Escrito por: Redação CUT
Ex-assessor do filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro, acostumado a sacar R$ 5 mil, R$ 10 mil em um único dia, mora em um beco no bairro da Taquara, no Rio, em uma rua humilde
Apesar de ter movimentado R$ 1,2 milhão na sua conta corrente em apenas um ano, o policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, motorista e segurança do deputado e senador eleito, Flávio Bolsonaro (PSL), até outubro deste ano, quando pediu exoneração, vive uma vida simples.
Reportagem do jornal O Globo foi até a viela onde Fabrício mora com a mulher, Márcia Aguiar. É uma casa humilde, que fica em um beco no bairro da Taquara, na Zona Oeste do Rio, onde há varais do lado de fora, fios emaranhados e canos aparentes. Quando a reportagem foi ao local, tapetes secavam no parapeito ainda sem janela.
A conta corrente de Fabrício, no entanto, conta a história de uma pessoa com uma condição financeira muito melhor. De acordo com o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), Fabrício recebia depósitos sistemáticos de funcionários do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e fazia saques frequentes em dinheiro.
Segundo o COAF, o ex-motorista do filho mais velho do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), chegou até a passar cheques no total de R$ 24 mil para a futura primeira-dama Michele Bolsonaro. O relatório do Conselho também cita movimentações entre contas dele e de sua filha, Nathalia Melo de Queiroz. Até o mês passado, Nathalia era assessora lotada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
Além disso, o COAF identificou um grande volume de depósitos e saques inferiores a R$ 10 mil, o que, segundo o relatório, seria para dificultar a identificação da origem e do destino do dinheiro.
As movimentações atípicas, “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” do ex-assessor parlamentar foram comunicadas ao COAF pelo banco.
Amigo desde a década de 1980 de Fabrício, que sumiu após a denúncia publicada nos jornais na quinta-feira (6), Bolsonaro pai se limitou a dizer que o dinheiro que a esposa recebeu era parte do pagamento de R$ 40 mil que ele emprestou ao amigo e esqueceu de declarar no Imposto de Renda. Para ele, basta se entender com a Receita Federal e pagar a multa.
"Se eu errei, arco com a minha responsabilidade com o Fisco sem problema nenhum", disse Bolsonaro, no último sábado (8). Pela Lei nº 4.729/1965, é crime "prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei".
Já Flávio se limitou a dizer que tinha falado com o ex-funcionário e este lhe dera uma ‘explicação plausível’ para a movimentação. Só não disse qual explicação foi essa.
Escândalo engavetado há seis meses
O Ministério Público do Estado do Rio teve acesso ao relatório do COAF, preparado para a Operação Furna da Onça, há cerca de seis meses. Os procuradores, porém, não encontraram indícios de envolvimento dos 22 deputados cariocas citados no relatório do Conselho com o esquema desmantelado pela investigação que está fazendo em conjunto com a Polícia Federal sobre crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos e de mão de obra terceirizada, principalmente no Detran-RJ.
Flávio Bolsonaro não é investigado na operação. Mas, como os dados de todos os servidores passaram por um pente fino, as movimentações atípicas do motorista foram detectadas.
Operação Furna da Onça
A Operação Furna da Onça, que investiga esquema de indicações a cargos no governo do estado do Rio de Janeiro, prendeu 22 deputados no dia 8 de novembro. De acordo com um dos presos, o deputado estadual André Correa (DEM), o esquema funcionava há pelo menos 20 anos.
Segundo a GloboNews, André Correa disse à PF que os deputados mais votados em cada região indicavam pessoas para exercer funções públicas – não só na esfera estadual, como também na municipal e na federal.
A Furna da Onça descobriu que parte dos cargos era no Detran, mas também havia o pagamento de mensalinhos que chegavam a R$ 400 mil. Correa admitiu que a manobra era para construir maioria parlamentar, ou seja, participação política no governo.
Além dos dados do COAF e do que descobriu nas investigações, a PF tem depoimentos de delatores, análise dos sistemas e dados de contabilidade de doleiros, cruzamento de ligações telefônicas, interceptações e relatórios da Receita para indicar os suspeitos.