Escrito por: Walber Pinto
Sem vacina, sem remédios para pacientes em estado grave e com recorde de vidas perdidas, Brasil passa os EUA no ranking de mortes por milhão de habitantes
Castigado por uma das piores pandemias do século, o mundo deve atingir nesta sexta-feira (16) 3 milhões de vidas perdidas por complicações causadas pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, desde o início da crise sanitária, em março do ano passado. E o Brasil lidera ranking de países onde mais mortes são registradas em consequência da doença.
De acordo com o levantamento da Universidade Johns Hopikins, dos Estados Unidos, que agrega dados globais sobre a Covid-19, até agora o planeta registra 2.989.103 vítimas fatais da doença e mais de 139 milhões de pessoas infectadas.
O Brasil, que tem 211 milhões de habitantes, acaba de ultrapassar os Estados Unidos, com população total de 328,2 milhões de pessoas, em número de mortes por milhão de habitantes. Segundo a Johns Hopkins University, o Brasil totaliza 1.731,6 mortos por milhão, enquanto nos EUA a taxa é de 1.722,2.
No total, já perderam a vida para a Covid-19 mais de 365 mil brasileiros, enquanto nos EUA foram 565 mil mortes até agora.
A situação no Brasil é dramática e o país é considerado um risco mundial, segundo autoridades internacionais da área de saúde. Além de a pandemia estar descontrolada, das novas cepas serem mais agressivas e transmissíveis, o país sofre com a falta de um comando nacional de combate ao novo coronavírus e com o descaso do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) que já usou as palavras histeria e fantasia para classificar a reação da população e da imprensa à pandemia, critica diariamente as medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos e ainda estimula o isso de remédios ineficazes contra a doença. Além disso, Bolsonaro incentiva aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações falsas sobre a Covid-19.
Agora o presidente é o principal alvo de uma CPI no Senado para apurar, entre outros pontos, ações e omissões do governo federal na gestão da pandemia.
O resultado deste descaso é a superlotação dos hospitais, falta de medicamentos, inclusive do chamado “kit intubação” para pacientes em estado grave e mais de 17 estados com a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) acima de 90% de ocupação, enquanto o Programa Nacional de Vacinação segue lento, sem vacinas, com previsões de distribuição sendo refeitas para baixo. Só esta semana, quatro capitais suspenderam a vacinação por falta de doses: Florianópolis, Goiânia, Salvador e São Luís.
Já no país americano, que foi epicentro da pandemia no governo do ex-presidente Donald Trump, ídolo de Bolsonaro e também negacionista, a imunização da população com a vacina contra a Covid-19 bate seguidos recordes depois da posse de Joe Biden.
A situação do Brasil também é péssima se comparada a qualquer país com mais de 70 milhões de habitantes e nenhuma nação da América Latina apresenta taxas tão altas de mortes e contaminações como as brasileiras.
O Brasil também vem batendo recordes diários de mortes por Covid-19. Nas últimas 24 horas, foram 3.774 óbitos, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Apenas nos últimos sete dias, morreram 2.952 pessoas por dia.
A situação é desesperadora em hospitais, onde médicos estão intubando pacientes sem sedativo, sem relaxante muscular, é como se torturasse uma pessoa com ela acordada, vendo tudo, dizem os médicos. Profissionais de saúde estão sendo obrigados a manter o paciente amarrado na cama para ele não se machucar.
O Ministério da Saúde foi alertado ano passado sobre a falta de medicamentos, porém, apenas em março deste ano o ministério tomou uma série de medidas administrativas para centralizar as compras dos medicamentos que compõem o chamado "kit intubação".
O Ministério da Saúde disse nesta quinta-feira (15) que fará a distribuição em até 48h de medicamentos doados por empresas privadas. O volume deve garantir o abastecimento por 10 a 15 dias, segundo a pasta. A previsão é que 2,3 milhões de unidades desses medicamentos cheguem ao aeroporto de Guarulhos às 22h desta quinta e sejam entregues aos estados esta sexta-feira (16).
No entanto, a quantidade de medicamentos ainda é pequena. Apenas o estado de São Paulo consome em três dias 407.507 doses de remédios que está sendo adquirida pelo Ministério da Saúde para o estado. O estado de São Paulo solicitou na terça-feira (13), em ofício, o envio exatamente de 2,3 milhões de doses de medicamentos em até 24 horas para repor os estoques. No entanto, vai receber apenas 17,7% do montante que pediu.
Pressionado, o ministro Marcelo Queiroga, afirmou que além do volume doado por empresas, a pasta deve receber, "em curto prazo", medicamentos de outros países, como a Espanha, em apoio para o que chamou de "situação de emergência".
Jair Bolsonaro (ex-PSL) é um grande culpado pelo fracasso do Brasil no combate à pandemia do novo coronavírus, segundo um artigo assinado por dez cientistas do Brasil e dos EUA, liderado pela demógrafa Márcia Castro, professora da Universidade Harvard, publicado na revista Science, uma das mais importantes da ciência no mundo.
Os pesquisadores afirmam que Bolsonaro não dá respostas ágeis e coordenadas no combate à doença, o que permite o espalhamento do vírus no país. Eles dizem ainda que gestores públicos em vários estados também têm culpa, mas os erros do governo federal têm peso maior, e que poderia ter sido feito bloqueios no país para que pudessem evitar o avanço da doença entre municípios e estados.
Os pesquisadores reiteram ainda que, "embora nenhuma narrativa única explique a diversidade na disseminação, um fracasso geral em implementar respostas imediatas, coordenadas e equitativas em um contexto de fortes desigualdades locais alimentaram a propagação da doença".
Criticam também a conduta de Jair Bolsonaro, que tem um peso proporcionalmente muito maior no cenário de caos gerado pela pandemia – com uma conduta marcada não só por omissões, mas por atos irregulares como a promoção de curas ineficazes.
"No Brasil, a resposta federal tem sido uma combinação perigosa de inação e irregularidades, incluindo a promoção da cloroquina como tratamento, apesar da falta de evidências", diz o estudo. "Sem uma estratégia nacional coordenada, as respostas locais variaram em forma, intensidade, duração e prazos de início e fim, até certo ponto associadas a alinhamentos políticos."
E por fim, o artigo lembra que o país vive atualmente o pior momento da pandemia, com números recordes de casos e mortes e à beira do colapso do sistema hospitalar, e faz um alerta a favor da adoção imediata de uma resposta nacional coordenada.
Com informações de agências de saúde e de notícias.
*Edição: Marize Muniz