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“Não precisa ser lambe-botas”, diz Lula sobre apoio de Bolsonaro aos EUA

Em sua primeira entrevista no ano ao Diário do Centro do Mundo, o ex-presidente falou a respeito da atual crise desencadeada após o ataque dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassem Soleimaini

Publicado: 08 Janeiro, 2020 - 12h33 | Última modificação: 08 Janeiro, 2020 - 12h45

Escrito por: Congresso em Foco

Reprodução
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O ex-presidente Lula criticou a decisão do governo brasileiro de apoiar a investida norte-americana contra o Irã. Ele afirmou que esse posicionamento reflete a "subserviência" do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos e sugeriu que isso pode criar problemas para o Brasil. Por isso, acabou mandando um recado para o atual presidente: "Ô, Bolsonaro, o Brasil não precisa disso. O Brasil não precisa ser lambe-botas de ninguém".

Lula falou sobre a escalada da tensão no Oriente Médio em entrevista transmitida na internet nessa quarta-feira (8) pelo Diário do Centro do Mundo. E cravou, logo no começo da entrevista, que o Brasil não deve se envolver nesse conflito.

"A época não é própria, não é adequada para um país como o Brasil se meter em confusão numa briga externa. O Brasil é um país que não tem contencioso. [...] O papel de um país como o Brasil era não se meter nisso. O Brasil tem superávit comercial com o Irã. Pode ser parceiro do Irã e dos Estados Unidos. O Brasil não tinha cair de joelhos nos pés do presidente Trump e logo concordar que o ataque ao general foi um ataque a um terrorista", disse Lula.

Garantindo que quando era presidente constatou que não havia terrorismo ou armas nucleares no Irã, Lula ainda disse que a decisão dos Estados Unidos de criar esse conflito no Oriente Médio tem fins eleitoreiros. "O Trump sabe que não está fácil a reeleição com a quantidade de coisa que ele faz lá. Ele sabe que pode perder a eleição. Então, uma guerra sempre ajuda muito. É o que ele está provocando", alegou.

Lula concluiu, então, que o posicionamento adotado pelo governo brasileiro depois da morte do general Qasem Soleimani de apoiar o "combate ao terrorismo" reflete a "subserviência" do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos.

"Bolsonaro não tem medido esforços para provar que é lambe-botas dos Estados Unidos. Já bateu continência para a bandeira americana, ficou orgulhoso de um encontro de 17 segundos que teve com o Trump, tem orgulho de o filho dele ser amigo daquele cidadão americano que orientou aquele tal de Guaidó se autoprocolamar presidente da República. O que fico triste é que os americanos criam essa situação melancólica, triste e patética e o governo Bolsonaro vai atrás tentando mostrar que tudo de errado é a Venezuela", declarou o ex-presidente, dizendo ainda que essa subserviência é grave e vai na contramão do discurso de soberania de Bolsonaro. "Acho que é a incompetência de não saber o orgulho de não saber o orgulho que dá ser presidente de um país soberano. [...] O cidadão tem que ser altivo", alfinetou.

O ex-presidente ainda mandou mais um recado para o atual mandatário brasileiro: "Ô, Bolsonaro, o Brasil não precisa disso, não precisa ser lambe-botas de ninguém, não tem que falar duro com a Bolívia e manso com os Estados Unidos. Tem que ser respeitado pela Bolívia e pelos Estados Unidos, pela China e pelo Uruguai, pelo Paraguai e pela Rússia. É assim que se constrói um país soberano, capaz de ser agregador e não desagregador como vocês estão construindo".

Por fim, Lula disse que essa posição de Bolsonaro rompe a tradição diplomática de o Brasil ser um país agregador e voltado ao diálogo. E afirmou que isso pode trazer prejuízos para as relações exteriores do país. "Por que o Brasil tinha que se meter nisso? Por que o Brasil não se dispõe a ajudar, conversar e construir alguma coisa mais útil para o povo brasileiro na sua relação internacional? [...] Ser lambe-botas não faz bem a ninguém", questionou o ex-presidente.