Escrito por: Redação RBA

‘Não tem justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%’, diz Lula no BNDES

“Parem de mentir em relação ao BNDES”, afirmou presidente na posse de Aloizio Mercadante na presidência do banco de fomento

Reprodução/TV Brasil

Em discurso proferido na cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES, nesta segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a taxa de juros imposta pelo Banco Central. “Um dos maiores empresários brasileiros, Antônio Ermírio de Moraes, levantava e ia dormir fazendo críticas à taxa de juros”, disse, citando também seu vice nos primeiros mandatos, José Alencar, que não passava “uma reunião” sem reclamar dos juros.

“O problema não é Banco Central independente ou ligado ao governo, é que o Brasil tem uma cultura de juros altos que não combina com a necessidade de crescimento. Por que acabar com a TJLP pra não ter financiamento de longo prazo?”, questionou. “Não tem nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%, é uma vergonha o aumento e a explicação que deram para a sociedade”, continuou Lula.

“Tem gente que fala que o presidente não pode falar isso. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem eu vou querer que fale por mim?” Segundo Lula, a economia precisa voltar a crescer e “só tem dois jeitos” que possibilitam isso: “a iniciativa privada fazer investimento, e só faz se tiver demanda, ou o Estado incentivar a fazer.”

Além da taxa de juros, Lula falou sobre os ataques às sedes do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Para Lula, os atos golpistas foram uma “revolta dos ricos que perderam as eleições”.

Mentiras contra o banco

O presidente afirmou que o banco foi vítima de difamação e incontáveis mentiras de bolsonaristas nos últimos anos e no processo eleitoral. Uma delas dizia que o BNDES era uma “caixa preta”. “De tanto martelarem isso, o banco teve que gastar 48 milhões (de reais) em auditoria internacional” em 2020, sem nada encontrar, frisou.

Outras inverdades citadas por ele davam conta de que o banco “dava” dinheiro para outros países (como Cuba e Venezuela) e “privilegiou meia dúzia de empresas”. Na verdade, disse Lula, a instituição financiou projetos de engenharia na América Latina e Caribe de empresas brasileiras entre 1998 e 2017. Segundo ele, de R$ 10,5 bilhões financiados, o BNDES recebeu de volta R$ 12,8 bilhões (considerando atualizações).

Os empréstimos, acrescentou, deram lucros e criaram empregos. Se Cuba e Venezuela não pagaram, afirmou, é porque o governo de Jair Bolsonaro (PL) cortou relação com esses países. Para Lula, com o novo governo as duas nações vão pagar a dívida que têm com o Brasil. “Parem de mentir em relação ao BNDES”, protestou o petista.

Ele enfatizou ainda que “a palavra responsabilidade fiscal é muito importante, mas responsabilidade social é mais importante ainda”, e é preciso “decidir pra que lado a balança vai pender em determinados momentos”. “Se temos dívida fiscal de 40 anos, temos uma dívida social de 100, 200 anos, impagável se a gente não colocar como prioridade.”

BNDES do futuro

Em um longo discurso, Mercadante declarou que a nova gestão do banco de fomento não quer “debater o BNDES do passado, mas construir o BNDES do futuro, que será verde, inclusivo, tecnológico, digital e industrializante”. Segundo ele, o governo não tem a intenção de retornar a um padrão de subsídios como no passado, mas que o país tenha uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para as micro, pequenas e médias empresas.

“Não pretendemos disputar (com o BNDES) mercado com sistema o financeiro privado, queremos entrar na Febraban”, pontuou, lembrando que o Banco de Brasil e a Caixa já fazem parte da federação. De acordo com ele, disputar mercado com o sistema “não é papel do BNDES”, que deve construir parcerias com o sistema.

Meio ambiente

De acordo com ele, a instituição deve ter papel ativo num contexto histórico que está “perto de uma catástrofe ambiental sem retorno”. Salientou a necessidade de se investir em desenvolvimento sustentável. “Precisamos enterrar o obtuso negacionismo ambiental e climático e apoiar a transição para uma economia de baixo carbono e empregos verdes de baixa emissão. Não haverá futuro se não preservarmos a Amazônia e outros biomas.”

Para Mercadante, a liderança de Lula no cenário internacional “reposicionou” no Brasil “e abriu uma janela de oportunidades para explorarmos a nova configuração geopolítica planetária, (tirando o país) da condição de pária do governo anterior”.

O novo Conselho de Administração do BNDES será presidido por Rafael Luchesi, diretor do Senai. Também estarão no colegiado o cientista Carlos Nobre e Isabella Teixeira, “expoentes da questão ambiental e climática”, além do sociólogo Clemente Ganz Lúcio e o ex-chanceler Celso Amorim. A nova gestão, acrescentou, está criando uma comissão de estudos estratégicos, que será coordenada pelo economista André Lara Resende.