Escrito por: Érica Aragão, com informações da Adveniat e Diocese de Jales
Dom Reginaldo diz que Igreja no Brasil está empenhada em combater problemas sociais e ressalta que a democracia será diferencial nas eleições de 2018
Para denunciar as condições precárias de trabalho no Brasil e a “escravidão moderna” causada pelas políticas neoliberais do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB-SP), o referencial da Pastoral Operária Nacional e Bispo da Diocese de Jales (SP), Dom Reginaldo Andrietta, está na Alemanha e participa de uma série de agendas com representantes de diversos países, sobretudo da América Latina.
A agenda faz parte da campanha de Natal da Agência de Cooperação Internacional do Episcopado Alemão (Adveniat), que termina no próximo dia 25 e tem como foco o mundo do trabalho.
Bispo Dom Reginaldo Andrietta à direita
“A Igreja no Brasil está empenhada em combater os problemas sociais. Precisamos promover uma sociedade civil independente. A igreja deve elevar sua voz profética quando se trata da luta por condições de vida dignas, é papel dos bispos, padres e leigos”, explica o Bispo Dom Reginaldo, ressaltando o papel das Igrejas no Brasil e a importância da agenda internacional.
"Hoje estamos submetidos a novas escravidões causadas sobretudo pelo atual sistema econômico, cujo centro é o dinheiro, não a pessoa humana. Enquanto os organismos financeiros lucram altamente, a miséria assola grande parte da população. Ladrões fazem suas tocas em nossos governos, defendem interesses de conglomerados econômicos e retiram direitos da classe trabalhadora. Nossa 'casa comum' está sendo degradada e devastada", completou.
A PEC do Teto, que congelou os investimentos públicos por 20 anos; o aumento do desemprego e da fome; a reforma Trabalhista, que institucionalizou o 'bico' e precarizou as condições de trabalho; e a ameaça da reforma da Previdência, que poderá excluir milhões do acesso à aposentadoria, foram alguns dos exemplos utilizados pelo Bispo Dom Reginaldo.
Segundo ele, essas medidas têm representado “o retorno à barbárie” e destacou a situação dos jovens, que não conseguem concluir os estudos e nem mesmo sonhar com um futuro melhor. “Muitos jovens não completam os estudos ou tem péssimas condições de educação. O desemprego juvenil é de 28% e o trabalho infantil é generalizado”, explica.
Para Dom Reginaldo, as precárias condições de trabalho são o legado histórico da sociedade escrava no Brasil e resultado da exploração do país por corporações estrangeiras e privatizações que entregam o patrimônio público e não dialogam com um projeto de desenvolvimento. Por isso, segundo ele, é fundamental que “nas próximas eleições o povo questione o quão democrático são os candidatos”.
O Bispo, que vem de uma família da classe trabalhadora - o pai foi carpinteiro e a mãe costureira - começou desde cedo a compreender o significado de viver em condições precárias e com baixos salários, que não permitiam às famílias viverem com dignidade.
"Foi aí que entendi que as condições de vida eram o resultado das relações de trabalho", diz o Bispo, que finaliza: “o Brasil é campeão mundial em acidentes de trabalho e não há qualquer garantia para o acidentado, pois com um salário mínimo não dá para alimentar uma família. É essa realidade que precisamos combater”.
Sobre a Adveniat
A história do trabalho solidário da Adveniat começou no “inverno da fome”, entre os anos 1946 e 1947, quando milhares de pessoas na Alemanha morreram de fome devido às doenças relacionadas à miséria.
As notícias e imagens abalaram as pessoas na América Latina, que logo se reuniram para ajudar as crianças e idosos famintos da Alemanha. E essa ajuda nunca foi esquecida, nem mesmo quando a necessidade foi superada em 1950, com o chamado milagre econômico.
Até 1961 não havia nenhuma organização de apoio que abordasse as preocupações dos católicos na América Latina. Em 30 de agosto de 1961, foi proposta à Assembleia Geral da Conferência Episcopal Alemã uma “arrecadação de doação especial” para a América Latina, realizada no Natal em todas as igrejas da República Federal e da Berlim Ocidental.
O sucesso da primeira coleta possibilitou aos bispos dar continuidade à campanha no Natal dos anos seguintes. Em 1969, tornou-se oficial. E o que foi planejado para ocorrer apenas uma vez acabou se tornando a Ação Episcopal Adveniat, nome oficial da organização católica de ajuda à América Latina. Desde então foram arrecadados mais de 2,3 bilhões de euros, com os quais foram apoiados cerca de 3 mil projetos em toda a América Latina.