Na Venezuela, presidente da CUT retribui solidariedade dos trabalhadores ao Brasil
Central arrecada e doa 1 tonelada de peças a usina venezuelana que doou 130 mil litros de oxigênio hospitalar a Manaus, onde brasileiros internados com Covid morreram asfixiados
Publicado: 03 Novembro, 2021 - 15h10 | Última modificação: 03 Novembro, 2021 - 15h21
Escrito por: Vanilda Oliveira
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, desembarcou nesta terça-feira (2) na Venezuela, para retribuir a solidariedade dos trabalhadores venezuelanos ao povo brasileiro durante a pandemia. Vai a Sidor, usina em Orinoco, a 320 quilômetros da capital Caracas, que produziu o oxigênio hospitalar doado ao Brasil em janeiro deste ano. Doará uma tonelada de peças compradas com dinheiro arrecadado em campanha realizada pela Central Única dos Trabalhadores.
Sérgio Nobre também terá agenda com lideranças sindicais, políticas e ministros de Estado da Venezuela. Está previsto encontro com o presidente Nicolás Maduro. O secretário de Relações Exteriores da CUT, Antonio Lisboa, e o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, acompanham Sérgio Nobre na agenda, que termina neste sábado (6).
ReproduçãoO presidente nacional da CUT destaca que o principal objetivo “dessa viagem é retribuir a solidariedade dos trabalhadores e trabalhadoras venezuelanos”. “Entregaremos o resultado da campanha, que arrecadou fundos e comprou uma tonelada de equipamentos para a manutenção da usina de oxigênio hospitalar, hoje precarizada e sob o risco de parar por força do embargo econômico internacional contra Venezuela”, explica.
“Foram quatro meses de campanha. Agradeço a todos os sindicatos de base, às nossas estaduais, aos companheiros e companheiras da nossa Executiva que contribuíram com essa importante ação solidária e humanitária”, disse Sérgio Nobre (veja o vídeo de agradecimento abaixo).
Para o presidente nacional da CUT, “a campanha e a doação dos insumos à Venezuela é oportunidade também de denunciar à América Latina, mais uma vez, esse irresponsável bloqueio econômico sofrido pelo país e também a incompetência criminosa do governo brasileiro na condução do país nesta pandemia”.
Na manhã desta quarta-feira (3), Sérgio Nobre e comitiva foram recebidos por Alberto Castelar, embaixador da Venezuela no Brasil; Rander Peña, vice-ministro para América Latina da Chanceleria venezuelana, e Carlos Ron, vice-ministro e presidente do Instituto Simon Bolívar.
Campanha
Em 29 de junho de 2021, a CUT lançou a campanha de arrecadação de fundos, durante uma live com Sérgio Nobre e ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza. Segundo o chanceler, a doação de oxigênio ao Brasil “foi um gesto que partiu principalmente dos trabalhadores da usina”.
“Sempre tivemos relação solidária com os sindicatos, os problemas da classe trabalhadora são parecidos em boa parte do mundo, principalmente nos países da América Latina”, disse o presidente nacional da CUT, que em dezembro de 2020 visitou a Bolívia e se reuniu com dirigentes sindicais locais e o presidente Luís Arce.
A CUT, complementa Sérgio Nobre, tem tomado iniciativas para ampliar a aproximação com o movimento sindical da América Latina, diante do distanciamento que o governo brasileiro tem imposto à maioria dos países da Região, incluindo o sindicalismo e demais movimentos progressistas. “A luta sindical e popular, cada vez mais globalizada, exige ainda mais unidade e integração internacional”, afirma o dirigente.
O secretario Antonio Lisboa também destaca a importância da ação solidária da CUT, e ressalta que as plantas de produção de oxigênio ao sul da Venezuela sofrem “com esse absurdo embargo internacional. “E apesar de todo tipo de dificuldade para conseguir peças de reposição, o país doou e ofereceu mais oxigênio”, afirma Lisboa.
Falta de ar
Em janeiro, a Venezuela enviou 130 mil litros de oxigênio ao Brasil, transportados por oito caminhões do país, cuja frota também sofre com a falta de peças de reposição e manutenção por força do embargo internacional, puxado pelos EUA. Além de doar oxigênio, a Venezuela reuniu 107 médicos venezuelanos e brasileiros, formados pela Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, para auxiliar na linha de frente do combate à pandemia na Região Amazônica.
O descaso do governo brasileiro com o ato de solidariedade da Venezuela à época chegou até a CPI da Covid, quando o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi questionado sobre as razões de não ter enviado pelo menos, aviões brasileiros para buscar o oxigênio em território venezuelano.
A Venezuela tem 31 milhões de habitantes, 407 mil casos de Covid-19, com 4,9 mil mortes (dados oficiais de 02/11/2021), número inferior ao do Estado do Amazonas, que até ontem registrava 13,7 mil mortes por Coronavírus e 427 mil casos (204 mil só em de Manaus). O governador de Manaus, Wilson a Lima (PSC), foi indiciado pela CPI da Covid.
EUA sufoca
Com uma população similar à do Mato Grosso, a Venezuela tem a maior reserva petrolífera do mundo. Segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a nação é responsável por 24,9% da reserva de países membros (que representam 82% do total global), seguido por Arábia Saudita (21,9%) e Irã (12,8%). São 303,2 bilhões de barris de reserva, o que explica o motivo de tanto interesse interesse e embargos internacionais a esse país de 916 mil quilômetros quadrados.
A Venezuela importa 70% do que consome, enfrenta mais de 150 sanções. Sessenta e duas delas por parte dos EUA; nove da União Europeia; cinco do Canadá e outras cinco do Reino Unido. Desde 2015.
“Comprar uma máscara para Venezuela sai três vezes mais caro do que para o Brasil, Colômbia, para qualquer pais. E o mesmo vale para compra de ventiladores, medicamentos, e assim por diante”, diz o chanceler Arreaza, ao apontar que os embargos reduziram a renda do país vizinho em 90%.
As sanções reduziram a produção de petróleo venezuelano em 60%, porque o país depende de peças e componentes tecnológicos importados de outras nações para a produção e o refino do óleo.
O prejuízo dos venezuelanos por conta do embargo econômico é de US$ 30 bilhões por ano, segundo o governo, impondo sofrimento e desabastecimento à classe trabalhadora e a todo povo da Venezuela.
Em 26 de março deste ano, a Venezuela protocolou denúncia na OMC (Organização Mundial do Comércio) contra os EUA pelo bloqueio econômico, conforme anunciou o ministro Arreaza nas suas redes sociais, à época. No documento o chanceler denuncia e confirma que o embargo gera prejuízo anual de US$ 30 bilhões e levou o PIB a queda de 60%. A Venezuela também já apresentou denúncia contra Washington na Corte Penal Internacional, na qual sustenta que o bloqueio é crime de lesa-humanidade.