Na Alemanha, Bispo denuncia avanço da 'escravidão moderna'
Dom Reginaldo diz que Igreja no Brasil está empenhada em combater problemas sociais e ressalta que a democracia será diferencial nas eleições de 2018
Publicado: 21 Dezembro, 2017 - 13h03 | Última modificação: 21 Dezembro, 2017 - 13h33
Escrito por: Érica Aragão, com informações da Adveniat e Diocese de Jales
Para denunciar as condições precárias de trabalho no Brasil e a “escravidão moderna” causada pelas políticas neoliberais do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB-SP), o referencial da Pastoral Operária Nacional e Bispo da Diocese de Jales (SP), Dom Reginaldo Andrietta, está na Alemanha e participa de uma série de agendas com representantes de diversos países, sobretudo da América Latina.
A agenda faz parte da campanha de Natal da Agência de Cooperação Internacional do Episcopado Alemão (Adveniat), que termina no próximo dia 25 e tem como foco o mundo do trabalho.
Bispo Dom Reginaldo Andrietta à direita Representante da Igreja no Brasil no que se refere ao mundo do trabalho, Dom Reginaldo, que participa da mobilização da Adveniat para ajudar na cooperação de pastorais de diversos países, entre eles o Brasil, falou sobre os retrocessos vividos pelos brasileiros e brasileiras após o golpe de Estado que destituiu do poder uma presidenta legitimamente eleita pelo povo brasileiro - Dilma Rousseff (PT-RS).
“A Igreja no Brasil está empenhada em combater os problemas sociais. Precisamos promover uma sociedade civil independente. A igreja deve elevar sua voz profética quando se trata da luta por condições de vida dignas, é papel dos bispos, padres e leigos”, explica o Bispo Dom Reginaldo, ressaltando o papel das Igrejas no Brasil e a importância da agenda internacional.
"Hoje estamos submetidos a novas escravidões causadas sobretudo pelo atual sistema econômico, cujo centro é o dinheiro, não a pessoa humana. Enquanto os organismos financeiros lucram altamente, a miséria assola grande parte da população. Ladrões fazem suas tocas em nossos governos, defendem interesses de conglomerados econômicos e retiram direitos da classe trabalhadora. Nossa 'casa comum' está sendo degradada e devastada", completou.
A PEC do Teto, que congelou os investimentos públicos por 20 anos; o aumento do desemprego e da fome; a reforma Trabalhista, que institucionalizou o 'bico' e precarizou as condições de trabalho; e a ameaça da reforma da Previdência, que poderá excluir milhões do acesso à aposentadoria, foram alguns dos exemplos utilizados pelo Bispo Dom Reginaldo.
Segundo ele, essas medidas têm representado “o retorno à barbárie” e destacou a situação dos jovens, que não conseguem concluir os estudos e nem mesmo sonhar com um futuro melhor. “Muitos jovens não completam os estudos ou tem péssimas condições de educação. O desemprego juvenil é de 28% e o trabalho infantil é generalizado”, explica.
Para Dom Reginaldo, as precárias condições de trabalho são o legado histórico da sociedade escrava no Brasil e resultado da exploração do país por corporações estrangeiras e privatizações que entregam o patrimônio público e não dialogam com um projeto de desenvolvimento. Por isso, segundo ele, é fundamental que “nas próximas eleições o povo questione o quão democrático são os candidatos”.
O Bispo, que vem de uma família da classe trabalhadora - o pai foi carpinteiro e a mãe costureira - começou desde cedo a compreender o significado de viver em condições precárias e com baixos salários, que não permitiam às famílias viverem com dignidade.
"Foi aí que entendi que as condições de vida eram o resultado das relações de trabalho", diz o Bispo, que finaliza: “o Brasil é campeão mundial em acidentes de trabalho e não há qualquer garantia para o acidentado, pois com um salário mínimo não dá para alimentar uma família. É essa realidade que precisamos combater”.
Sobre a Adveniat
A história do trabalho solidário da Adveniat começou no “inverno da fome”, entre os anos 1946 e 1947, quando milhares de pessoas na Alemanha morreram de fome devido às doenças relacionadas à miséria.
As notícias e imagens abalaram as pessoas na América Latina, que logo se reuniram para ajudar as crianças e idosos famintos da Alemanha. E essa ajuda nunca foi esquecida, nem mesmo quando a necessidade foi superada em 1950, com o chamado milagre econômico.
Até 1961 não havia nenhuma organização de apoio que abordasse as preocupações dos católicos na América Latina. Em 30 de agosto de 1961, foi proposta à Assembleia Geral da Conferência Episcopal Alemã uma “arrecadação de doação especial” para a América Latina, realizada no Natal em todas as igrejas da República Federal e da Berlim Ocidental.
O sucesso da primeira coleta possibilitou aos bispos dar continuidade à campanha no Natal dos anos seguintes. Em 1969, tornou-se oficial. E o que foi planejado para ocorrer apenas uma vez acabou se tornando a Ação Episcopal Adveniat, nome oficial da organização católica de ajuda à América Latina. Desde então foram arrecadados mais de 2,3 bilhões de euros, com os quais foram apoiados cerca de 3 mil projetos em toda a América Latina.