Escrito por: CUT-DF
Além de criar uma comissão organizadora, o grupo definiu algumas ações para o próximo período
Em reunião realizada nesta quarta (23), na sede da CUT Brasília, as/os entregadoras/es por aplicativo deram um importante passo para a mobilização por melhores condições de trabalho e garantia de direitos trabalhistas. Além de criar uma comissão organizadora, o grupo definiu algumas ações para o próximo período.
O encontro contou com a presença da deputada federal Erika Kokay (PT-DF) e de representantes dos deputados distritais Arlete Sampaio (PT-DF), Chico Vigilante (PT-DF), Fábio Félix (Psol) e da senadora Leila Barros (PSB).
Entre as ações deliberadas na atividade, nos próximos dias, será realizada, no Congresso Nacional, uma audiência pública. A atividade será organizada pelos gabinetes das parlamentares Erika Kokay e Leila Barros. A ideia é que, na audiência, sejam apresentadas as principais reivindicações da categoria e, a partir daí, elaborados instrumentos legais que resguardem e protejam as/os entregadoras/es.
“Precisamos discutir esse tema o quanto antes, pois estamos lidando com uma relação de exploração e precarização das relações de trabalho. É uma farsa. As plataformas passam a ideia de que o entregador é dono do próprio negócio sem ao menos ter um negócio”, avaliou Kokay.
Outra a ação importante, também encabeçada por Kokay, é um encontro com o secretário do Governo DF, nesta quinta (24/10), às 17h, para discutir um espaço de acolhimento para os trabalhadores. Isso porque as plataformas não oferecem um local para que o grupo descanse enquanto aguarda os pedidos de entrega. A plataforma Ifood, por exemplo, sequer tem espaço físico na capital federal.
A ideia é realizar também um encontro com o secretário de Mobilidade do DF para assegurar o retorno dos entregadores para casa. De acordo com o grupo, a maioria dos entregadores que faz entrega no Plano Piloto mora na periferia. O grande problema é que muitos deles trabalham até a madrugada e, na hora de voltar, os motoristas dos ônibus se recusam a transportar as bicicletas. Sem opção, alguns chegam a dormir no metrô.
Já na Câmara Legislativa do DF, pretende-se realizar audiências públicas, e elaborar projetos que resguardem os entregadores em nível local, como, por exemplo, a cobrança de impostos das plataformas e seu investimento em políticas públicas para a categoria.
Para o secretário de Políticas Sociais da CUT Brasília, Yuri Soares, o encontro foi fundamental para dar início às mobilizações por melhorias. O dirigente lembrou que a atividade é uma realidade do atual modelo de sociedade e que veio para ficar. Entretanto, ele destacou que é necessário que haja luta para que direitos sejam assegurados.
“É importante lembrar que, no passado, outras categorias também não tinham direitos e nem proteção. Para que conseguissem, foi necessário unidade e muita mobilização. E o que estamos fazendo aqui hoje é uma passo inicial”, disse.
Insegurança
Um dos principais obstáculos para quem trabalha como entregador por aplicativo é a falta de segurança e de proteção por parte das plataformas. Segundo as/os entregadoras/es, as plataformas não oferecem qualquer suporte em caso de agressão ou acidentes de trabalho.
Recentemente, o entregador Caio Luan, morador por Riacho Fundo II, passou uma situação bastante embaraçosa. Ao realizar uma entrega em um prédio em Águas Claras, Caio ficou com a mochila presa na porta. Educadamente, pediu ao porteiro que o ajudasse a se desprender, mas foi em vão. Teve que soltar sozinho. Ao conseguir fazê-lo, seguiu para o estacionamento, onde havia deixado a bicicleta. Entretanto, o porteiro o seguiu e, sem motivo algum, o agrediu com socos. “Ele disse que eu estava zombando dele. Mas eu não disse nada. Só pedi que ele me ajudasse a desprender minha mochila”, contou Caio, ainda com marcas da agressão.
Pedro Igor, que trabalha como entregador há seis meses, também passou por uma situação parecida. Por volta do meio dia, enquanto pedalava para fazer uma entrega, Pedro foi seguido por um motorista que apontou uma pistola para ele. “Ele apontou a arma e perguntou se eu queria morrer”, disse.
O caso também ocorreu em Águas Claras. De acordo com o entregador, há relatos de que o mesmo motorista já ameaçou outros trabalhadores. Tanto Caio quanto Pedro fizerem queixa à Polícia, e não receberam nenhum suporte das plataformas.
Reflexo dos avanços tecnológicos e das mudanças no mundo do trabalho, a entrega por aplicativo surgiu como uma opção promissora para pessoas desempregadas. Entretanto, a atividade traz consigo uma rotina exaustiva, carga horária acima da que permite a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e ausência de vínculo trabalhista com as plataformas.