Mulheres e movimento negro paulista irão a Curitiba cobrar liberdade de Lula
Caravanas são organizadas por trabalhadoras e trabalhadores de diferentes categorias
Publicado: 24 Julho, 2018 - 09h50
Escrito por: Rafael Silva - CUT São Paulo
Na próxima semana, o Acampamento Lula Livre, em Curitiba (PR), ganhará o reforço de duas caravanas que saem de São Paulo para fortalecer a luta e a resistência contra a prisão política do ex-presidente Lula. As delegações são formadas por trabalhadoras e trabalhadores de diversas categorias de entidades filiadas à CUT no estado de São Paulo.
A primeira caravana a chegar a Curitiba será a das mulheres, na quarta (25). Já na quinta (26) é a vez do movimento negro sindical da Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-SP e das secretarias da Mulher Trabalhadora e de Combate ao Racismo da CUT Nacional se unirem à atividade.
O Acampamento Lula Livre existe desde o dia 7 de abril, quando Lula foi detido pela Polícia Federal mesmo sem provas sobre sua participação em algum crime. Diariamente, os participantes do acampamento realizam ações denunciando a prisão política e fazem o tradicional ‘bom dia, presidente’, que o próprio Lula confirmou ouvir e afirmar que responde.
O local, que agora fica mais próximo da Superintendência da PF, se tornou o símbolo de luta que tem mobilizado pessoas de todo o mundo contra a prisão ilegal do ex-presidente. Formada por movimentos sociais e sindical, a vigília tem recebido a visita de diversas personalidades do campo político, jurídico, religioso e artístico, como o senador e ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, o teólogo Leonardo Boff e a apresentadora Bela Gil. No entanto, com frequência, a militância acampada é alvo de ataques violentos –inclusive com o uso de armas de fogo-, de pessoas que não respeitam os mecanismos democráticos e apoiam a arbitrariedade contra Lula.
A ida das mulheres conta com o apoio do Coletivo da Secretaria da Mulher Trabalhadora da CUT-SP, que tem Marcia Viana à frente. “Essa caravana faz parte de uma agenda, que é a Jornada de Lutas das Mulheres em Defesa da Democracia, que iniciamos neste ano e seguiremos até que Lula seja libertado. As trabalhadoras apontaram a vontade de ir ao Paraná levar a solidariedade ao ex-presidente”, afirma.
Segundo ela, as mulheres reconhecem que Lula é a única liderança capaz de reverter a agenda de retrocessos promovida pelo governo de Michel Temer (MDB), com ataques aos direitos dos trabalhadores. “Uma agenda que atinge a todos, mas, sobretudo, às mulheres. Sofremos com o desemprego, a reforma trabalhista e com o congelamento dos investimentos públicos, que piora a qualidade da saúde, assistência social e educação”, continua Márcia.
No grupo que chega na quinta, o apoio é do Coletivo ligado à Secretaria de Combate ao Racismo da CUT-SP e das secretarias da Mulher Trabalhadora e de Combate ao Racismo da CUT Nacional. Rosana Silva, secretária da pasta, conta que a ida do grupo neste mês terá o simbolismo do centenário de nascimento do ex-presidente sul-africano, Nelson Mandela (1918-2013), que também teve uma prisão política em sua trajetória e foi responsável por enfrentar o sistema de apartheidno país, o regime de segregação imposto aos negros.
“Lula foi importante para o movimento negro aqui do Brasil, pois em seu governo houve políticas de ações afirmativas e ações efetivas de combate ao racismo, o que estamos perdendo com o atual governo ilegítimo”.
A chegada das caravanas também coincide o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, em 25 de julho, datas importantes aos movimentos de mulheres e negras da América Latina. Benguela, por exemplo, foi uma líder quilombola do século XVIII, que ajudou a organizar a resistência dos negros escravizados em uma região de Mato Grosso.
Perseguição
Mesmo sem ter cometido crime, Lula segue preso há mais de 100 dias. Todo o processo, conduzido por Sérgio Moro, teve um tratamento diferenciado e chamou a atenção pela celeridade do caso e desrespeito ao direito de ampla defesa. Reportagem do site Justificando aponta que o desembargador Leandro Paulsen, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), tinha 257 processos na fila para revisão quando pediu data para julgar Lula. Já Moro chegou a interromper suas férias para contestar um habeas corpus concedido pelo desembargador Rogério Favreto neste mês, mesmo o caso não estando mais sobre sua competência.
A prisão de Lula também é contestada internacionalmente pelos mais renomados juristas, como o britânico Geoffrey Robertson, que entendem que o ex-presidente é vitima de lawfare, quando há perseguição e manipulação dos fatos usando os instrumentos legais, inclusive com apoio da mídia, que faz repetidas acusações de maneiras diferentes, de forma a passar a impressão de culpa a alguém. Nesta semana, sindicalistas japoneses e latino americanos também denunciaram a prisão em Tóquio.
Já foram vítimas do lawfare, além de Lula, o próprio Nelson Mandela, o também sindicalista e ex-presidente polonês Lech Walesa, e o cardeal croata Aloysius Stepinac (1898-1960).
Na quinta (19) o ex-presidente escreveu artigo para o jornal Folha de S.Paulo, onde questiona a sua proibição de conceder entrevistas a veículos de comunicação. “Aqueles que não querem que eu fale, o que vocês temem que eu diga? O que está acontecendo hoje com o povo? Não querem que eu discuta soluções para este país? Depois de anos me caluniando, não querem que eu tenha o direito de falar em minha defesa?”.
Lula figura como primeiro colocado em todas as pesquisas de intenção de voto nas eleições presidenciais deste ano, com larga vantagem sobre o segundo colocado. Nas simulações de segundo turno, o sindicalista do ABC paulista vence qualquer um dos adversários. No entanto, mesmo sendo pré-candidato à Presidência, Lula teve negado seus pedidos de entrevistas pela juíza Carolina Lebbos.