New York Times: Lula é preso político e deve ser libertado
Os ministros do STF precisam ter mais humildade em admitir que a perseguição a Lula foi um erro, diz o jornalista Bruno Bimbi, em artigo publicado nesta terça-feira (25) no New York Times
Publicado: 25 Junho, 2019 - 18h24
Escrito por: Redação CUT
Em artigo publicado no The New York Times nesta terça-feira (25), o jornalista Bruno Bimbi, que foi correspondente no Brasil por quase uma década e é autor dos livros "Casamento igualitário" e "O fim do armário", afirmou que o ex-presidente Lula é preso político no Brasil.
Segundo o artigo, os diálogos publicados pelo The Intercept Brasil mostram que o ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL), foi ao mesmo tempo juiz e promotor. “Ele deu instruções para [Deltan] Dallagnol [chefa da força tarefa da Operação Lava Jato do Paraná], passou-lhe informações e até discutiu com ele como influenciar o STF [Supremo Tribunal Federal] com essas revelações, parece confirmar o que muitos dos que cobriram esse processo, numerosos especialistas em nível internacional e parte do pensamento de cidadania brasileira: Lula da Silva é um prisioneiro político”.
No texto, Bruno conta que uma das coisas que mais o surpreendeu nos anos que foi correspondente no Brasil foi que, “apesar do que me pareceu um preconceito óbvio e alguns mecanismos que apontavam para o abuso de poder, Moro foi tratado como herói”, mas, ressalta, bastava ler o arquivo do caso do tríplex do Guarujá para perceber “a falta de seriedade do processo”.
Ele lembrou, ainda, que “o Código de Processo Penal brasileiro é claro: um juiz é ‘suspeito’ se aconselhar qualquer das partes do processo e, nesse caso, o julgamento deve ser anulado”.
“Por este e outros vícios do processo”, afirma o jornalista, “o STF deve declarar o julgamento nulo e libertar Lula da Silva”.
O jornalista diz também que, apesar da narrativa de Moro ainda ser inquestionável por um amplo setor da sociedade brasileira, para muitos “é uma história de heróis (liderados por Moro) e vilões (uma classe política ambicioso e corrupto, especialmente se eles eram aliados próximos do líder histórico do Partido dos Trabalhadores), em que um homem corajoso desmontar o sistema de corrupção no país”.
Em outro trecho, o jornalista fala sobre a campanha eleitoral, lembra que Lula liderava todas as intenções de voto, “mas, como resultado da convicção de Moro”, ironiza, “ele não poderia ser um candidato”.
E prossegue: “Quando Bolsonaro ganhou, Moro foi nomeado ministro e logo começaram as suspeitas sobre o preconceito”, ou perseguição como dizemos no Brasil.
“Hoje em dia, a história do herói parece estar desmantelada: as conversas vazadas indicam que Bolsonaro havia lhe oferecido o cargo antes das eleições. Moro também recebeu a promessa de chegar ao STF quando havia uma vaga”.
Para o jornalista, a investigação iniciada pelo The Intercept mostrou uma parte do que realmente aconteceu nos anos turbulentos da Lava Jato e ajuda a entender a maneira como o Brasil se tornou uma distopia. “Mas agora, a partir das evidências jornalísticas reveladas nas últimas semanas, o STF tem uma oportunidade inédita e que pode ser decisiva para o futuro do Brasil: começar a colocar as coisas em seu lugar. E, com isso, restaurar a confiança dos brasileiros na democracia: no relatório mais recente do Latinobarómetro, apenas 9% dos respondentes do Brasil estão satisfeitos com a democracia”.
Com base nessas evidências, diz ele, “libertar Lula da Silva, abrindo uma investigação sobre os atos de legalidade duvidosa de Moro e Dallagnol e transferindo a operação Lava Jato para um juiz imparcial seriam os primeiros passos em um longo caminho para recuperar a normalidade democrática brasileira”.
“Só assim”, continua o artigo, “será possível despolitizar a justiça e ser um verdadeiro contrapeso a um governo autoritário que não quer ser questionado”.
O texto segue criticando as notícias falsas que estão sendo divulgadas pelos filhos de Bolsonaro sobre um dos autores relatórios e fundador do The Intercept, Glenn Greenwald, tentando desqualificar o jornalista com comentários homofóbicos.
“O maior tribunal brasileiro não deve cair nessas armadilhas e não deve atrasar muito a discussão sobre o julgamento do ex-presidente. Os magistrados precisam deixar claro que para o Brasil sair da atual crise política e social é preciso mais democracia, mais transparência judicial, mais contrapesos estatais, maior liberdade de expressão (desde que assumiu a presidência, Bolsonaro não parou de atacar a imprensa e, acima de tudo, mais humildade em admitir que a perseguição a Lula da Silva foi um erro. Esse erro não será uma admissão de derrota, mas sim a possibilidade de o Brasil abandonar a distopia”.