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Mulheres pedem retratação da TV Cultura com Manuela D'Ávila

Após pré-candidata ser interrompida constantemente por entrevistadores no "Roda Viva", abaixo-assinado é criado para pedir retratação. "Reprodução do machismo foi propagada em rede pública"

Publicado: 27 Junho, 2018 - 09h25

Escrito por: Redação RBA

REPRODUÇÃO/FACEBOOK/FERRUGEM CARTUNEIRO
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A pré-candidata à presidência pelo PCdoB, Manuela D'Ávila, esteve na noite de ontem (25) no programa Roda Viva, da TV Cultura, emissora pública do estado de São Paulo. Chamou a atenção o comportamento dos entrevistadores, a todo momento expondo bordões conservadores e anti-comunistas. Deixaram claro que não estavam interessados em ouvir Manuela. Justamente por isso, a interromperam mais de 60 vezes.

Por essa razão, um grupo de mulheres criou um abaixo-assinado pedindo retratação da emissora. "Repudiamos a postura desrespeitosa e machista com que a pré-candidata Manuela D’Ávila foi tratada no programa Roda Viva na TV Cultura. Exigimos que a emissora cumpra seu papel de veículo público de comunicação dando espaço para que a a pré-candidata exponha de fato suas propostas, marcando uma nova data para um debate real e qualificado, já que ficou impossível no programa", afirma.

O grupo reitera que a razão para tal protesto e denúncia de atitude machista foi justamente o "número de interrupções feitas pelos entrevistadores convidados pelo canal e pelo mediador. A emissora deve também se retratar, pois a reprodução do machismo e do desrespeito a mulher foi propagada em rede nacional pública em uma sociedade com altíssimos índices de violência contra a mulher", completa o texto da petição.

Foram, precisamente, 62 interrupções em 75 minutos de programa. Para efeito de comparação, outro pré-candidato que esteve no programa, Ciro Gomes (PDT), foi interrompido oito vezes no mesmo período. Manuela considerou o ambiente do Roda Viva como "violentamente hostil", e afirmou que "não é fácil ser mulher no Brasil".

Manuela compartilhou um texto assinado pela internauta Iara Cordeiro que explica a prática sofrida pela pré-candidata: o chamado manterrupting, neologismo em inglês que, em tradução livre, significa "interrupção por homem".

"Na teoria, se você se propõe a sabatinar uma candidata à Presidência da República, no mínimo vai querer ouvir o que ela tem a dizer. Mas a ideia não era escutar, tanto que ela teve que em um momento dizer que eles gostavam de falar mais que ela", disse Iara.

"Em um dos momentos, Frederico d'Ávila (diretor da Sociedade Rural Brasileira e coordenador programa de agronegócio do PSL, partido de Bolsonaro) diz: 'A senhora defende as mulheres, mas a senhora é à favor da castração química para estupradores?' Manu lacradora responde: 'Eu defendo que tenha menos estupro no Brasil e sabe como a gente faz isso? A gente faz isso não votando em candidato que defende que mulher pode ser estuprada'".

Em rede social, o jornalista e escritor Xico Sá também criticou o programa. "Uma emissora educativa, bancada pelo Estado (de SP), não pode transformar um programa jornalístico em arapuca ideológica – seja lá contra quem for", afirmou. Segundo ele, o episódio envolvendo Manuela "foi uma indecência".

"O que está acontecendo com a TV Cultura?", questionou a jornalista e apresentador Astrid Fontenelle. "O tradicional programa Roda Viva deu ontem uma aula de machismo contra a candidata Manuela D´Ávila."

Quem também comentou foi a filósofa e escritora Marcia Tiburi. "A Manuela D´Ávila é linda, preparada, inteligentíssima, simpática, tudo o que há de bom, ou seja, insuportável para os tradicionais donos do poder e seus lacaios", escreveu a pré-candidata pelo PT ao governo do Rio de Janeiro. "Lamentável o que aconteceu ontem, mas ainda assim Manuela mostrou que seu discurso é capaz de enfrentar essa gente."

Já a atriz Patrícia Pillar divulgou o abaixo-assinado com pedido de retração.