Escrito por: Luiz Carvalho

Resistência contra o golpe deve ser internacional

Congresso da CUT reúne lideranças de trabalhadores da Itália e da Argentina para discutir saída ao ataque transnacional do neoliberalismo e convocam para jornada no Uruguai

Roberto Parizotti


Dedicada a discutir articulações internacionais para frear o avanço do neoliberalismo na América Latina, a segunda mesa do primeiro dia do Congresso Extraordinário da CUT trouxe dirigentes que enfrentam em seus países desafios semelhantes aos brasileiros na atual era golpista.

Secretário de Políticas Internacionais da Confederação Geral Italiana de Trabalhadores (CGIL), Fausto Durante, apontou que na Itália a classe trabalhadora também vive um processo de resistência a uma Reforma Trabalhista e da Previdência que tem como alvo a retirada de direitos.

Segundo ele, por lá, além de manifestações de massa, a CGIL optou por organizar referendos populares que recolheram mais de quatro milhões de assinaturas.

Por conta dessa mobilização, a Suprema Corte acatou a sugestão da confederação de evocar a responsabilidade social das empresas em relação a todos os contratos de trabalho, diretos e indiretos, e a determinação de o trabalhador reassumir o posto imediatamente quando o juiz do Trabalho decide que a demissão for feita sem justa causa.

Também por conta dessa consulta foi anulada a norma que permitia às empresas de compensar trabalhadores com um voucher, papel sem valor nominal que empresas utilizam para pagar os trabalhadores.

O objetivo agora é construir uma lei de iniciativa popular que tem como uma das prioridades a organização no local de trabalho.

“Ao longo de dois meses, tivemos mais de 40 mil assembleias em toda Itália. E agora o Congresso Nacional italiano vai ter de dar resposta à lei de iniciativa popular e isso pode ser acrescentado a experiências de greve geral e manifestações populares. Essas são novas estratégias sindicais possíveis que podemos adotar”, afirmou.

Argentinos colhem fruto neoliberal

Em meio a uma onda de presos e desaparecidos políticos em seu país, o secretário-geral da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), Hugo Yasky, iniciou sua intervenção com uma questão que inquieta todos os democratas argentinos: onde está José Santiago Maldonado?

O jovem desapareceu há um mês em uma reserva Mapuche – povos indígenas da região sudoeste do país – durante mais um ataque da política nacional que trabalha para proteger um latifúndio de uma multinacional e busca desalojar os povos que ainda se encontram na região.

Yasky conta que também Milagro Sala, militante social, descendente de indígenas e secretária-geral da Associação Nacional de Trabalhadores do Estado, segue desde janeiro de 2016 presa, dois meses após a eleição de Maurício Macri, sob alegação de incitação à violência, após organizar uma mobilização no país.

Na avaliação de Yasky, mais do que uma opção, torna-se uma necessidade a unidade entre os diversos movimentos progressistas na América Latina.

“Atualmente, temos na Argentina experiência de governo que tem características muito parecidas com os governos brasileiro, do México, do Peru e da Colômbia, mas que não nasceu a partir de golpe de estado, como Temer. Não soubemos construir correlações de forças, Marcri tem gabinestes só de empresários e alguns setores dos populares foram cooptados e votaram e foram contra os próprios interesses. Não podemos permitir uma nova intervenção militar dos EUA em nosso continente e para isso precisamos de unidade para organizar a luta e a resistência”, defendeu.

Jornada continental

Para avançar neste sentido, o secretário-geral da Confederação Sindical das Américas (CSA), Victor Baez, convocou a todos os movimentos comprometidos com a democracia a participarem da Jornada Continental contra o Neoliberalismo.

“Não é uma data só, é um processo que tem ideia compartilhada de que somos a região mais desigual do planeta e não podemos atuar de forma dispersa contra a agenda econômica capitalista que coloca em risco os avanços que temos conquistado”, falou.

O encontro acontece entre os dias 16 e 18 de novembro na capital do Uruguai e iniciará com uma greve e uma grande marcha pelas ruas da cidade. A iniciativa inclui a CUT e outras organizações brasileiras e estrangeiras de luta pelos movimentos sindical e sociais.

Ao término da mesa, o secretário adjunto de Relações Internacionais, Ariovaldo Camargo, convocou toda a base cutista para participar desta mobilização de resistência por nenhum direito a menos.

“Faremos no Uruguai a maior manifestação da América Latina de enfrentamento ao neoliberalismo. Somos todos agentes de transformação espaços sindicais, no local de trabalho e pela América unida”, definiu.