Escrito por: Bruna Provazi

Nações ricas faturam bilhões de dólares com apoio a países em desenvolvimento

Reconstrução do Rio Grande do Sul é tema em disputa

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Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a agenda internacional está voltada para as disputas em torno do financiamento para o combate à crise climática. Em Bonn, na Alemanha, acontece a chamada Pré-Conferência do Clima, um primeiro passo para a definição de como deve ser esse financiamento. Existe a expectativa de que os países ricos cumpram o compromisso de entregar o valor acordado, assim como reduzirem as emissões de carbono. No entanto, é fundamental garantir que os países em desenvolvimento não saiam endividados desse acordo.

Segundo a agência de notícias Reuters, países ricos enviaram financiamento climático para o mundo em desenvolvimento nos últimos anos com taxas de juros ou condições que beneficiaram os credores. Isso significa que nações como Japão, França, Alemanha e EUA estão lucrando bilhões de dólares através de programas destinados a ajudar os países mais pobres a lidar com as mudanças climáticas.

Os países ricos emprestaram pelo menos US$ 18 bilhões a taxas de mercado e exigiram que os beneficiários contratassem empresas de seus próprios países. Além disso, foram identificados US$ 10,6 bilhões em doações que também impunham condições semelhantes. A análise foi feita pela Reuters a partir de dados da ONU e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Isso contradiz o conceito amplamente aceito de que países ricos deveriam compensar os mais pobres pela poluição de longo prazo produzida por eles, a qual é identificada como uma das responsáveis pelas mudanças climáticas.

“Os fundos de financiamento voltados ao meio ambiente não devem ser tratados como negócios, não podemos aceitar que a natureza e os bens comuns sejam tratados como mercadoria”, afirma Daniel Gaio, Secretário de Meio Ambiente da CUT Nacional.

Portanto, para a CUT, os responsáveis pela crise climática e pelas altas emissões de carbono no mundo têm o dever de contribuir para a redução das emissões com políticas concretas e mensuráveis. Países ricos, gestores, empresas e organizações precisam atuar de forma concreta para promover um mundo sustentável.

 

Quem vai lucrar com a crise climática no Brasil?

Diante da tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul, desde o último mês, observamos as disputas em torno da “gestão do desastre”, sobretudo porque 2024 representa um ano eleitoral. Com verbas bilionárias destinadas pelos governos federal e estadual para a crise, é preciso se atentar à condução da reconstrução do estado gaúcho.

Segundo matéria publicada no portal Brasil de Fato, o chamado “capitalismo de desastre” já se manifesta em Porto Alegre, conforme análise de Victor Marchezini, sociólogo e professor do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Esse termo foi cunhado pela jornalista canadense Naomi Klein no livro “A doutrina do choque” para fazer referência a gestores públicos e privados que se utilizam de experiências de choque para emplacarem negócios que, em situações de normalidade, não seriam possíveis.

O Brasil de Fato revela que esse modelo já se faz presente no Rio Grande do Sul, a exemplo da contratação, pelo governo de Eduardo Leite (PSDB), de empresas estadunidenses de consultoria, como Alvarez & Marsal (A&M) e Mckinsey. Isso representaria, para além do benefício a interesses privados, uma imposição da lógica de mercado na reconstrução das cidades, como afirma Marchezini.

“É por isso que estamos atentos a Bonn, mas também ao Rio Grande do Sul. Não podemos permitir que as mesmas empresas e gestores cujo modo de se relacionar com a natureza e meio ambiente causaram a catástrofe sejam os condutores da reconstrução. É preciso garantir que a oferta de recursos do governo federal seja utilizada em prol da população atingida, não para gerar lucro”, afirma Rosalina Amorim, Secretária Nacional de Relação com os Movimentos Sociais da CUT.

Esse é um dos temas que será debatido na 6ª Conferência Nacional das Cidades, prevista para 2025. A Conferência é promovida pelo Ministério das Cidades e pelo Conselho das Cidades e busca retomar a participação social nas políticas públicas de desenvolvimento urbano, habitação, territórios periféricos, mobilidade urbana e saneamento básico.