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Motoristas de aplicativos do RS paralisam e cobram reajuste das tarifas

Houve manifestações em diversas cidades brasileiras, como em Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e Florianópolis.

Publicado: 18 Março, 2021 - 14h43 | Última modificação: 18 Março, 2021 - 16h13

Escrito por: CUT - RS

Reprodução
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Os motoristas de aplicativos ((Uber, 99, Cabbify e Indriver) do Rio Grande do Sul realizaram paralisações, nesta quarta-feira (17), e protestaram contra as condições precárias de trabalho, agravadas pela pandemia e os sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis após o golpe de 2016. Os trabalhadores cobram reajuste no valor do quilômetro rodado, o fim das promoções (99 Poupa e Uber Promo) e vacinação contra a Covid-19.

Houve manifestações em diversas cidades brasileiras, como em Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e Florianópolis. Na capital gaúcha, os condutores fizeram concentrações em vários pontos e saíram em carreatas até as sedes dos aplicativos, passando pelo centro da cidade e defronte do Palácio Piratini.

Aumentos nos preços dos combustíveis

Segundo Carina Trindade, secretária-geral do Sindicato dos Motoristas de Aplicativos do Rio Grande do Sul (Simtrapli–RS), o estopim da mobilização se deu, em nível nacional, a partir do sexto aumento do preço dos combustíveis em 2021. “Já fizemos uma paralisação e esta é a segunda, pois não temos como trabalhar com tantos aumentos”.

Ela explica que a disparada dos preços dos combustíveis é mais um fator na equação que está tornando o trabalho dos motoristas de aplicativos ainda mais extenuante. “A primeira empresa de aplicativos que se instalou em Porto Alegre foi a Uber e, desde então, diversas outras vieram também. Com isso, começou a baixar o valor do quilômetro rodado, e agora, com os aumentos dos combustíveis, ficou uma situação insustentável”.

Valor do quilômetro rodado está totalmente defasado

Carina destaca que as plataformas, ao invés de aumentar o valor repassado para os motoristas, manteve os valores congelados, mesmo com a elevação dos preços da cesta básica e dos combustíveis. Como a primeira mobilização, realizada em 23 de fevereiro, não surtiu o efeito desejado, a segunda busca chamar a atenção das empresas que gerenciam as plataformas e dialogam com a sociedade.

“É inviável que a gente pague quase R$ 6,00 pelo litro de gasolina ou quase R$ 4,00 o metro cúbico do gás, sem que haja um aumento por parte das empresas no valor do quilômetro rodado”, protesta.

A dirigente sindical lembra ainda que a criação de promoções, por parte das empresas, sacrificou ainda mais os motoristas. Essas iniciativas diminuem o valor repassado ao motorista. 

“A gente pede também o fim do do 99 Poupa e do Uber Promo. Sei que essas promoções ajudam muita gente, mas para nós é muito ruim. A empresa deveria tirar da porcentagem dela. Fazer um desconto para o passageiro em cima do valor do motorista é inviável. Já temos o custo do veículo, da gasolina, do óleo que temos que trocar todo mês, pneus e alimentação”, justifica

Com essa situação, segundo Carina, os motoristas acabam tendo que trabalhar 12, 14 e até 16 horas por dia para poder pagar as contas. Com as promoções, em alguns casos, os motoristas têm até prejuízo em certas corridas, tendo que pagar para levar passageiros. Somado a isso, ainda tem a pandemia que espalha medo e pavor na categoria.

Medo de ser contaminado na pandemia

A sindicalista lembra que os motoristas, ao trabalharem, estão colocando suas vidas em risco durante a pandemia. Ela conta que a categoria está muito assustada, trabalhando em um cenário de aumento de contaminações e mortes.

Carina, que é motorista de aplicativo, não participou da mobilização, pois está infectada pelo coronavírus. Sentindo os efeitos da doença, ela desenvolveu um quadro de pneumonia e, obviamente, não pode trabalhar. Ela compartilha o receio com seus colegas, que recebem diariamente notícias de adoecimento e morte de diversos profissionais.

"Estamos trabalhando com um sentimento de perda, temos o medo de pegar essa doença a qualquer momento, sem ter a escolha de poder parar de trabalhar. Mas quando pega, temos que parar", afirma.

Ela salienta que a 99 disponibiliza o serviço "Compartilha", que coloca outras pessoas dentro do mesmo carro, aumentando o risco de contágio para motoristas, usuários e seus familiares.

O presidente do Simtrapli-RS, Germano Weschenfelder, recorda da morte de um colega. “As empresas não prestaram solidariedade para a família. Nem enviaram uma mensagem de apoio e uma indenização, pois essa doença já foi considerada acidente de trabalho”, lamenta.

Organização é a saída para obter conquistas

A secretária-geral do Simtrapli-RS acredita que é momento de se organizar enquanto categoria, mesmo que existam dificuldades e até descrença diante das mentiras espalhadas contra o movimento sindical e a luta dos trabalhadores.

“Infelizmente, tem um pessoal que não quer saber de sindicato ou de associação, mas tudo bem, mesmo assim, esse povo tem que estar organizado, de alguma forma. O Simtrapli já existe há algum tempo e estava parado, agora estamos nos reorganizando, com uma turma mais experiente e com o apoio da CUT. Sem organização, a gente não chega a lugar nenhum”, aponta Carina.

Para o secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, a organização é fundamental para obter conquistas. “Sem ter uma personalidade jurídica, que é um sindicato, eles terão muita dificuldade para acessar vários espaços, protocolar as pautas de reivindicações e fazer as negociações que têm que ser feitas”.

“Estamos acompanhando os motoristas de aplicativos para ajudar a criar as condições, na perspectiva de construir uma entidade sindical de luta da categoria, a fim de conquistar uma remuneração digna e melhores condições de trabalho”, aponta Nespolo.  

Avanços para motorista do Uber no Reino Unido

Por coincidência, a mobilização ocorreu no mesmo dia em que a Uber foi obrigada a conceder os benefícios conquistados pela categoria no Reino Unido, após decisão da Suprema Corte de que motorista de aplicativo é trabalhador e não autônomo ou colaborador.

Cerca de 70 mil motoristas garantiram direitos de trabalhadores formais, como um salário mínimo, pagamento de férias equivalente a 12,07% dos rendimentos e registro automático em um esquema de aposentadoria ligado à empresa.

A decisão da Justiça vale para os motoristas da Uber que atuam na região, formada por países como Inglaterra, Escócia e País de Gales. Já os motoristas que entregam comida pelo Uber Eats continuam classificados como autônomos, ou seja, sem direitos.

Assista à reportagem do Seu Jornal da TVT aqui