Na contramão do PR e SC, empresários do RS defendem reajuste zero ao piso regional
Terminou sem acordo a 2ª reunião da mesa de diálogo realizada nesta quarta-feira pelo presidente da Assembleia Legislativa do RS sobre reajuste do salário mínimo regional de 2022, cuja data-base é 1º/02
Publicado: 31 Março, 2022 - 09h51 | Última modificação: 31 Março, 2022 - 09h59
Escrito por: CUT-RS
Terminou sem acordo a segunda reunião da mesa de diálogo, promovida na manhã desta quarta-feira (30) pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado Valdeci Oliveira (PT), sobre o reajuste do salário mínimo regional de 2022, cuja data-base é 1º de fevereiro.
As entidades patronais resistem em aceitar a reivindicação de reajuste de 15,58%, entregue pela CUT e centrais sindicais em 15 de fevereiro ao governo Eduardo Leite (PSDB), que considera a reposição de 10,60% referente à variação do INPC de 2021 até janeiro deste ano e a recuperação de 4,50% correspondente ao INPC de 2019, segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“Estamos correndo atrás da inflação, que voltou de forma galopante, como mostra a disparada dos preços dos alimentos e dos combustíveis, por culpa do governo Bolsonaro, prejudicando sobretudo os cerca de 1,5 milhão de gaúchos e gaúchas que recebem o chamado piso regional”, afirmou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.
“O salário mínimo regional é um mecanismo que protege quem mais precisa e não têm força suficiente para reajustar seus salários em negociações coletivas. Por isso, ele é importante”, ressaltou o presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor.
RS na lanterna do piso regional no Sul do Brasil
Na contramão das federações empresariais do Paraná e Santa Catarina, que negociaram reajustes de acordo com a inflação nos últimos anos mesmo na pandemia, inclusive com aumentos reais, a representação da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) e Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) defendeu reajuste zero em 2022, a exemplo de 2020.
“Não temos aversão ao reajuste, mas temos divergência sobre a oportunidade. Estamos superando a pandemia e vivendo uma possível retomada, mas os índices de confiança dos empresários voltaram a cair”, justificou o diretor da FIERGS, Guilherme Scozziero Neto, ignorando as perdas inflacionárias nos salários dos trabalhadores.
“A inflação impacta a todos e corrói a geração de riqueza. E o salário mínimo regional tem, historicamente, um acúmulo de aumento real”, alegou o vice-presidente da Federasul, Rafael Sittoni. Ele não explicou por que os valores do piso regional no Rio Grande do Sul estão hoje na lanterna entre os três estados do Sul do Brasil.
Ainda tem espaço para negociação
Já o secretário do Trabalho, Emprego e Renda, Ronaldo Nogueira, disse que o governo do estado aposta em uma construção de consenso no âmbito das negociações, dizendo que o Conselho Estadual do Trabalho, Emprego e Renda é o fórum adequando para a decisão sobre o tema
Nogueira, que foi ministro do ilegítimo Michel Temer (MDB) durante a aprovação da reforma trabalhista e está agora de saída do governo tucano, salientou que será necessário que se consolide a transição, uma vez que Eduardo Leite renunciará oficialmente nesta quinta-feira (31), faltando ainda nove meses para o final do mandato.
A presidente do Conselho Estadual de Trabalho, Emprego e Renda, Maria Helena Oliveira, apontou que ainda há espaço para a negociação. “Vamos continuar com a mesa de diálogo porque acreditamos que podemos chegar a um denominador comum. Mesmo com a posição do empresariado, nós entendemos que existe espaço, para que seja feita a negociação junto ao governo, como foi feito no ano passado."
“Vamos continuar com esse diálogo porque temos certeza de que a valorização do piso regional é importante para trabalhadoras e trabalhadores que não têm uma mesa de negociação com os seus patrões”, enfatizou Maria Helena, que é também secretária de Formação da CUT-RS.
Trabalhador perde R$ 200 a cada mês sem reajuste
O deputado Luiz Fernando Mainardi (PT), que propôs a instalação da mesa de diálogo e coordenou a reunião em nome do presidente da Assembleia, disse que é normal que a negociação seja lenta. “Acho que o encontro foi produtivo. Não chegamos a um ponto comum, mas todos elogiaram o diálogo e ninguém colocou na mesa a extinção do piso salarial regional. Já vejo um avanço”, destacou.
Ele alertou que não se pode repetir a mesma situação do ano passado, quando o projeto de lei do reajuste só foi enviado pelo governador aos deputados em julho. “A inflação de 2021 foi alta e se mantém acelerada. Cada mês sem reajuste significa em média R$ 200 perdidos pelo trabalhador”, denunciou.
Mainardi considerou indecorosa a ideia das federações empresariais de reajuste zero. “Esperávamos um sinal positivo. Evidente que numa mesa é preciso ter flexibilidade, mas a visão dos empresários é extremista. Não se pode negar a reposição da inflação em um contexto que teve um aumento de mais de 20% no setor de alimentos”, frisou.
Pedido de audiência com novo governador
O parlamentar pretende solicitar uma audiência com o novo governador Ranolfo Vieira Junior (PSDB), que será empossado no final da tarde desta quinta-feira, para tratar do piso regional. “Espero que o governador Ranolfo seja mais sensível. Todos sabemos que a renda do trabalhador é um elemento fundamental para o desenvolvimento do Estado”, concluiu Mainardi.
Também participaram o secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, Antonio Güntzel, e o coordenador técnico do Dieese, Ricardo Franzoi, além de dirigentes da Força Sindical, Intersindical, Pública Central do Servidor, CSP-Conlutas e Federação dos Trabalhadores Assalariados Rurais (Fetar-RS).
Uma nova mesa de diálogo ficou marcada para o próximo dia 13 de abril, às 10h, outra vez na sala da presidência da Assembleia.