Não é ‘coitadismo’: ações do PT mudaram para melhor a vida de milhões de pessoas
Tereza Campello, ex-ministra Desenvolvimento Social e Combate à Fome diz que Bolsonaro é preconceituoso. “Ele e a família nunca pegaram num cabo de enxada e trabalharam de sol a sol como um nordestino”
Publicado: 26 Outubro, 2018 - 14h13 | Última modificação: 26 Outubro, 2018 - 14h34
Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT
O candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, do PSL, acusou nordestinos, negros, mulheres e gays de se colocarem como vítimas da sociedade para “melhorarem de vida”. Foi um dos mais duros ataques já feitos às políticas públicas implementadas nos governos do PT para combater todos os tipos de preconceitos, injustiça social e a miséria.
“Não tem que ter uma política para isso. Tudo é ‘coitadismo’. Coitado do negro, da mulher, do gay, do nordestino, do piauiense", disse Bolsonaro em entrevista ao SBT na terça-feira (23).
Para ele é apenas uma questão de méritos não de oportunidades iguais para todos. "Logicamente [quem se empenhou] vai ter uma vida mais tranquila de quem não se dedicou".
Bolsonaro tem preconceito com os pobres e nordestinos porque, na visão dele, são pessoas preguiçosas e perdedoras, rebate a ex-ministra Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que acusa: “Quem mama nas tetas do governo é ele e sua família que estão há anos na política e na produziram”, diz referindo-se ao candidato que é deputado há quase 30 anos e colocou três filhos e até uma ex-mulher na política.
“É uma visão preconceituosa. Ele e a família dele nunca pegaram num cabo de enxada e trabalharam de sol a sol como um nordestino”.
“O trabalhador rural, o da construção civil, o pequeno empreendedor, a mulher que costura para fora trabalham muito e querem os filhos estudando. Eles não querem esmola”, disse indignada a ex-ministra.
A fala de Bolsonaro é uma injustiça e crueldade, é um desrespeito ao trabalhador. É um desrespeito à Constituição que garante o direito do cidadão sair da pobreza
Para ela, com discursos equivocados como esse do ‘coitadismo’ e denúncias vazias sobre fraudes no programa Bolsa Família, Bolsonaro, na verdade, está preparando o terreno para tirar o benefício de pelo menos 15 milhões de pessoas.
Ele diz que há fraude em 30% do programa. Esse percentual significa um total de 15 milhões de beneficiários do Bolsa Família, sendo 40% crianças de até 14 anos.
“A população pobre trabalha muito e o Bolsa Família é só um complemento para comprar frutas, verduras, uma alimentação melhor. Ninguém deixa de trabalhar para sobreviver com R$ 180,00 mensais”, afirma Tereza Campello se referindo ao valor mensal médio pago aos beneficiários do programa.
Estudo comprova: PT diminuiu desigualdade
Tereza Campello, que atualmente é pesquisadora convidada da Universidade de Nottingham, Inglaterra, diz que Bolsonaro desconhece o Brasil e os resultados positivos das ações afirmativas durante os 13 anos dos governos Lula e Dilma Rousseff, do PT.
Segundo o estudo “Faces da Desigualdade no Brasil – um olhar sobre os que ficam para trás”, coordenado por ela, os dados evidenciam uma queda na desigualdade de renda de 2002 a 2015 em patamares e com uma qualidade como nunca havia ocorrido na história do Brasil.
Nesse período, a riqueza acumulada no país aumentou e a renda dos mais pobres cresceu mais do que a do restante da população. O processo reverteu uma tendência à concentração de renda que começou a crescer na ditadura militar e ficou estagnada no início do período democrático, a partir de 1985.
Entre os principais motivos para essa transformação social no país, o estudo aponta o aumento real do salário mínimo, a crescente formalização do mercado de trabalho, a incorporação dos mais pobres ao orçamento federal, por meio de políticas de inclusão social e distribuição efetiva de renda, e a promoção de uma política social integrada.
Tereza Campello destaca que foram importantes avanços que impactaram os mais pobres, os negros, as mulheres, os nordestinos e nortistas, os que moram nas periferias, os invisíveis do campo, entre tantos outros brasileiros.
O racismo de Bolsonaro
Já em relação ao ataque aos negros, a ex-ministra lamenta que a desinformação impere e reforce o preconceito. Segundo ela, em 2002 a maior parte dos jovens no ensino médio era branca, sendo que no Brasil, metade dos jovens é negro.
A ministra afirma que, com a melhoria da renda familiar, a partir da Política de Valorização do Salário Mínimo, os jovens negros mais pobres passaram a se alimentar melhor e entrar na escola na idade certa.
“No início do governo Lula apenas 10% dos jovens mais pobres e negros estavam no ensino médio com a idade certa. Hoje, subiu para 40%”, diz a ex-ministra.
“Essa parcela da população só conseguiu isso porque, com a melhora da renda dos pais, os jovens não precisavam trabalhar, tiveram mais oportunidades e uma alimentação melhor”, afirma Tereza Campello, que complementa: “Em 13 anos superamos a desigualdade não porque substituímos os brancos pelos negros. Foi um conjunto de políticas públicas”.
Segundo Campello, até o acesso a água fez a diferença. 38 milhões de negros não tinham acesso a água, e eles perdiam horas na busca pela água.
A ex-ministra diz ainda que entre 2002 e 2015 pais e mães de 12 milhões de famílias negras passaram a ter ensino fundamental completo, em outros 22 milhões de lares foi garantida a chegada de água de qualidade e, em 24 milhões de domicílios foi possível comprar uma geladeira.
De acordo com Campello, nos anos do governo do PT houve um conjunto de decisões políticas nas esferas social e econômica, que visou a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil, que resultou em ampliação da renda e consequentemente, se refletiu em mais direitos, mais acesso e mais consumo.
Para a economista, tudo isso foi resultado direto da política de valorização do salário mínimo, formalização do trabalhador, criação de novos empregos – inclusive os decorrentes de investimentos como habitação popular, equipamentos sociais e política de conteúdo nacional – ampliação do acesso à aposentadoria urbana e rural, benefícios assistenciais e do Bolsa Família. A consequência direta deste processo foi o fortalecimento do mercado interno.
“Hoje, o que vemos é o aumento do desemprego, da informalidade. Mesmo quem trabalha teve a renda piorada. Os mais pobres estão à margem e sem proteção, trabalhando sem direitos, sem proteção do Estado”.