Conferência no Salão de Atos da UFGRS sublinhou importância da solidariedade internacional para o fim do apartheid de IsraelO representante do presidente Mahmoud Abbas no Fórum Social Mundial Palestina Livre, Nabil Shaat, abriu na manhã desta quinta-feira (29) a Conferência Direito Internacional, Direitos Humanos e julgamento de crimes de guerra com um agradecimento especial à “energia solidária e vibrante” emanada dos milhares de militantes dos cerca de 40 países presentes em Porto Alegre. “Neste exato momento em que estamos reunidos, o presidente Abbas está falando na ONU em defesa do reconhecimento do Estado Palestino, em defesa do nosso direito à auto-determinação, à igualdade, à liberdade e à independência”, lembrou Nabil Shaat, que é ex-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e atual comissário de Relações Internacionais do Fatah, o partido de Yasser Arafat. A conquista do Estado palestino, frisou, é resultado de “muitos sacrifícios, de muito sangue palestino derramado, mas também da solidariedade internacional”. O apoio dos povos e dos governos do mundo, salientou o dirigente palestino, tem papel estratégico para que as leis e convenções internacionais, constantemente violadas pelo Estado de Israel, sejam respeitadas. “Precisamos de mecanismos para a que lei internacional seja viva, implementada, sem o que não haverá nem liberdade nem paz na Palestina”, disse Shaat, recordando que o atual momento histórico é muito semelhante ao vivido pelos negros sul-africanos quando dos estertores do sistema de segregação racial. “É muito parecido com o que viveu Mandela antes de acabar com o apartheid”, relatou, apontando para os mesmos obstáculos criados pelos governos dos Estados Unidos, que historicamente deram sustentação ao sionismo. “Em 1980 tínhamos seis mil ocupantes, hoje temos 650 mil colonos explorando ilegalmente as nossas terras, retirando a nossa água, com um consumo per capita oito vezes superior ao dos palestinos. Então não é só a nossa identidade que está sendo roubada, é a nossa terra, a nossa água. Não podemos usar nem mesmo as estradas, e ainda temos de ver os israelenses utilizando as mesmas casas das quais nos retiraram. Isso é um verdadeiro estupro. E neste momento, quando vamos aos tribunais internacionais para falar sobre os crimes praticados contra nosso povo, tentam fazer com que nós, que somos vítimas, calemos. O estuprador se converte em acusador para que a vítima seja punida”, condenou o líder palestino.
LULA NEGOCIADOR Destacando o papel relevante do Brasil na conjuntura internacional e, particularmente, reconhecendo a capacidade de interlocução e de liderança do presidente Lula, Shaat indicou seu nome como uma excelente opção para tomar a frente das negociações rumo à efetivação do Estado palestino. “Nós palestinos temos uma doença crônica que se chama esperança. Arafat dizia que somos uma montanha que não há vento no mundo que a sacuda. Com a nossa luta e o apoio de vocês vamos fazer do mundo um local de liberdade e de esperança. Viva a Palestina! Viva o Brasil! Viva o Fórum Social Mundial”, enfatizou. O ex-embaixador Arnaldo Carrilho falou sobre sua extensa experiência na região, onde presenciou, enquanto diplomata, inúmeros crimes e assassinatos praticados pelos ocupantes sionistas contra a população que a milhares de anos vive na região. “Não considero a Palestina uma questão nacional, é uma questão mundial. É algo que deve nos envolver a todos, pois o que está em jogo é a causa da justiça e da liberdade”, ressaltou. Autor do livro “O apartheid de Israel” e editor de Internacional do jornal Hora do Povo, Nathaniel Braia frisou que “a construção do Estado palestino é hoje a causa da Humanidade, assim como a seu tempo foi a luta contra o nazi-fascismo e a derrota do apartheid na África do Sul”. Agora, a partir do reconhecimento da ONU, destacou Braia, “Israel não estará ocupando um território, mas um país soberano, e terá de responder por tanta ignomínia, calamidade e desumanidade”. Por isso, defendeu, o momento é de ampliar os laços de solidariedade, de não calar diante do assassinato das crianças palestinas, de garantir o direito inalienável à soberania, de redobrar as ações para a construção e efetivação do Estado palestino. A advogada Sahar Francis, da Associação de Apoio à Causa Palestina Addameer, citou uma extensa lista de crimes de guerra praticados por Israel e exortou a solidariedade aos prisioneiros palestinos em greve de fome, “tratados como terroristas por lutarem pela liberdade”. “Eles estão sacrificando a sua vida na luta contra a opressão, contra o imperialismo, contra as grandes potências que violam cotidianamente os direitos humanos dos nossos países e povos”, acrescentou. Conforme Francis, muitos dos milhares de presos não conseguem receber visitas há vários anos, encontrando-se em condições lastimáveis e desumanas. Para a canadense Charlote Kades, da Associação Democrática de Advogados Internacionais, além da punição aos militares israelenses, é também necessário involucrar as autoridades dos Estados Unidos, que precisam ser punidas pelos crimes de guerra e pelas constantes violações que vêm sendo cometidas contra o povo palestino. “Existe uma lei internacional e é inadmissível que continue sendo sistematicamente violada. Quem apoia com armas e dinheiro crimes como o de apartheid é o que? Nossos tribunais devem responsabilizar os criminosos e estamos recolhendo evidências e testemunhos em Gaza para que os últimos acontecimentos não passem em branco”, disse.