Escrito por: Luiz Carvalho
Coletivo de Mulheres da CUT ressalta que apenas a volta da presidenta permitirá a continuidade das políticas de gênero; e aponta desafios da paridade dentro da Central
Carmen (à frente) ressaltou que paridade na CUT depende de articulação de mulheres para colocá-la em prática (Foto: Roberto Parizotti)
Durante os dois dias em que o Coletivo Nacional de Mulheres da CUT se reuniu, dois pontos tiveram destaque em todas as discussões: primeiro, a marca do governo golpista de Michel Temer, a retirada de direitos. Segundo, a resposta a isso, o retorno da democracia com a volta da presidenta eleita Dilma Rousseff.
Para as mulheres, outras alternativas serão uma tentativa de driblar as urnas e dar um verniz legal ao enterro das conquistas construídas nos últimos 13 anos, por meio do diálogo com os movimentos sindical e sociais, conforme destaca a secretária de Mulheres da CUT, Juneia Batista.
“Queremos que a Dilma volte, comprometida com a classe trabalhadora e com a agenda das mulheres. Acreditamos que, mesmo tendo dificuldade com o Congresso, será a única forma de dar continuidade às políticas de transferência de renda. Acreditamos que, apesar de todas as dificuldades, teremos a nossa agenda atendida,porque o governo esse governo golpista e interino não representa ninguém além de quem financiou o golpe”, criticou.
Terra arrasada
Em uma das mesas do encontro que terminou nesta quinta-feira (16), a secretária de Mulheres da cidade de São Paulo, Denise Motta Dau, fez um alerta aos setores que acreditam ser possível a retomada das ações progressistas em 2018 com uma vitória nas eleições.
Para ela, acreditar nisso beira a ingenuidade, já que o vencedor, ainda que do campo progressista, encontraria campo arrasado, para começar do zero por Temer, que aposta em cortes tanto em programas universais como o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e o ProUni quanto em espaços específicos como a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
“As políticas afirmativas foram estruturadas durante anos de batalha, inclusive com o parlamento e esses avanços estão nitidamente ameaçados. O principal impacto é na questão conceitual, em especial em áreas mais controladas por setores conversadores e parlamentares mais religiosos, como o aborto legal, já garantido na Constituição e sob ataque de Cunha”, exemplificou.
Além disso, diz Denise, os movimentos, inclusive de mulheres, têm o deve moral de enfrentar um golpe com viés machista.
“Junto com a continuidade das políticas públicas, falamos da valorização das mulheres, levando em conta, obviamente, que foi um golpe e que a presidenta foi tratada de forma muito machista. Com revistas que a apontavam como desequilibrada e adesivos criados com a imagem dela de pernas abertas.”
Para a secretária, o momento é de estreitamento de laços para construção de uma gestão mais ousada. “A presidenta saiu fortalecida, cresceu na crise e recompactou com movimentos sociais. Dialogou e percebeu que não pode contar com a base no Congresso para o diálogo, por isso, é necessário aprofundar a conversa com os movimentos sociais”, pontuou.
Gênero e classe – Ex-secretária de Políticas para as Mulheres Eleonora Menicucci apontou para a importância da oposição ao golpe não aceitar ‘migalhas’ espalhadas com o ar de fiscalização a todos os partidos e segmentos.
“O golpe tem caráter de gênero, de classe e é capitalista, por conta do pré-sal. Se não fizermos essa relação, não entenderemos como chegamos até aqui. Não pensem que cassação de Cunha (Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara) foi uma vitória. Não foi porque já está com três processos, é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) e, após fazer todo o serviço da admissibilidade do impeachment, foi descartado. Os golpistas teriam que dar uma resposta à sociedade para darem continuidade ao golpe. A volta da democracia só com a volta da presidenta Dilma ao poder”, defendeu.
Paridade
As dirigentes sindicais avaliaram durante o encontro que o empoderamento das mulheres não se restringe ao Executivo. Ao contrário, para chegarem lá é necessário que instâncias tradicionalmente machistas, como a CUT, estejam abertas a avanços, como a paridade, aprovada em Congresso da Central, em 2012.
Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, a unidade entre as dirigentes é fundamental para que a equidade nãos seja apenas uma regra no papel.
“Quando aprovamos a paridade, começaram a questionar se estávamos preparadas para isso, porque dividir o poder político significa que alguns homens teriam de sair para outras chegarem. Da aprovação para implementação foram três anos de uma batalha diária, teve até pesquisa para saber se os estados estavam prontos para isso. Não esperamos que os companheiros abram espaços para nós sem pressão ou articulação entre as mulheres, seja em nível nacional, seja nos sindicatos”, disse.
Para apontar o tamanho do desafio, Carmen lembrou que a CUT foi a única central a aprovar o modelo paritário e acredita que o próximo passo é ver a relevância dos cargos que serão ocupados.
“Hoje são só oito presidentas de estudais e temos poucas tesoureiras e secretárias gerais, espaços de maior poder na Central. Temos que lutar para que as companheiras tenham liberação para atuar nos sindicatos, estabelecer um projeto de empoderamento por meio das negociações coletivas. Só vamos fazer política se fomos parte de um processo que vai nos permitir um aprendizado cotidiano”, disse.
Nas redes – Blogueira e assessora da secretaria Nacional de Formação da Central, Maria Frô defende que as trabalhadoras usem as plataformas digitais como ferramenta.
“O movimento sindical precisa entender, conhecer um pouco sobre o funcionamento das redes. Primeiro, a questão técnica, se apropriarem, saberem da importância. Quando se passa a entender o funcionamento das, se passa a usá-las de maneira mais eficiente para ampliar o diálogo, com boa estratégia de comunicação e entendendo como e para quem falam.”
Em ano de disputa eleitoral, defende Juneia, a organização, preparação e articulação são fundamentaispara reverter a baixa representatividade feminina na política.
“Temos apenas 9% das parlamentares no Congresso Nacional, poucas prefeitas e precisamos que organizações, como os sindicatos, entrem na luta para reverter esse quadro. O debate sobre a cultura do estupro e a violência contra a mulher devem ter a devida importância para os governantes que pensam políticas públicas.”