimas da maior tragédia ambiental, trabalhista e humana do país. Em diversas cidades do Brasil, os movimentos sociais também farão manifestações para lembrar as vítimas e exigir providências. Em São Paulo, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também prepara uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a partir das 18h.
Manifestação em Minas Gerais
Na segunda-feira, a partir das 12h, as entidades que formam as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizam a primeira ação do dia em solidariedade às vítimas e as famílias atingidas, no Parque da Cachoeira, em Brumadinho, uma das comunidades mais atingidas pela tragédia.
Por volta das 14h, no centro de Brumadinho, será realizado um ato para denunciar a negligência e a imprudência da Vale. Às 17h, um cortejo seguirá da Praça 7 até a Praça da Liberdade, na capital mineira.
Manifesto
Em manifesto divulgado na rede social nesta sexta-feira, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo denunciam os crimes da Vale diante do modelo de exploração dos recursos naturais e da precarização do trabalho na mineradora.
“A cada dia novos elementos surgem para comprovar a negligência e imprudência da Vale, e a leniência de órgãos públicos diante do poder econômico da empresa”, diz trecho do documento - confira a íntegra do manifesto no final do texto.
O secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, concorda que o crime que ocorreu em Brumadinho poderia ter sido evitado, mas a busca por lucros da Vale, segundo ele, colocou em segundo plano a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.
“Deveria ter sido evitado, mas a busca pelo lucro das mineradoras e a negligência das autoridades permitiu a retirada da vida e dos direitos dos trabalhadores e a destruição do meio ambiente”.
Segundo o dirigente, o dia de mobilização denunciará as privatizações e o modelo de mineração no Brasil. “Vamos prestar solidariedade às famílias e os atos serão importantes para chamar atenção da sociedade sobre o que se encontra por trás do modelo de mineração”, finaliza.
A presidenta da Confederação Nacional dos Químicos (CNQ), Lucineide Varjão, comenta que o ato desta segunda (25) é também em solidariedade aos trabalhadores da mineração que se encontram extremamente desprotegidos.
“Estamos nos juntando aos movimentos sociais, sindicatos e atingidos do estado de MG para prestar solidariedade às vítimas e também alertar a sociedade sobre as condições de trabalho nas mineradoras”.
“Não podemos esquecer que a Vale construiu o restaurante e uma ala administrativa embaixo do local onde ficava a barragem. Não pensaram na segurança dos trabalhadores e trabalhadoras e todos morreram soterrados pela lama”, critica a dirigente.
Buscas e aumento de vítimas da Vale, em Brumadinho
Na tarde desta sexta-feira (22), subiu para 177 o número de mortos, segundo a Polícia Civil. Outras 133 pessoas continuam desaparecidas.
A cada dia, novos locais estão sendo encontrados em meio ao mar de lama. Esta semana, foi localizado um contêiner onde eram realizadas reuniões dos trabalhadores da Vale. O Corpo de Bombeiros acredita que mais corpos podem estar no compartimento. Buscas desta sexta-feira (22) seguem no almoxarifado da mineradora, onde ao menos um corpo já foi retirado.
Vale pagará indenizações
Em meio ao clima de tensões, desamparo e falta de informações para as comunidades vizinhas, a Vale terá que pagar uma verba indenizatória a todos os moradores de Brumadinho. A decisão foi do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), após a terceira audiência de conciliação entre instituições do sistema de Justiça e a Vale na última quarta, 20.
O pagamento inclui auxílio emergencial a todos os moradores de Brumadinho (MG) e de outras cidades, que tenham casas até 1 km de distância das margens do rio Paraopeba, que se encontra totalmente contaminado após o rompimento da barragem da mineradora no Córrego do Feijão.
Mais risco de rompimento
No último dia 16, o risco de desmoronamento de mais uma barragem da mineradora Vale levou muitos moradores a saírem de suas casas. Sirenes foram acionadas no distrito São Sebastião das Águas Claras, município de Nova Lima (MG), e cerca de 200 pessoas foram retiradas pela Vale por causa do risco de rompimento.
Mas o despreparo das empresas, que coloca em risco a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, não é privilégio da Vale. Em Congonhas, região Central de Minas Gerais, os moradores reclamam da sensação de desamparo diante da falta de respostas da companhia siderúrgica CSN onde há riscos de rompimento da barragem da mina Casa de Pedra.
Em uma reunião com várias entidades locais ligadas à assistência social, psicologia, meio ambiente e outras, os moradores pediram para serem removidos da área de risco, além de receberem apoio psicológico.
Os crimes da Vale
O crime em Brumadinho foi o segundo rompimento de barragem da mineradora Vale. O acidente provocou a maior tragédia ambiental, trabalhista e humana do país, com centenas de mortos e desaparecidos.
O primeiro rompimento criminoso foi o da barragem da Samarco, mineradora brasileira de propriedade da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton, e ocorreu em Mariana, há três anos. O rastro de lama tóxica saiu de Mariana e percorreu 663 km até encontrar o mar, no Espírito Santo. O número de vítimas fatais na ocasião foi menor (19 pessoas) do que o desastre ambiental.
Confira horário e local de algumas das manifestações:
Açailândia (MA)
16h, na Praça da Bíblia.
Altamira (PA)
16h30, no semáforo da Pedro Gomes, com caminhada até a orla do cais.
Barra (BA)
8h, na rampa do Mercado Central.
Belém (PA)
17h, na Praça do Operário.
Belo Horizonte (MG)
17h30, na Praça Sete.
Bom Jesus da Lapa (BA)
7h, caminhada da Barrinha até o Santuário de Bom Jesus da Lapa.
Brasília (DF)
19h, no Sindicato dos Bancários.
Brumadinho (MG)
12h, ato em Parque das Cachoeiras.
12h, na praça de Córrego do Feijão.
14h, ato no monumento de Brumadinho.
Buritizeiro (MG)
17h, na Praça do Pescador.
Carinhanha (BA)
7h, na Câmara de Vereadores.
Florianópolis (SC)
17h, no Largo da Catedral, com marcha até a Alesc.
Ibirité (MG)
9h, na UEMG - Campus Ibirité. Exibição do filme "Buraco do Rato".
Juazeiro (BA)
8h, na Praça Dedé Caxias
Montes Claros (MG)
17h, na Praça Doutor Carlos.
Parauapebas (PA)
17h, na Praça Mahatma Gandhi.
Paulo Afonso (BA)
17h30, na Praça dos Aposentados.
Pirapora (MG)
17h, na Orla Fluvial do Rio São Francisco.
Salvador (BA)
10h na Praça Campo da Pólvora.
São Paulo (SP)
12h28. Ação "12h28 - Um crime e nenhuma sirene".
Confira a integra do manifesto
O LUCRO NÃO VALE A VIDA
SOMOS TODOS ATINGIDOS!
Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo realizarão no dia 25 de fevereiro ações de solidariedade às famílias atingidas e de denúncia para alertar a sociedade sobre as causas e consequências sociais e ambientais de mais um crime da Vale.
A próxima segunda-feira (25) será marcada pela data de um mês do Crime da Vale em Brumadinho. As buscas pelos 139 desaparecidos continuam e já foram confirmadas 171 mortes.
O Rio Paraopeba, fundamental para a sobrevivência da população ribeirinha e para o abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte, é um Rio morto. Os sinais de contaminação da água já podem ser vistos até no Rio São Francisco.
A cada dia que passa, novos elementos surgem para comprovar a negligência e imprudência da Vale, e a leniência de órgãos públicos diante do poder econômico da empresa. O lucro dos acionistas sempre esteve à frente da proteção da vida e do meio ambiente ameaçado por seus empreendimentos.
Os atingidos vivem a dor das perdas e angustia e indignação com a falta de respostas, enquanto há tentativas da empresa em protelar ou evitar as reparações (muitas vezes irreparáveis) e fugir da suas responsabilidades.
A repetição desse tipo de crime, pouco mais de três anos após a tragédia que abalou Mariana e o Rio Doce, deixa explícito que não há acidente. Foi lançada luz sobre um modelo de exploração dos nosso recursos naturais sem compromisso social e ambiental baseado em privatizações, precária regulação e fiscalização do setor público e nos interesses do capital financeiro.
Desde então, milhares de famílias em todo o Brasil foram alertadas para o risco, até então desconhecido, das barragens que podem destruir vidas e territórios inteiros em poucos segundos.
Pelos pontos aqui apresentados, nos manifestamos no dia 25 de fevereiro com a participação em audiências públicas, debates, intervenções culturais e atos para que esse crime não caia no esquecimento e na impunidade.
O lucro não vale a vida!
Pelo direitos dos atingidos, basta de impunidade!
São Paulo, 21 de fevereiro de 2019
Frente Brasil Popular
Frente Povo Sem Medo