Escrito por: Redação CUT
Estudo divulgado pela Fiocruz aponta que as grávidas e as que estavam no período pós-parto estão entre as que mais morreram de Covid-19 no primeiro ano da pandemia, em especial as negras e as mais pobres
Um estudo divulgado pelo Observatório Covid-19 da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), nesta quinta-feira (19), apontou um aumento de 40% no número de óbitos maternos em 2020, primeiro ano da pandemia do novo coronavírus.
Foram registradas 549 mortes por Covid-19 de brasileiras grávidas e das que estavam no período pós-parto [puérperas]. A maioria das vítimas era gestante.
As chances de hospitalização de gestantes com diagnóstico de Covid-19 eram 337% maiores de que as demais camadas da população.
Para internações em UTI, as chances foram 73% maiores e o uso de suporte ventilatório invasivo 64% maior que os pacientes em geral com Covid-19 que morreram em 2020.
O estudo, feito com base nos dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) para óbitos por Covid-19 nos anos de 2020 e 2021, levou em consideração as mortes maternas causadas direta e indiretamente pela Covid e a expectativa de mortes que já ocorreriam por causa da pandemia.
E também comparou com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade entre os anos de 2015 e 2020 para estimar o número esperado de mortes maternas no país e comparar com o efetivamente registrado.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz, Raphael Guimarães, a rede de saúde pode até ter dado prioridade às gestantes e puérperas, no entanto, o atraso do início da vacinação foi decisivo para que essas mulheres fossem mais penalizadas.
Além disso, ele destaca que “o excesso de óbitos teve a Covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao Pré-Natal e condições adequadas de realização do seu parto no país”
Questões sociais agravam o problema
Em um recorte social do estudo, a desigualdade se mostrou determinante no que se refere às mortes maternas.
. A chance de a vítima ser uma mulher negra foi de 44%.
. Entre as que residiam em zonas rurais a chance foi de 61%.
. Entre as que eram internadas ou precisavam de atendimento fora do município onde residem foi de 28%.
Para o pesquisador da Fiocruz, é preciso reconhecer que a Covid-19 não atingiu de forma homogênea todos os grupos sociais e demográficos. Ele explica que as estratégias de monitoramento devem ser orientadas para garantir equidade das políticas públicas, incluindo as políticas de saúde.
“O estudo mostrou que a morte materna é marcada pelas iniquidades sociais, que têm relação estreita com a oferta de serviços de qualidade”, diz o pesquisador em artigo para a Fiocruz.
Os autores do estudo também apontam que o aumento das mortes entre gestantes e puérperas está associado com o aumento de pobreza e fome e chamam a atenção para um sistema de saúde que não estava preparado para atender essas mulheres.
Pico
O levantamento mostrou ainda que a maior parte de mortes ocorreu entre os meses de abril e agosto e entre outubro e dezembro de 2020. O pico de mortes se deu em junho daquele ano, quando o chamado excesso de mortes foi de 56%.
Morte materna
De acordo com definição do Ministério da Saúde, Morte materna é a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez.
O óbito é causado por qualquer fator relacionado ou agravado, como no caso de Covid-19, pela gravidez ou por medidas tomadas em relação à morte.
Portanto, a condução do enfrentamento à pandemia pelo governo Bolsonaro, com o atraso da vacinação, foi fator determinante para a elevação das mortes maternas em relação à estimativa que se fazia.
*com informações da FioCruz