Escrito por: Marco Weissheimer, do Sul21
Jane Beatriz Machado da Silva, mãe, avó e bisavó, servidora da Guarda Municipal de Porto Alegre, foi assassinada durante uma ação da Brigada Militar na comunidade
Moradores da Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, saíram às ruas, na tarde desta terça-feira (8), em protesto contra a morte de Jane Beatriz Machado da Silva, mulher negra, mãe, avó e bisavó, servidora da Guarda Municipal de Porto Alegre, durante uma ação da Brigada Militar na comunidade. A reportagem é de Marco Weissheimer, do Sul21.
Segundo relato de moradores, Jane teria sido empurrada por policiais que tentavam entrar em sua residência, caindo de uma escada que dá acesso à casa e batido a cabeça no chão, o que teria causado a morte.
A Brigada Militar, por sua vez, afirmou que, segundo o relato dos policiais envolvidos, a mulher não sofreu nenhuma agressão e teria sido vítima de um “mal súbito”. A Brigada anunciou que as circunstâncias que cercam a morte da moradora serão apuradas.
Além de funcionária da Secretaria Municipal de Segurança, Jane Beatriz Machado da Silva também era Promotora Legal Popular da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, organização que trabalha no enfrentamento da discriminação contra mulheres.
A Themis divulgou nota lamentando a morte e lembrando que Jane era formada pela primeira turma de PLPs da Cruzeiro, ativista dos movimentos negro, feminista e dos direitos humanos. A organização convocou lideranças dos movimentos sociais para uma reunião virtual, ainda nesta terça-feira, para discutir o caso e as medidas a serem tomadas.
A morte de Jane, pessoa conhecida e querida na comunidade, causou comoção entre amigos e familiares. No início da tarde, moradores ergueram várias barricadas ao longo da avenida Tronco, carregando faixas e cartazes denunciando a violência policial, e colocaram fogo em um automóvel.
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Jane Beatriz Machado da Silva. Foto: Divulgação
Os policiais envolvidos na ação foram retirados da comunidade e um destacamento do Pelotão de Choque da Brigada foi deslocado para a área ainda no início da tarde. Os moradores concordaram em liberar a passagem da avenida para um carro do Corpo dos Bombeiros apagar o fogo no automóvel incendiado, mas mantiveram os demais bloqueios.
Um pouco depois das 15h, o Pelotão de Choque da Brigada entrou em ação para dispersar os manifestantes que estavam bloqueando a avenida, usando bombas e balas de borracha. Os policiais militares chegaram a entrar por uma rua lateral para dentro da Cruzeiro atrás de alguns manifestantes, mas logo voltaram para a avenida Tronco.
Até a metade da tarde, não havia relato sobre pessoas feridas ou detidas nos protestos. Por volta das 16h, familiares e amigos de Jane foram para a frente do Postão da Cruzeiro.
As vereadoras negras recém-eleitas Laura Sito (PT), Karen Santos (PSOL) e Bruna Rodrigues (PCdoB), e o vereador Matheus Gomes (PSOL), além dos também vereadores eleitos Leonel Radde (PT) e Jonas Reis (PT) cobraram explicações da Brigada Militar e uma investigação independente sobre o ocorrido.
No Facebook, Jonas Reis afirmou: “o relato é que a polícia assassinou. Nosso mandato pede justiça para Jane e se soma ao povo que luta. Chega de mortes!”
Matheus Gomes acompanhou a mobilização da comunidade e publicou, em sua conta no Instagram, um vídeo que mostra um momento ação do Choque da Brigada Militar contra o protesto na Cruzeiro. “É preciso acompanhar de perto a investigação, é hora de acabar com a impunidade”, afirmou.
Na página de Jane no Facebook, amigos e familiares, comovidos, prestaram homenagens e cobraram explicações. Nesta quarta-feira, às 18h, haverá a manifestação “Justiça por Jane!”, na esquina da Rua Caixa Econômica com a Av. Cruzeiro do Sul.