Mudanças na área social feitas por Bolsonaro humilham os pobres, diz Tereza Campello
Para ex-ministra de Combate à Fome do PT, mudanças feitas pelo governo Bolsonaro no atendimento aos mais pobres não atendem as suas necessidades e humilha quem mais precisa de programas sociais
Publicado: 25 Outubro, 2022 - 15h30 | Última modificação: 25 Outubro, 2022 - 15h40
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Rosely Rocha
Apesar de fazer propaganda massiva e mentirosa de que é o autor do auxílio de R$ 600, escondendo que foi o Congresso Nacional que aprovou a medida, Jair Bolsonaro, que queria dar apenas R$ 200, tenta novamente enganar a população afirmando que os R$ 600 vão continuar no ano que vem. Basta ler o Orçamento da União para 2023 que qualquer pessoa vai verificar que esse valor não será mais pago.
Além dessa mentira, Bolsonaro dificultou o acesso ao auxílio, obrigando as pessoas a baixarem aplicativos em celulares, num país em que o acesso à internet é precário e de alto custo. Isto provocou imensas filas nos postos de recadastramento do Cadastro Único (CadÚnico) , fazendo com que idosos, mães com bebês e trabalhadores com alguma deficiência ficassem horas e até dois dias nas filas aguardando uma senha para não perderem o direito ao Auxílio Brasil.
“Os pobres estão sendo humilhados”, declarou a ex- ministra do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome, Tereza Campello, no governo de Dilma Rousseff (PT), em entrevista publicada pelo jornal Folha de São Paulo. Ela adjetivou como absurdo, esdrúxulo, atrasado e desumano para definir os resultados das alterações na área social feitas pelo governo.
A ex-ministra entende que a desarticulação de programas sociais como o Farmácia Popular, o Brasil Carinhoso e os cortes na assistência social de forma permanente, sem atualizar os valores – a projeção para o ano que vem é de R$ 49 milhões, enquanto na sua gestão chegou a R$ 3 bilhões, geraram um problema estrutural nos municípios, porque é na porta da prefeitura que essas pessoas vão bater.
Além das críticas, Tereza Campello, contou algumas propostas que devem ser colocadas em prática num eventual governo Lula, a partir do ano que vem, envolvendo não somente transferências financeiras, como rendas indiretas: creches, merenda escolar, Farmácia Popular, entre outros programas que beneficiam a população, fazendo com que ela não precise desembolar mais dinheiro para ter acesso a medicamentos, alimentação na escola e educação, entre outros.
Ela, no entanto, alerta que diante do desmonte do atual governo e do rombo nas contas públicas que Bolsonaro tem feito para tentar ganhar essas eleições é preciso primeiro tomar pé da situação.
“Seguiríamos com esse processo gradualmente, porque não é apenas isso que temos de fazer. Hoje, não tem dinheiro para creche, para merenda escolar ou para o Farmácia Popular, que para essas famílias são rendas”, disse ao jornal.
Para atender a cerca de 20 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade social, Tereza cita como como meta manter os R$ 600 do auxílio e garantir um adicional de R$ 150 a crianças de zero a seis anos. Um exemplo: uma mãe com duas crianças receberia os R$ 600 mais R$ 150 por uma criança e R$ 150 pela outra criança. O total seria R$ 900.
Para a ex-ministra essa é uma questão estratégica, pois uma criança submetida à fome nos seis primeiros anos de vida sofre de forma diferente da de um adulto.
Retomar o programa Brasil Carinhoso, que funcionava. Criado em 2012, no governo Dilma era voltado para a primeira infância e integrava o Plano Brasil Sem Miséria, composto por ações destinadas ao apoio de famílias beneficiárias do programa Bolsa Família com crianças de até seis anos de idade através da melhoria na educação, saúde e renda.
Bolsonaro colocou no lugar o Auxílio Criança Cidadã, que dava voucher, um vale creche, para a mulher que arrumasse um emprego. A creche deveria ser privada, não poderia ser pública ou conveniada. Tereza aponta um grande erro do governo nessa mudança, tanto que nenhum centavo foi gasto. Segundo ela, é uma coisa completamente esdrúxula.
“Primeiro, mulher quer trabalhar e não precisa de estímulo. Segundo porque, muitas vezes, ela não consegue trabalho exatamente porque não tem onde deixar a criança. Então, se ela achar o trabalho, aí ela ganha o voucher? Tem uma inversão aí, porque, antes de tudo, você tem que ofertar a vaga —que é um direito da criança, não só da mulher— e, depois, a mulher pode procurar o emprego”, disse.
Outro grande erro do governo Bolsonaro é dar os R$ 600 do auxílio Brasil independentemente do número de pessoas na família. Um homem sozinho pode ganhar os R$ 600, assim como uma mãe solo com dois filhos.
“Em 2012, criamos um benefício variável, segundo a severidade da pobreza de cada família. Uma mãe pode não ter trabalho, a outra pode ser faxineira. Além de mais justo, era de menor custo-benefício. Como cadastro foi desorganizado e falta renda, agora, nós temos que usar esse valor igual para todo mundo”, conclui Tereza.