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Presidente da CSI defende taxação das transações financeiras

João Felicio: “combate à evasão fiscal das transnacionais para financiar transição justa"

Publicado: 22 Setembro, 2015 - 16h31 | Última modificação: 23 Setembro, 2015 - 22h27

Escrito por: Leonardo Wexell Severo

CSI
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João Felicio na Cúpula Sindical sobre o Clima, em Paris

Nesta entrevista, o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felicio, faz uma avaliação da Cúpula Sindical sobre o Clima, realizada nos dias 14 e 15 de setembro em Paris. Dirigente da executiva da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felicio sublinha “a importância de que o debate sobre as mudanças climáticas deixem de ser secundarizados”, reitera a “relevância da defesa da democracia, ameaçada pela aliança das corporações transnacionais com as elites golpistas nacionais”, denuncia a “reponsabilidade das grandes potências no drama dos refugiados” e defende “a necessidade das taxação das transações financeiras e do combate à evasão fiscal das transnacionais como fontes para uma transição justa”. Na cerimônia de encerramento, o presidente da CSI enfatizou que “a transição de um modelo poluente para um de baixa emissão de carbono não pode ser feita à custa dos trabalhadores, nem dos países mais pobres. Ela precisa também ser feita com transferência de tecnologia e sem gerar novos endividamentos”.

Os cerca de 250  sindicalistas e especialistas de todo o mundo presentes à Cúpula reiteraram que “não existirão empregos em um planeta morto” e propuseram que empresas e governos deem maior atenção à questão. Ao final do evento foi entregue ao ministro de Assuntos Exteriores da França e presidente das negociações da ONU sobre o clima, a COP21, Laurent Fabius, propostas para alcançar um acordo na próxima Cúpula Mundial que leve em consideração os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.

O início da sua intervenção na Cúpula Sindical sobre o Clima esteve bem focado na relação da CSI com a base. Qual a sua avaliação do processo em curso?

Creio que eventos como este contribuem enormemente para uma maior aproximação, para uma relação mais eficaz, entre a CSI e seus mais de 180 milhões de filados em 161 países. Acredito que seria um passo importantíssimo reproduzirmos debates que dialogam sobre a nossa concepção de transição justa e desenvolvimento sustentável, porque é preciso combinar os interesses imediatos da classe trabalhadora com os históricos. Não podemos permitir um desenvolvimento a qualquer custo, precisamos pensar no agora, com a garantia de reivindicações salariais, trabalho decente e o direito a uma vida digna, com o futuro das novas gerações. Para isso agimos para fortalecer a ação sindical, para redistribuir a riqueza injustamente concentrada, lembrando que são as grandes empresas as principais poluidoras.

Daí a ênfase na importância da articulação com os movimentos sociais?

A aliança com os movimentos sociais é chave para aumentarmos a pressão política em defesa das nossas pautas comuns. O Fórum Social Mundial é uma experiência que aponta o êxito desta compreensão e desta prática, já que incorpora a contribuição de distintas visões para alcançar objetivos maiores, como é a defesa da natureza, do homem e do seu habitat. Nesse sentido foi importante a CSI convidar movimentos ambientais como o Greenpeace e o WWF para um diálogo nesse fórum.

E o papel das multinacionais nisso tudo?

Há muitos casos em que a aliança das multinacionais com setores ultrarreacionários tem derrubado ou enfraquecido governos do campo democrático e popular. Os séculos 20 e 21 estão cheios de exemplos deste tipo, em que empresas estrangeiras fornecem recursos para parlamentares retirarem direitos dos trabalhadores e ampliarem suas margens de lucro. Por isso, particularmente nos países da América Latina e da África, a luta pela consolidação dos espaços democráticos é tão importante para a agenda sindical.

Falar de futuro é falar de paz...

Foram exigências absurdas impostas pelo Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional e outras organizações financeiras que esvaziaram os cofres de muitos países, ampliando a fome, o desemprego e a insegurança. Também é de responsabilidade das grandes potências o que têm ocorrido no mundo árabe. Foram os Estados Unidos e alguns países europeus que, à margem da ONU, jogaram bombas e colocaram tropas para derrubar e substituir governos, sempre de olho nas suas riquezas energéticas. Tais práticas estimularam conflitos étnicos e potencializaram guerras religiosas para garantir espaço geopolítico e alavancar os lucros da indústria de armamentos, o que é inaceitável. A política de terrorismo de Estado aplicada contra países e povos soberanos possibilitou o surgimento e fortalecimento desses grupos terroristas, muitos deles financiados e armados no passado pelas mesmas superpotências que hoje os demonizam. Agora, o alastramento da violência, da fome e da miséria está provocando uma onda de refugiados, que precisamos responder ampliando a solidariedade. São abomináveis ações como a do governo húngaro, que ordena que seu Exército abra fogo contra seres humanos indefesos, no momento em que mais necessitam de ajuda.

Quais medidas devem ser adotadas para viabilizar a transição justa?

A transição de um modelo poluente para um de baixa emissão de carbono não pode ser feita à custa dos trabalhadores, nem dos países mais pobres. Ela também precisa ser feita com transferência de tecnologia e sem gerar novos endividamentos. Por isso defendemos a necessidade da taxação das transações financeiras e do combate à evasão fiscal das transnacionais como fontes para uma transição justa. A taxação das grandes fortunas e o combate efetivo à sonegação, ao desvio da montanha de dinheiro para os paraísos fiscais, é chave para enfrentarmos o problema. Para darmos estes passos é necessário mobilização social e pressão. Mais do que nunca, portanto, precisamos estar unidos, conscientes e fortes. Porque o novo vai surgir da nossa ação.