Escrito por: Redação CUT
Anvisa manda suspender os testes da vacina chinesa Coronavac feita em parceria com Instituto Butantã depois de suicídio de voluntário. Bolsonaro comemora e diz que país precisa deixar de ser maricas
A procura por uma vacina contra o novo coronavírus (Covid 19) esbarra numa guerra política no Brasil entre o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB).
O presidente da República comemorou em suas redes sociais, a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender os testes da vacina Coronavac, que estavam sendo feitos pelo Instituto Butantã em parceria com a empresa chinesa Sinovac Biotech, nesta terça-feira (10). A pesquisa é feita com milhares de voluntários que participam dos testes de avaliação. Uns tomam a vacina e outros placebos.
Sobre a suspensão dos testes, Bolsonaro declarou: “ganhei mais uma” se referindo a seu adversário político, que defende a vacina chinesa.
O motivo da suspensão é a morte de um dos voluntários nos testes. Mas, a Anvisa, de acordo com os defensores da vacina, não levou em consideração que o voluntário, de 33 anos, cometeu suicídio, segundo informações divulgadas pela imprensa, não tendo nenhuma relação com os testes da Coronavac. Ainda não se sabe em que grupo ( vacina ou placebo) estava o homem que se suicidou. Mas, especialistas garantem que suicídio não é o motivo para suspender os testes.
Além de comemorar a suspensão da vacina, Bolsonaro, negacionista da pandemia, disse durante um evento público com empresários do setor turístico, que o Brasil “ tem que deixar de ser um país de maricas', sobre o medo do coronavírus que já matou mais de 162 mil pessoas no país.
"Tudo agora é pandemia. Tem que acabar com esse negócio. Lamento os mortos, todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade, tem que deixar de ser um país de maricas", afirmou o presidente.
"Temos que enfrentar, peito aberto, lutar", continuou. Em seguida, Bolsonaro disse que a geração hoje em dia é de "Toddynho, Nutella, zap".
Autoridades médicas, científicas e políticas criticaram duramente a decisão de suspender os testes. O Ministério Público (MP) pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue se houve interferência político-ideológica para a suspensão dos testes da Coronavac.
No início da noite o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu explicações à Anvisa sobre a suspensão dos testes da vacina. O órgão tem 48 horas para fornecer explicações mais aprofundadas sobre o atual estágio de testes em que se encontra a Coronavac.
Como funcionam os testes de vacinas
Para uma pesquisa científica seja feita no Brasil, é preciso de autorização tanto da Anvisa quanto da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), subordinado ao Ministério da Saúde. Enquanto a Conep tem por foco proteger quem participa da pesquisa, a Anvisa busca salvaguardar quem vai consumir o produto pesquisado. Sem a aprovação de uma entidade ou de outra, os testes não podem continuar.
O Conep diverge da Anvisa sobre a suspensão dos testes. Em entrevista ao UOL, o coordenador do Conselho, Jorge Venâncio, disse que “ ainda falta receber tudo para ter uma documentação completa, mas não é caso de pedir suspensão porque a possibilidade de não ter nada a ver com a vacina é gigantesca".