Escrito por: Luiz Carvalho

Mulheres vão pagar caro pelo golpe

Afetam as trabalhadoras que costumam ser as principais responsáveis pelos cuidados familiares

Roberto Parizotti
Encontro de mulheres fez parte da celebração dos 30 anos de políticas das trabalhadoras na CUT


Aprovada em primeiro turno nessa terça-feira (29), a PEC 55 (antiga PEC 241, que congela por 20 anos investimentos em saúde e educação) afetará diretamente a vida das mulheres, ao restringir o acesso a serviços públicos.

“As mulheres são as grandes usuárias dos serviços públicos, porque são elas que cuidam dos filhos e dos idosos quando estão enfermos, além de viverem mais e de estarem mais propensas a doenças crônicas na velhice. São também a maioria, 93% dos beneficiários do Bolsa Família, programa em que o Temer fará cortes”, destacou a técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Adriana Marcolino.

A representante do Dieese tratou da relação entre a PEC 55 e as mulheres durante o encontro do Coletivo Nacional de Mulheres que a CUT promoveu nesta quarta-feira (30), em São Paulo.

Adriana lembrou também o prejuízo na ascensão profissional que a redução nos serviços públicos proposta pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB) promoverá.

“A diminuição no quadro de servidores afeta o emprego, porque há grande participação de trabalhadoras no funcionalismo, setor que propicia mais igualdade de condições salariais entre gêneros.”

Viés neoliberal

O prejuízo não para por aí. A reforma da Previdência que deve ser apresentada na próxima segunda-feira (5) provavelmente trará aumento do tempo de contribuição por idade para as mulheres, de 60 para 65 anos, inclusive no serviço público.

O pacotão deve incluir também a redução da pensão por morte para 50% do valor, mais 10% por dependente, e a proibição de acumular dois benefícios, como por morte do parceiro e aposentadoria.

Pontos de uma agenda com viés neoliberal que despreza a soberania e o papel do Estado para corrigir desigualdades. “A PEC 55 joga a favor da concentração da riqueza. É uma proposta para deixar de distribuir renda por meio dos serviços públicos”, falou.

Por trás da justificativa de que os governos anteriores teriam gastado em excesso e que haveriam políticas públicas ‘inchadas’, está, na verdade, o desejo de acabar com a Constituição de 1988 sem mexer em uma vírgula sequer.

“O que está em jogo é a disputa por recursos públicos, para investimentos sociais ou drenados para a elite financeira. O limite de gastos como querem impor no Brasil não existe em lugar algum. Vai comprimir todo o gasto nacional, mas com pagamento de juros continuará livre, leve e solto. Sem verbas, elimina-se efetivamente o conceito da inclusão e da universalidade. Não há como garantir serviços mínimos que o Brasil presta hoje”, falou Adriana.

Num país em que a economia depende muito do público, porque o setor empresarial não tem compromisso com o país, o Estado estará incapacitado de investir.

“Caso já estivesse em vigor a PEC, a educação teria 47% menos recursos e a saúde 26%, o equivalente a quase R$ 600 bilhões em 15 anos. É isso o que nos reserva o futuro com Temer”, lamentou.