Moradores da Cruzeiro protestam após morte de mulher negra durante ação policial
Jane Beatriz Machado da Silva, mãe, avó e bisavó, servidora da Guarda Municipal de Porto Alegre, foi assassinada durante uma ação da Brigada Militar na comunidade
Publicado: 09 Dezembro, 2020 - 09h38 | Última modificação: 09 Dezembro, 2020 - 09h47
Escrito por: Marco Weissheimer, do Sul21
Moradores da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, saíram às ruas, na tarde desta terça-feira (8), em protesto contra a morte de Jane Beatriz Machado da Silva, mulher negra, mãe, avó e bisavó, servidora da Guarda Municipal de Porto Alegre, durante uma ação da Brigada Militar na comunidade. A reportagem é de Marco Weissheimer, do Sul21.
Segundo relato de moradores, Jane teria sido empurrada por policiais que tentavam entrar em sua residência, caindo de uma escada que dá acesso à casa e batido a cabeça no chão, o que teria causado a morte.
A Brigada Militar, por sua vez, afirmou que, segundo o relato dos policiais envolvidos, a mulher não sofreu nenhuma agressão e teria sido vítima de um “mal súbito”. A Brigada anunciou que as circunstâncias que cercam a morte da moradora serão apuradas.
Além de funcionária da Secretaria Municipal de Segurança, Jane Beatriz Machado da Silva também era Promotora Legal Popular da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, organização que trabalha no enfrentamento da discriminação contra mulheres.
A Themis divulgou nota lamentando a morte e lembrando que Jane era formada pela primeira turma de PLPs da Cruzeiro, ativista dos movimentos negro, feminista e dos direitos humanos. A organização convocou lideranças dos movimentos sociais para uma reunião virtual, ainda nesta terça-feira, para discutir o caso e as medidas a serem tomadas.
A morte de Jane, pessoa conhecida e querida na comunidade, causou comoção entre amigos e familiares. No início da tarde, moradores ergueram várias barricadas ao longo da avenida Tronco, carregando faixas e cartazes denunciando a violência policial, e colocaram fogo em um automóvel.
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Jane Beatriz Machado da Silva. Foto: Divulgação
Os policiais envolvidos na ação foram retirados da comunidade e um destacamento do Pelotão de Choque da Brigada foi deslocado para a área ainda no início da tarde. Os moradores concordaram em liberar a passagem da avenida para um carro do Corpo dos Bombeiros apagar o fogo no automóvel incendiado, mas mantiveram os demais bloqueios.
Um pouco depois das 15h, o Pelotão de Choque da Brigada entrou em ação para dispersar os manifestantes que estavam bloqueando a avenida, usando bombas e balas de borracha. Os policiais militares chegaram a entrar por uma rua lateral para dentro da Cruzeiro atrás de alguns manifestantes, mas logo voltaram para a avenida Tronco.
Até a metade da tarde, não havia relato sobre pessoas feridas ou detidas nos protestos. Por volta das 16h, familiares e amigos de Jane foram para a frente do Postão da Cruzeiro.
As vereadoras negras recém-eleitas Laura Sito (PT), Karen Santos (PSOL) e Bruna Rodrigues (PCdoB), e o vereador Matheus Gomes (PSOL), além dos também vereadores eleitos Leonel Radde (PT) e Jonas Reis (PT) cobraram explicações da Brigada Militar e uma investigação independente sobre o ocorrido.
No Facebook, Jonas Reis afirmou: “o relato é que a polícia assassinou. Nosso mandato pede justiça para Jane e se soma ao povo que luta. Chega de mortes!”
Matheus Gomes acompanhou a mobilização da comunidade e publicou, em sua conta no Instagram, um vídeo que mostra um momento ação do Choque da Brigada Militar contra o protesto na Cruzeiro. “É preciso acompanhar de perto a investigação, é hora de acabar com a impunidade”, afirmou.
Na página de Jane no Facebook, amigos e familiares, comovidos, prestaram homenagens e cobraram explicações. Nesta quarta-feira, às 18h, haverá a manifestação “Justiça por Jane!”, na esquina da Rua Caixa Econômica com a Av. Cruzeiro do Sul.