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“Nicarágua, a flor mais linda do meu querer”

Livro contará histórias da solidariedade brasileira à revolução sandinista

Publicado: 02 Fevereiro, 2017 - 12h23 | Última modificação: 02 Fevereiro, 2017 - 14h06

Escrito por: Comunicasul

Marco Antonio
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Autor de livros sobre o papel da mídia e a América Latina, o jornalista Leonardo Wexell Severo, assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Confederação Sindical Internacional (CSI), está organizando, junto com o seu irmão Leandro, ex-secretário de Comunicação de São Carlos, o livro “Nicarágua, a flor mais linda do meu querer”. O trabalho, que inclui reportagem fotográfica, relata a história da solidariedade brasileira à revolução sandinista e a luta anti-imperialista. Para Antonio Lisboa, secretário de Relações Internacionais da CUT, “o livro cumpre um papel muito importante neste momento de  desideologização, em que a juventude é levada a acreditar que o bem-estar está vinculado ao mercado e ao consumo, ao crescente individualismo”. “O resgate daquela luta solidária, coletiva, dos jovens da década de 80 ajuda a colocar luz neste complexo contexto do século 21”, ressaltou Lisboa. Abaixo, uma pequena entrevista com Leonardo, que continua coletando material para a obra a ser lançada ainda neste ano.

 

Como surgiu a ideia do livro?

Estivemos dois meses na Nicarágua, no começo de 1987, integrando a Brigada Zumbi dos Palmares, que reuniu militantes de vários partidos e centrais sindicais, para colher café. Muitos jovens nicas - como eram carinhosamente chamados - se deslocavam para a fronteira com Honduras a fim de combater a invasão dos mercenários pagos pelo governo dos Estados Unidos. Por este motivo, nos oferecemos, voluntariamente, para auxiliar na colheita daquele que era o principal produto de exportação do país. Nas montanhas de Matagalpa, na Unidade de Produção Estatal (UPE) La Pintada, convivemos um mês com camponeses nicas, com companheiros da França, da Costa Rica e dos Estados Unidos. Por todo o país centro-americano, éramos milhares de jovens de todo o mundo que nos somamos nesta empreitada. Depois, fomos para a capital, Manágua, onde tivemos a oportunidade de nos reunir com lideranças do processo revolucionário, conhecer operários, camponeses, religiosos, estudantes e intelectuais, e vivenciar o dia a dia das pessoas.

 

Integrantes da Brigada Zumbi dos Palmares (1987). Na foto, Sandra Cabral - a primeira mulher a presidir a CUT-Goiás - e Leonardo SeveroIntegrantes da Brigada Zumbi dos Palmares (1987). Na foto, Sandra Cabral - a primeira mulher a presidir a CUT-Goiás - e Leonardo SeveroPor que tanto ódio do governo dos EUA contra aquele processo de mudança?

O fato é que o imperialismo, que apoiou por décadas o clã sanguinário dos Somoza, que havia reduzido o país a um quintal ianque, nunca se conformou em ter perdido a guerra, na qual investiu bilhões de dólares, para a Frente Sandinista de Libertação Nacional- FSLN. É bastante conhecido todo o complexo jogo de poder que envolveu tráfico de drogas e de armas, como ficou evidenciado no caso Irã-Contras.

 

De onde veio o nome do livro?

“Nicarágua, a flor mais linda do meu querer” pegamos emprestado da belíssima canção de Carlos Mejía Godoy, que até hoje, passados 30 anos, emociona pela intensidade das recordações que carrega. É um termo carinhoso que lembra primavera, beleza, sentimento, esperança. Resgata o significado daquela experiência de afirmação da Pátria Grande com a qual sonharam Bolívar e Sandino.

 

Neste período em que vocês estiveram por lá, o que mais chamou a atenção?

Ali pudemos ver com nossos próprios olhos o resultado da criminosa intervenção estadunidense, a devastação econômica, conhecer filhos que perderam pais e mães, e pais e mães que perderam seus filhos, incorporar a dor de todas as mortes e horrores causados pela covardia dos invasores. Além de reafirmar a importância da luta anti-imperialista, o livro busca resgatar uma das mais belas páginas escritas pelo nosso povo, em particular pela nossa juventude, que se somou de forma desprendida e abnegada em apoio a um processo que serviu de referência para toda uma geração.

 

De que forma a obra dialoga com o Brasil de hoje?

Num momento de intensa desideologização, em que um governo entreguista até a medula utiliza os grandes conglomerados de comunicação para vender sua pauta de privatização e retrocessos, buscando matar os sonhos e enterrar a palavra rebeldia, o livro pretende fazer um relato que grite em cada página, mais do que o verbo lutar, o verbo vencer. Sempre apontando que a unidade, a mobilização e a consciência são o que abre caminho para a vitória.

 

Quem tiver algum material deste período, como fotos e recortes de jornais, pode colaborar com o livro?

Claro. Estamos conversando com vários brigadistas e recolhendo fotos e histórias do período, pois o objetivo é passar a visão mais ampla possível do que foi aquele movimento de solidariedade. Não queremos falar apenas a respeito do que vimos lá, das dificuldades encontradas e superadas. Queremos também mostrar a verdadeira batalha que foi o deslocamento, desde a dificuldade para levantar a grana da viagem. Os dilemas familiares também não foram poucos, pela complexidade da situação, pois, em anos anteriores, brigadistas foram assassinados pelos mercenários a soldo dos EUA. Relataremos também o retorno, os debates, a manipulação da mídia, enfim, toda a riqueza e as contradições de um processo que marcou profundamente as nossas vidas.

 

Contato pelo e-mail leonardowsevero@yahoo.com.br