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MST homenageia vítimas do ataque de jovem de Aracruz que matou 4 pessoas

‘Armas não edificam uma sociedade’, diz sobrevivente do atentado a tiros, na sexta (25), em Aracruz, no Espírito Santo, deixou quatro mortos e 12 feridos. Cinco continuam internados - 3 em estado grave

Publicado: 29 Novembro, 2022 - 11h22 | Última modificação: 29 Novembro, 2022 - 11h43

Escrito por: Redação RBA

Reprodução
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Educandos e educadores de escolas de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Espírito Santo prestaram homenagem, nessa segunda-feira (28), às vítimas do ataque a tiros em duas escolas de Aracruz, no litoral norte capixaba, a 81 quilômetros da capital.

O crime, que aconteceu na sexta (25), deixou quatro mortos e 12 feridos. Segundo a secretaria de Segurança Pública do estado, até esta terça (29), cinco vitimas seguem internadas, sendo três em estado grave. A situação mais crítica é de uma adolescente de 14 anos que foi baleada na cabeça. 

Em resposta à violência armada, as crianças de ao menos quatro escolas de assentamentos plantaram árvores. Também foram confeccionados cartazes em memória das vítimas. “O educador se eterniza em cada ser que educa”, escreveram em homenagem à professora e pesquisadora Flávia Amboss Merçon Leonardo, de 38 anos. Ela lecionava na Escola Estadual Primo Bitti, uma das instituições atacadas, e morreu no sábado (26). Flávia também era ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). 

Na mesma escola, também foram executadas as docentes Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos, e Maria da Penha Pereira, de 48 anos. Elas estavam na sala de professores, quando um adolescente, de 16 anos, invadiu a instituição e começou a atirar do local. Depois da sala dos professores, ele atirou contras os estudantes e, em seguida, se deslocou de carro para o Centro Educacional Praia de Coqueiral, uma escola particular que fica na mesma avenida, a cerca de um quilômetro de distância. Na instituição, o atirador fez mais três vítimas, todas estudantes. Uma delas, Selena Sagrillo Zuccolotto, de 12 anos, morreu ainda na sexta. 

‘Armas não edificam uma sociedade’ 

Ontem, a professora de Língua Portuguesa Priscila Queiroz, de 40 anos, recebeu alta após ser baleada com dois tiros no ataque. Ela foi atingida por um disparo nas costas que atravessou o ombro e quebrou sua clavícula. Felizmente, a bala não perfurou nenhum órgão vital da docente. O segundo tiro pegou de raspão no braço. Ela, que é indígena, da aldeia Tupiniquim de Caieiras Velha no município, deixou o hospital com um cocar, símbolo de luta dos povos originários. 

Em entrevista ao UOL, Priscila afirmou se sentir como se tivesse nascido novamente. “Sou educadora há 17 anos, mas hoje carrego mais uma bandeira: a da segurança”. Segundo ela, o ataque foi muito rápido, em questão de segundos. Mas a lembrança da visão do atirador, vestido com um uniforme do exército, não sai de sua cabeça. Ainda em choque, a professora lamentou as vidas perdidas pela tragédia e criticou a liberação da posse e do porte de armas de fogo. 

“Há tanta coisa maravilhosa para colocar nas mãos dos nossos filhos, como livros, conhecimento, empatia, amor pela família. Quer colocar um machado na mão do seu filho? Coloque um Machado de Assis. Temos que esquecer o ódio e cultivar o amor. As armas não edificam uma sociedade”, destacou. “Escolhi essa profissão por amor, porque acredito ser possível mudar uma sociedade com bons livros, conhecimento, empatia, amor. Desenvolvendo virtudes. As escolas brasileiras carecem de infraestrutura e segurança. Essa será também a minha luta”. 

Sobre o autor do crime 

De acordo com a Polícia Civil, com o adolescente de 16 anos foram apreendidos duas armas de fogo, um revólver calibre 38 e uma pistola .40. As armas são do pai do atirador, um tenente da Polícia Militar. Ele foi afastado do serviço de rua e deve ser investigado em inquérito administrativo. A polícia já sabe que o adolescente tinha acesso às armas do pai e treinava com elas sem munição. As investigações também querem descobrir se o tenente da PM ensinou o filho a atirar. Por ser militar, é dele a responsabilidade legal pela guarda das armas. 

O pai do atirador negou, no entanto, em entrevista ao programa Brasil Urgente, da Band TV, que tenha preparado o filho para o atentado. Segundo ele, o adolescente aprendeu a atirar assistindo vídeos no YouTube. Ele também se disse profundamente abalado. Depois de alvejar 16 pessoas, o filho voltou para casa, almoçou com a família, sem tocar no assunto. Apenas depois da chegada da polícia, que identificou o jovem pelo carro usado, o atirador “abriu o jogo”, nas palavras do pai. 

Simpatia ao nazismo

Ele disse que está recebendo ameaças de morte por conta de acusações falsas. O policial militar comentou, por exemplo, a postagem que ele fez no Instagram sobre o livro Mein Kempf (Minha Luta), biografia do nazista Adolf Hitler. Ele negou que tivesse comprado o livro para o filho e argumentou que estava lendo o material porque “gosta de estudar a mente e o comportamento humano”. Embora o atirador tenha usado no crime uma suástica – símbolo nazista – o PM afirmou que o filho não teve acesso ao livro ou foi influenciado por ele. 

A Polícia Civil confirmou, contudo, que o adolescente mostrou simpatia a ideias nazistas. Além disso, ele havia abandonado os estudos há quatro meses com o aval dos pais. O atirador era estudante até junho da primeira escola atacada. O pai alegou, porém, que o filho seria transferido para outra escola, mas, antes de fazer a matrícula, decidiu fazer a prova para o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes). ‘Ele se preparou, passou em terceiro lugar. Então ele começaria o ano letivo no primeiro ano novamente, não faria sentido ele terminar o primeiro ano para repetir novamente no Ifes”, justificou. 

O PM disse ainda à imprensa  que o adolescente era um “aluno exemplar” e que “nunca deu trabalho”. A avaliação dele que é as redes sociais “possam ter influenciado” o filho. Há dois anos, ele vinha recebendo atendimento psiquiátrico e psicológico, assim como medicação. Segundo o pai, a terapia passou a ser necessária após o filho reclamar de bullying na escola. “Ele mudou de comportamento e aí procuramos o tratamento. De forma alguma poderíamos esperar que fosse acontecer o que aconteceu”, disse o policial militar. O atirador está agora em uma unidade de internação socioeducativa. 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima