Escrito por: Tatiana Melim

Não tem um indicador positivo na economia brasileira

“Não adianta governo e imprensa tentarem fazer malabarismos com os números para passar uma falsa sensação de melhora da economia se o povo sente no bolso que tudo piorou”, diz presidente da CUT

Alex Capuano/CUT

A economia brasileira ainda está muito longe da retomada anunciada pelo golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e alardeada pelos grandes veículos de comunicação. Eles deram sustentação ao golpe de 2016 e agora tentam manter de pé este governo, mesmo diante da piora na qualidade de vida do brasileiro.

O boletim de conjuntura do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de maio deste ano mostra que “não há nenhum indicador econômico que aponte para algo positivo. As baixas taxas inflacionárias, longe de representar o sucesso da política econômica, significam o fracasso da retomada do crescimento”.

Ainda de acordo com o boletim, a taxa de inflação inferior à meta estipulada pelo governo é consequência direta de uma das mais drásticas depressões da história do país, que fez com que o PIB acumulasse uma queda de quase 7% entre 2015 e 2016. Além do pífio crescimento de 1% em 2017, a perspectiva é de que a economia continue estagnada este ano.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, não adianta o governo e a imprensa tentarem fazer malabarismos com os números para passar uma falsa sensação de melhora da economia se o povo sente no bolso que tudo piorou.

“Para a CUT, os melhores indicadores econômicos são a satisfação e qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras. E a realidade é que o nível de satisfação do povo piora a cada semestre, com o aumento crescente do desemprego e queda da renda e consumo das famílias brasileiras, que agora precisam fazer bico para sobreviver.”

“De nada vai adiantar o governo falar que melhorou se o trabalhador não arruma emprego ou quando arruma é de baixa qualidade, informal ou o famoso bico para se virar até o final do mês”, critica Vagner, lembrando que hoje, no Brasil, há 13,7 milhões de desempregados, 10,8 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e outros 23,1 milhões que trabalham por conta própria e dependem do aquecimento da economia para sobreviver.

A técnica da subseção do Dieese da CUT, Adriana Marcolino, fez uma analogia para explicar o vai e vem da economia brasileira que não sai do lugar. Segundo ela, “é como se a gente tivesse chegado ao fundo do poço, ficasse dando saltos para subir mas, como não tem uma escada, só resta cair novamente”.

A escada, no caso, seria uma política econômica sólida, com pesados investimentos públicos, geração de emprego e renda e acesso ao crédito facilitado, diz Adriana.

Ela explica que, apesar da taxa de juros Selic ter caído, a taxa de juros real (Selic menos inflação) ainda é muito alta, além das exorbitantes taxas de juros para crédito de pessoa física oferecidas pelos bancos, que continuam registrando lucros recordes –  Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil tiveram lucro de R$ 17,406 bilhões entre janeiro e março.

"E, ao contrário do que ocorreu no governo Lula, Temer não está usando os bancos públicos para forçar a queda dessas taxas dos bancos", ressalta.

Baixos investimentos, aumento do déficit e a regra de ouro

“O que justifica a estagnação do PIB depois de dois anos de governo do golpista Temer? Como é que eles justificam que a dívida pulou de 39% do PIB em 2016 para 52% do PIB agora?”, questionou o ex-presidente Lula em uma das cartas que encaminhou à militância que o acompanha desde o dia 7 de abril nas proximidades da sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, onde vem sendo mantido como preso político.

É possível encontrar respostas aos questionamentos de Lula, sempre atento aos números e à qualidade de vida do povo brasileiro, na análise feita pelo Dieese.

“Não há como sair da estagnação econômica crônica adotando um padrão típico de economia dependente, como vem fazendo o governo. A longa permanência dos investimentos em baixo patamar sintetiza a dificuldade do Brasil para crescer de modo sustentado”, diz trecho da análise de conjuntura feita pelo Dieese.

O técnico da subseção do Dieese da CUT, Leandro Horie, destaca, ainda, que nem mesmo a PEC 95 (Teto dos Gastos), que congelou os gastos com saúde, educação, benefícios previdenciários e investimentos públicos, conseguiu gerar superávit para o governo.

“A recessão está destruindo as contas públicas porque está destruindo a arrecadação, o que pode colocar em risco a chamada regra de ouro da Constituição, que é um mecanismo de política fiscal para barrar desequilíbrios orçamentários”, alerta.

Prevista na Constituição, esse dispositivo proíbe o governo de se financiar - ou seja, emitir dívidas - para bancar despesas correntes, que é o custeio de manutenção das atividades dos órgãos da administração pública. Quando há déficits sucessivos nas contas do governo federal, o presidente da República e os ministros das áreas econômicas incorrem em crime de responsabilidade fiscal.

Diferente da desculpa que inventaram para dar um golpe de Estado e tirar do governo uma presidenta democraticamente eleita por mais de 54 milhões de votos, o crime de responsabilidade contra o povo brasileiro é o que Temer e seus aliados golpistas estão fazendo, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas.

“Tanto é que, para impedir que Temer seja responsabilizado criminalmente, o governo começou a costurar no início deste ano uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para flexibilizar a chamada ‘regra de ouro’”, lembra Vagner. 

Acordos coletivos

O presidente da CUT lamenta a queda no número de convenções coletivas registradas nos primeiros meses deste ano, conforme dados do boletim de maio do Dieese. Segundo ele, essa é outra consequência nefasta da reforma trabalhista que aumentou a informalidade e tirou vários direitos da classe trabalhadora.

Segundo levantamento do Dieese, 2.802 acordos foram registrados no primeiro semestre deste ano - 29% a menos do que no mesmo período de 2017. Entre 2012 e 2017, a média dos instrumentos coletivos de trabalho foi de 3,8 mil.

“Como é possível falar em melhora da economia quando os trabalhadores e trabalhadoras assistem diariamente conquistas sendo roubadas?”, questiona Vagner.

“A nova lei trabalhista deixou o trabalhador mais ainda na mão do patrão”, diz o dirigente, lembrando que, “nos governos de Lula e Dilma foram gerados 20 milhões de postos de trabalho com carteira assinada sem que para isso fosse necessário mexer na CLT”.

“Além disso”, ressalta Vagner, “nos governos de Lula e Dilma as categorias conseguiam negociar, além da inflação, aumento real de salário. Isso sem falar na política de valorização do salário mínimo, que subiu por 11 anos consecutivos e agora teve essa política interrompida pelo golpista Temer”.

- Confira a íntegra do boletim de conjuntura do Dieese (maio 2018)