Escrito por: Tiago Pereira, da RBA

Movimentos lançam 10 medidas para conter a variante delta em São Paulo

Movimentos sociais cobram diálogo e transparência do Poder Público para evitar novo pico da pandemia na capital paulista

GOVSP/Fotos Públicas

A Coalizão pela Vida, a Frente São Paulo pela Vida e Plenária de Saúde da Cidade de São Paulo apresentam 10 medidas urgentes para o enfrentamento da covid-19 na capital paulista. Em especial, mais de 500 movimentos, organizações e acadêmicos reunidos nas três iniciativas, estão preocupados com a disseminação da variante delta, mais transmissível que as demais. Nesse sentido, o documento apresentado nesta quarta-feira (1º) reúne iniciativas essenciais a serem tomadas pelo Poder Público.

Se no âmbito federal, as políticas adotadas ou negligenciadas tiveram a marca do “negacionismo”, os ativistas apontam que as ações tomadas pela prefeitura e governo do estado são dispersas, algumas vezes tomadas sem o devido rigor científico. Além disso, a pandemia agravou as desigualdades sociais na maior cidade do país. A vacinação avança mais rapidamente em bairros nobres da cidade, enquanto as mortes se acumulam de maneira desproporcional nas áreas periféricas.

As medidas sugeridas vão desde a implementação de campanhas de comunicação para alertar à população para os riscos da variante delta à expansão de programas de segurança alimentar voltados às populações vulneráveis. Passam também pela distribuição de máscaras de alta proteção e o fortalecimento da rede básica de saúde, além de mais transparência nos dados divulgados pela prefeitura.

Falta diálogo

Os representantes das três organizações reclamam também da falta de interlocução do Poder Público com a sociedade civil. Em função disso, clamam pela implementação de uma “mesa de diálogo”, para discutir as melhores estratégias no combate à doença. Especificamente, alegam que estão há mais de três meses aguardando uma audiência com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

“Temos propostas para ajudar o Poder Público. Sabemos que a pandemia é um problema muito complexo, e a prefeitura sozinha não vai dar conta. Mas, em vez disso, preferem fazer um ‘passaporte da morte'”, disse Beto Gonçalves, um dos coordenadores da Coalizão pela Vida.

Ele criticou o “passaporte da vacina” anunciado pela prefeitura de São Paulo na semana passada, que libera a circulação de pessoas imunizadas com ao menos uma dose em shoppings, restaurantes e outros locais fechados. “Passaporte de vacina com primeira dose não tem respaldo científico”, ressaltou. Além disso, os protocolos anunciados pelo município para eventos realizados com mais de 500 pessoas aceita a utilização de máscaras de pano, bem menos seguras que os modelos PFF2/N95.

As 10 medidas

A primeira é a realização de ampla campanha de comunicação, em todos os meios disponíveis, para alertar sobre os riscos da variante delta. O principal recado a ser dado é que até mesmo os imunizados devem manter os cuidados necessários, dado o risco de infecção pela nova variante. Outra medida é a testagem em massa da população, combinada com rastreamento de contatos para busca ativa de casos, incluindo assintomáticos.

Gonçalves lembra que a prefeitura chegou a anunciar a aquisição de 1 milhão de testes, mas destaca que a quantidade é insuficiente. Além da falta de transparência na divulgação dos resultados. Também reivindicam a distribuição de máscaras de alta proteção, principalmente nos locais de grande circulação. Segundo a prefeitura, 500 mil unidades estariam sendo entregues nas UBSs, mas apenas para pacientes sintáticos e seus familiares

E defendem também um “plano emergencial” para melhorar a ventilação natural em ambientes fechados, especialmente nas escolas e nos transportes coletivos. Passado um ano e meio da pandemia, pouco foi feito nesse sentido. “Se a prefeitura não tem dinheiro, vamos convocar a sociedade, as empresas, as igrejas e entidades filantrópicas”, sugere o ativista.

Nesse sentido, chamam a atenção para a necessidade de reverter plenamente a redução das frotas de ônibus que circulam pela cidade. A superlotação nos transportes é uma das principais causas de contaminação entre os trabalhadores.

Investimentos na atenção primária

Outras sugestões passam pelo aumento do apoio material e institucional no treinamento técnico dos agentes comunitários de saúde, para prepará-los para o enfrentamento da variante delta. Além disso, solicitam a implementação de um programa de “cuidado integral” das vítimas da covid, em especial para tratar os portadores da chamada covid longa e aqueles que ficaram com sequelas.

Por outro lado, destacam a importância de avançar a vacinação em áreas periféricas. Nesse sentido, recomendam inclusive a utilização de unidades móveis de vacinação para acessar as comunidades mais distantes, fazendo a busca ativa dos não vacinados.

Sensibilidade social

Por fim, as duas últimas medidas reivindicam a suspensão das remoções e despejos durante a pandemia, além do reforço dos programas de distribuição de alimentos para as famílias em situação de vulnerabilidade. “É importante dizer que na pandemia mais de 36 mil pessoas foram despejadas no município. Ou seja, quem mais sofre são as pessoas de baixa renda, que vivem em total desamparo pelo poder público”, disse Graça Xavier, militante do movimento por direito à moradia e uma das coordenadoras da Frente São Paulo pela Vida. “São pessoas que estão sem emprego, sem moradia e sem comida no prato. E sem vacina no braço”, acrescentou.