“Não há saída para a crise com Guedes e Bolsonaro”, afirma Requião em live da CUT-RS
Participaram do debate o vice-presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, e a economista, pesquisadora e professora da Universidade de Campinas (Unicamp), Marilane Teixeira
Publicado: 17 Julho, 2020 - 11h14
Escrito por: CUT - RS
“Para colocarmos o Brasil no caminho certo precisamos primeiro tirar o Paulo Guedes do Ministério da Economia e o Bolsonaro da presidência da República. Não há saída da crise em que estamos, se estes dois continuarem no poder”, sentenciou o ex-senador e por três vezes governador do Paraná, Roberto Requião, em live promovida na noite desta quarta-feira (15) pela CUT-RS. O tema era "Saídas para a economia do Brasil na pandemia".
Também participaram o vice-presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, e a economista, pesquisadora e professora da Universidade de Campinas (Unicamp), Marilane Teixeira. A mediação foi do presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci.
Liberalismo econômico faliu no mundo todo
Conforme Requião, a política econômica de Paulo Guedes agrada o mercado e somente por isso ele ainda não foi destituído do cargo. “A situação que vivemos já era terrível antes da Covid-19. De janeiro a março, nós já tínhamos perdido 1,5% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). O coronavírus foi uma espécie de acelerador de incêndios”, avaliou.
“Na crise de hoje, só tirando Guedes do poder. Ele é um mentiroso que quer reproduzir no Brasil um modelo de liberalismo que faliu no mundo todo. Falhou na Alemanha, atrapalha hoje o governo de Angela Merkel e, sobretudo, a Espanha a ter um governo sólido”, disse o ex-senador.
Requião lembrou momentos da história em que o Estado esteve à frente da recuperação de uma grande recessão, como em 1929, quando o presidente norte-americano Franklin Roosevelt investiu recursos financeiros para retirar os EUA da crise.
“Fui governador do Paraná durante a grande crise financeira mundial de 2008 e, na época, eu superei as limitações administrativas e passei a tributar com 0% as microempresas e coloquei as médias empresas em uma máxima de tributação de 2,5%. Assim, um pequeno empresário pagava pouco ICMS, mas em troca pagava um salário decente aos trabalhadores. Pagando um bom salário, é possível fazer magia, como aumentar a arrecadação e estimular o consumo, e foi o que eu fiz e deu certo”, destacou Requião que, na ocasião, também aumentou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas congelou o valor da taxa de energia elétrica para os mais pobres.
“Criei uma tarifa social da energia elétrica paranaense, que mantive congelada por oito anos. Assim quis atrair investimentos da iniciativa privada para o Paraná, garantindo recursos para investimentos na área social do Estado”, salientou. Ele criticou também duramente o sistema financeiro, citando o Papa Francisco e a passagem bíblica de que não é possível servir a Deus e ao dinheiro.
Sobre a corrupção, maior argumento dos opositores dos governos Lula e Dilma, o ex-parlamentar de 79 anos escancarou a verdade sobre a operação Lava-Jato e a chamada República de Curitiba, comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
“Não era um combate à corrupção. Era uma forma de vender o patrimônio brasileiro e fazer com que os EUA conseguissem colocar as mãos no pré-sal, o que já está acontecendo. Vocês acham mesmo que Moro e Dallagnol teriam feito tudo o que fizeram se, em seu primeiro mandato, Lula tivesse entregue o petróleo para os americanos? Claro que não! Se fosse o caso, nem golpe teríamos em 2016”, denunciou.
Sem demanda não há investimento empresarial
Para Marilane, que é gaúcha de Porto Alegre, não há mistério sobre as saídas para a crise política, econômica e sanitária, pois todas as medidas a serem tomadas já foram adotadas no passado recente da economia mundial.
“Do início dos anos 2000 para cá, nós registramos mais de 5 milhões de desalentados, pessoas que simplesmente abandonaram a busca por emprego. Hoje nós temos um quadro desastroso de 27 milhões de pessoas que gostariam de estar trabalhando, mas não estão. Estamos com quase 75 milhões de brasileiros fora da força de trabalho. Pela primeira vez na história, a maioria do povo não está no mercado formal”, lamentou a economista da Unicamp.
Segundo ela, “a equipe de Guedes divulgou novas medidas que devem ser adotadas no próximo período e, para ele, a normalidade será plenamente restabelecida em 2022, o que está completamente fora da realidade, como mostram as ações de austeridade fiscal, que para o ministro, deve ser a porta entrada para o Brasil começar a investir novamente em políticas sociais. Isso é uma falácia. Não há nada na literatura mundial econômica que indique que medidas austeras são capazes de fazer uma economia crescer. Aliás, o que vemos é justamente o contrário”.
“Então, o que realmente temos de fazer é ampliar os gastos sociais, pois só o Estado pode fazer isso. No meio da crise, empresário algum vai investir, pois não há demanda para seus produtos. Só o poder público pode garantir a retomada da economia, seja através da tributação de lucros e dividendos, seja realizando obras públicas que possam gerar postos de trabalho e aquecer o comércio, hoje totalmente paralisado pela pandemia”, avaliou Marilane. Para ela, são iniciativas que podem fazer o Brasil voltar a ser um pais competitivo no mundo.
Bolsonaro mente sobre auxílio emergencial
Ao concordar com todos os presentes sobre o afastamento imediato de Guedes e Bolsonaro, o Vagner frisou que Bolsonaro utiliza a máquina pública para mentir e enganar os seus eleitores.
“Bolsonaro diz que a aprovação do auxílio emergencial de R$ 600 partiu dele e dos parlamentares ligados ao governo. É uma mentira deslavada! A medida só foi aprovada por pressão das centrais sindicais e partidos de oposição ao governo federal. Se dependesse apenas de Bolsonaro e Paulo Guedes, teríamos um benefício de somente R$ 200 e sua concessão já teria sido encerrado, não sendo expandida por mais dois meses, como conseguimos através da luta parlamentar”, disse o vice-presidente nacional da CUT.
Para ele, o auxílio emergencial deveria virar uma medida permanente de renda básica cidadã.
Mas as maldades do governo não param na pandemia. “Guedes já está planejando colocar o regime de capitalização, derrotado no Congresso Nacional, durante a votação da reforma da Previdência, de volta na pauta das duas casas legislativas. A sua ideia é a de condicionar a criação de uma renda básica à aprovação de um regime único de capitalização para a Previdência”, alertou Vagner.
Querem jogar nas costas dos trabalhadores o custo da pandemia
Na avaliação do presidente da CUT-RS, “querem jogar nas costas dos trabalhadores o custo da pandemia, enquanto o mercado financeiro engorda seus lucros em mais de R$ 1 trilhão”.
“O projeto político de Paulo Guedes é o de tornar o Brasil um fazendão, onde não é necessária a mão-de-obra especializada e onde o povo é visto apenas como capital humano. No Brasil dessa turma, como não haverá espaço para todos na nova realidade do mundo do trabalho, não faz mal que centenas morram de Covid-19 e até melhor”, criticou Amarildo.
A transmissão foi simultânea nas páginas da CUT-RS e da CUT Brasil, sendo curtida, comentada e compartilhada por dezenas de dirigentes e entidades sindicais..
Assista à íntegra da live!