MPT acusa fundação ligada à igreja de R.R. Soares de 'clima de terror' na RIT
O clima seria obra do gestor da FIC, fundação que cuida da RIT, braço midiático da Igreja Internacional da Graça de Deus
Publicado: 16 Agosto, 2022 - 16h25 | Última modificação: 16 Agosto, 2022 - 16h30
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
A Fundação Internacional de Comunicação (FIC), ligada à Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, é acusada por oito pessoas, entre ex-trabalhadores e atuais, de violência psicológica, discriminação por idade, gênero, raça e orientação sexual, imposição de padrões de beleza a funcionárias e diversas outras infrações trabalhistas.
Havia até uma orientação extraoficial para não contratar negros, mulheres acima de 50 anos e homossexuais para aparecerem no vídeo, de acordo com os procuradores do Ministério Público do trabalho (MPT), que deram entrada com uma ação civil pública na Justiça neste mês.
A FIC cuida da Rede Internacional de Televisão (RIT), que exibe programas televisivos como o "Show da Fé", apresentado pelo dono da igreja, R.R. Soares, e "Consulta ao Doutor", que discute o tema da saúde mental no trabalho.
Mas o show interno era de terror. Os trabalhadores acusam a gestão de Edjail Kalled Adib Antonio, diretor da FIC, pelo "clima de terror" instaurado por "olheiros do medo" no ambiente de trabalho, segundo a ação, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, que preservou o anonimato dos denunciantes.
Segundo o MPT, assédios também aconteciam sob a diretoria anterior, mas é Kalled quem concentra a maior parte das condutas abusivas. Sua administração conduz a rotina laboral na base de "gritos", "humilhações" e "coações", sem qualquer canal interno para denunciar esses abusos, diz a ação, que tramita na 30ª Vara do Trabalho de São Paulo.
Haveria, ainda, uma "caça interna para tentar identificar e perseguir aqueles que denunciam". Ao menos um desses funcionários teria sido demitido.
Alguns exemplos atribuídos a Kalled: 1) regular a temperatura do estúdio para forçar uma apresentadora que não gostava a transpirar, acusando-a de estar "ansiosa" ou "nervosa"; 2) fazer comentários sobre "menopausa" e "calor", "pele velha", dizer que as "meninas não estão com mais idade para aparecer em vídeo" ou que estão "cansados de uma mulher velha apresentando um jornal principal da noite"; 3) não contratar um estagiário pelo fato de ele ser negro; 4) afirmar que um profissional "se masturbava demais, pois suas mãos eram extremamente amarelas", quando o mesmo reclamou da baixa temperatura na sala; 5) homens, se forem gays, que fossem discretos.
O resultado aumento na proporção de equipe medicada por sentirem-se sobrecarregados e acumular tarefas não previstas em seus contratos, trabalhadores relataram "esgotamento físico e psicológico, transtorno generalizado de ansiedade e síndrome de burnout e do pânico", de acordo com a ação. Uma das funcionárias afirmou estar tomando rivotril, oxalato de escitalopram e zolpidem para poder dormir, "porque a vida dela virou um inferno".
A ação, a cargo da procuradora do Trabalho Elisa Maria Brant de Carvalho Malta, pede R$ 500 mil de indenização e diz que, mesmo a par "das irregularidades identificadas pelo MPT, [...] a ré nada fez para sanar os ilícitos".