Escrito por: Redação CUT

Movimento feminista convida mulheres de todo país para organizar a resistência

Em carta, movimento convidou todas as brasileiras de esquerda a aderir a luta por democracia, direitos e modo das mulheres viverem

Lula Marques

Depois de construir as marchas das Margaridas e das Mulheres Indígenas, que levou mais de 100 mil mulheres do campo, das águas, das florestas e das cidades a Brasília entre os dias 12 e 14, o movimento feminista decidiu convidar todas as brasileiras de esquerda, que lutam pela democracia e por um país mais justo e para todos, para participar de uma jornada preparatória para o Encontro Nacional do Movimento Feminista no Brasil.

Na carta convocatória para o encontro que será em 2020, em Pernambuco, o movimento feminista afirma que fará “deste encontro um território das mulheres capaz de expressar a força política feminista, vivenciar nossa criatividade, impulsionar as nossas lutas e  apontar caminhos para um projeto coletivo de emancipação que alimente nossa ousadia e esperança”.

No documento, elas lembram ainda o momento difícil que o país vive com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, “eleito com base em desinformação e manobras no judiciário”, afirmam que a eleição do capitão “é a continuidade do golpe parlamentar e midiático contra Dilma Rousseff, primeira mulher eleita para a presidência do país”, criticam a subordinação do país ao capital transnacional, a liquidação do patrimônio nacional, a retirada de direitos e os ataques às mulheres.

O texto continua convidando as mulheres a aderirem a resistência “para  defender a democracia, os direitos, nossos territórios e modos de viver”.

E alertam que o desafio “exige muita organização de nossos movimentos e a capacidade de nos articularmos horizontalmente para fazer as lutas que possam alterar a vida cotidiana de nós mulheres e transformar a história”.

Confira a íntegra da carta:

Por um Encontro Nacional do Movimento Feminista

Brasília, 13 de agosto de 2019.

Marcha das Margaridas  2019

Estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil. O governo Bolsonaro, eleito com base em desinformação e manobras no judiciário, é a continuidade do golpe parlamentar e midiático contra Dilma Rousseff, primeira mulher eleita para a presidência do país. Ele opera subordinando o país ao capital transnacional, liquidando patrimônio nacional, retirando direitos e atirando sobre as costas de nós mulheres os custos da crise. É um governo que se expressa por deboche e cultua o ódio às mulheres, ao povo negro e LGBT, aos povos indígenas, a classe trabalhadora e incita a violência contra aqueles e aquelas que lutam pela democracia. Contra isso, nos levantamos todas. Em todo o mundo e na América Latina, nós mulheres resistimos ao crescimento da extrema direita fascista, ultraneoliberal e fundamentalista.

O movimento feminista está nas ruas, com mobilizações multitudinárias. Está nas periferias, denunciando o genocídio da juventude negra. Está nos territórios dos campos, das florestas e das águas, resistindo ao desenvolvimento predador. Preservando as sementes, semeia alternativas e constrói novos modos de viver, e viver bem. Está nas greves somando forças e  reivindicando os direitos das mulheres. Está entre os povos tradicionais, resistindo para existir. Está nas ocupações de terra, nas ocupações urbanas, nas ocupações de escolas e universidades, enfrentando a mercantilização de tudo e reivindicando os comuns como projeto de sociedade. Está nas redes de solidariedade entre nós mulheres, cuidando umas das outras, protegendo nossas vidas, acolhendo nossas dores, cultivando a nossa autonomia, a liberdade para desejar e o irrefreável desejo de ser livre. Está nas atitudes e nos sonhos das meninas e adolescentes, está nas artes das novas gerações, está nas torcidas de futebol. O feminismo é uma força política em expansão.

Isso começou há muito tempo. Na resistência à ditadura, surgiram os primeiros grupos feministas, assim denominados. Em 1979, fizemos o primeiro encontro nacional feminista. De lá para cá, muita coisa mudou. O movimento cresceu, mas estamos enfrentando uma conjuntura tão difícil quanto aquela. Nunca tivemos uma democracia que nos contemplasse. Mas neste momento resistir é defender a democracia, os direitos, nossos territórios e modos de viver. Esse desafio nos exige muita organização de nossos movimentos e a capacidade de nos articularmos horizontalmente para fazer as lutas que possam alterar a vida cotidiana de nós mulheres e transformar a história.

A história nos desafia a construção de um encontro de todos os movimentos feministas nacionais e regionais, setoriais de mulheres de outros movimentos sociais, de partidos e coletivos locais que se sentem convocados a responder a este momento político. Um encontro capaz de reunir todas as forças coletivas que constroem o feminismo antipatriarcal, antirracista e anticapitalista. Um encontro capaz de mobilizar e ampliar a força política das mulheres para enfrentar o desmonte do Estado, a criminalização das nossas lutas, a violência sistêmica, o controle sobre nossos corpos. 

Em 2020, em Pernambuco, faremos deste encontro um território das mulheres capaz de expressar a força politica feminista, vivenciar nossa criatividade, impulsionar as nossas lutas e  apontar caminhos para um projeto coletivo de emancipação que alimente nossa ousadia e esperança.

Em Brasília, nesta semana em que nos juntamos na Marcha das Mulheres Indígenas e na Marcha das Margaridas, convidamos todos os movimentos de mulheres do campo de Esquerda a se juntarem nessa jornada, rumo a um Encontro Nacional do Movimento Feminista no Brasil.

Assinam esta carta:

  1. Amélias – Mulheres do Projeto Popular
  2. Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB
  3. Articulação de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB
  4. Ayabás (PI)
  5. Coletivo das Vadias (PE)
  6. Coletivo de Mulheres Feministas Marias do Pará
  7. Coletivo de Mulheres Marieta Baderna – Rede Nacional de Advogados Populares/RENAP
  8. Coletivo Mangueiras
  9. Coletivo Mulesta (PE)
  10. Coletivo Nacional de Mulheres do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
  11. Coletivo Nacional de Mulheres do MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração
  12. Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas – FENATRAD
  13. GT Gênero da ABA – Associação Brasileira de Antropologia
  14. GT Mulheres da ANA – Articulação Nacional de Agroecologia
  15. Liga Brasileira de Lésbicas – LBL
  16. Marcha Mundial de Mulheres
  17. Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia – MAMA
  18. Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste – MMTR/NE
  19. Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
  20. Movimento Nacional de Cidadãs Positivas
  21. Mulheres da Comissão Nacional de Quilombolas – CONAQ
  22. Mulheres da Consulta Popular
  23. Mulheres da UNALGBT
  24. Mulheres do Levante Popular da Juventude
  25. Mulheres do Movimento Camponês Popular
  26. Mulheres do MPA – Movimento de Pequenos Agricultores
  27. Mulheres do MTST – Movimento de Trabalhadores Sem-Teto
  28. Partida (PE)
  29. Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
  30. Rede de Mulheres Negras do Nordeste
  31. Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
  32. Rede Nacional Feminista Antiproibicionista
  33. Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT
  34. Secretaria Nacional de Mulheres do PCdoB
  35. Secretaria Nacional de Mulheres do PT
  36. Secretaria Nacional de Mulheres Trabalhadoras da CTB
  37. Secretaria Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais da CONTAG
  38. Setor de Gênero do MST
  39. União Brasileira de Mulheres
  40. União de Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira – UMIAB